Mais uma vez o dia não veio me fazer mal,
e é incrível, rever,
sentir essa tão antiga sensação.
É quase novidade,
quase milagre não ter medo de viver.
As coisas nem mudaram muito,
eu continuo escrevendo
repetindo os meus bordões e assuntos.
Batendo nas mesmas teclas,
dizendo o que eu sempre digo...
Outro dia acordei querendo escrever um livro.
Ainda vivo pela comodidade,
sou o mesmo sempre largado e feliz agricultor de facilidades
colhendo as almas bonitas,
mas ainda com as mesmas dificuldades.
Continuo derrotado pelos nada fáceis falsos risos,
pelas frequentes perdas de rumo e falta de juízo,
pelo excesso do bom e velho; relaxa e fica tranquilo.
Ainda ando com aquele corpo roto, sem tino,
tendo presas as vontades mais intratáveis,
nos mesmos novos velhos dois mil cavalos calados,
que te fizeram tantos versos.
Meu entorno amadureceu, existem agora,
livros e coisas vermelhas, móveis de cardiologista,
pouca luz, poucos discos,
uns incensos, roupas, outros rabiscos.
Existem traumas também,
coisas que você largou por aqui
e ainda quadros, tapetes, e algumas crenças
a prancha empoeirada no canto do quarto
e outras fases esquecidas no armário.
Vejo que as coisas mudam mesmo,
principalmente sozinho aqui dentro.
Mas ainda curto o frio,
o ar ligado e as sensações
daquelas tardes de verão quente e úmido.
Ainda corro de água gelada,
e lembro sempre do que eu dizia
quando pra provocar você insistia, ligava o chuveiro,
me tentava de todos os jeitos.
Continuo perdido nas horas,
ocupado com toda essa minha desocupação.
Ganhando noites e perdendo os dias,
vivendo menos do que deveria.
É, algumas coisas não mudam mesmo,
principalmente sozinho, aqui fora.
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