segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Jockey

Hoje as luzes do jockey
acenderam de madrugada,
e eu lembrei da sua estada
junto aos sonhos mais puros do meu coração.

Vi de longe as nuvens baixas
num horizonte branco e cinza,
que lembravam os dias nublados
em que eu suplicava os seus cuidados.

Eu vi nas pedras molhadas
um rastro de dezembro...

Um dezembro há muito tempo,
num tempo que eu já nem lembro tanto assim,
mas que derramei em lágrimas, todo o pouco que sorri.

Hoje qualquer luz na minha vida
remete ao brilho dos teus olhos,
e traz pra perto o mel que era
caçar estrelas no céu das tuas costas,
só pra me acabar nas tuas covas
e entender que não tem nada assim tão bom pra mim lá fora.

Hoje eu quis te ver e não fiz nada do dia,
só pensei em te ligar, pra te encontrar,
pra te olhar falando e rindo,
contanto histórias sem parar...

Desarmando meu tédio,
servindo um banquete de remédios
pra aniquilar a solidão.

Por isso hoje qualquer luz na minha vida
me traz os teus olhos mel,
me traz saudade,
me tira o chão e o céu.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Oração

Senhor, o que eu te peço é simples,
quase nada. Te peço num verso
que me apareceu de madrugada,
é poesia mas nem sei rimar...

Senhor, quero três discos de Vinícius e um grande amor,
o mar bem calmo pra lavar a alma,
areia fina, o sol, e a sombra de uma amendoeira pra deitar.

Senhor, quero um imenso céu azul ou cinza.
E uma varanda com cadeira de balanço
pra poder chamar a vida de vida.

Senhor, dai me acerola bem no meu quintal,
uma duna branca no final de tarde,
um som que toque a bossa dentro d'água
e uma pá de amor pra dar...

E aí de cima por favor,
faça do meu lar um quartel general de paz,
filhos, netos, amores, quanto mais melhor.

Senhor, quero correr atrás de umas loirinhas,
cuidar da vida, lamber minhas crias,
dar uma prancha de presente pro moleque se acabar.

Senhor, o que te peço é simples,
mas é tudo. Proteja os meus, os teus,
proteja o mundo...

Porque eu ainda tenho muito o que viver aqui.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Vinte anos

Essa é outra noite dos seus olhos
dos seus novos vinte anos
e do meu velho "vem" e "te amo".

Eu não minto, mas sem motivo
afasto tudo que eu mais quero.
E que não por acaso,
hoje é o seu corpo perto,
o seu amor, calor, afeto...

Pra embaçar os vidros
e amassar os seus vestidos.

Pra ver de perto o seu medo,
sentir você morder meus ombros,
estremecer nos meus braços,
adormecer em escombros...

Essa é outra noite dos seus olhos
dos seus novos vinte anos
e do meu velho disparate
o bom e velho "vem, te amo."

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Dias perdidos

Mais um dia perdido
em uma noite com um céu de estrelas teimosas
que perto das quatro horas nem pensavam em se apagar.

Estrelas dobradas, refletidas nessa paz de água e sal,
mortas, vivas, lindas...

Jogando dúvidas nessa vida leviana sem igual,
nessas pistas molhadas,
nas leis e linhas escritas com sangue e lágrimas,
bordando as camas de gato pras os teus olhos embreagados,
pras os que vivem guiados pelos teus passos cadentes, atordoados.

Passos de uma vida nas madrugadas
que não possuem nenhuma nobreza.

De uma vida feita toda de descaso
jogada sem medo nas mesas...

Mesas sujas, envoltas em desacato,
nessas terras que já não possuem nenhuma realeza.

Essas são minhas lembranças,
coisas de um tempo em que todas as noites eram de rei
ainda que terminadas nas camas de tatame...

E que todo discurso por mais inteligente que fosse
tinha o mesmo valor de uma conversa com as paredes.

Dias perdidos com gosto,
por noites que tiveram outros encantos,
mostraram caminhos, mudaram pensamentos mesquinhos,
levaram pessoas que eu nunca imaginei vivendo longe, mas que deixei ir.

Trouxeram outras que agora são mais importantes
e revelaram depois de tanto tempo amores que eu nem pude sentir.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mário Filho

Eis que a cidade amanhece
e como ainda em repouso, um ar leve paira.

O sol quente bate no asfalto liso das vias expressas
e as pressas não se vê ninguém nas ruas...

É domingo e o mar de nada importa,
é verão e o calor intenso não incomoda.

Pelas esquinas botecos com tvs nas quinas
cheias de quem fez do dia
o seu dia de viver.

Servidos, felizes, fardados, em crise...
vão todos pra depois do túnel,
onde não existem mais calçadas...

A rua lá é de quem anda,
de quem grita alto e canta,
de quem leva sua bandeira nos ombros...

Em dias assim o mundo não gira
o rio não deságua
é quente e não queima
chove e não molha
É dia de jogo...

Todos os caminhos levam ao templo,
levam aos tempos, dois, de quarenta e cinco.

É Vasco e Flamengo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Amor

Nunca falta verde nas palmeiras do Jardim
Nunca falta mar em Ipanema
Nunca serão muitas voltas na Lagoa
Nunca é ruim descer o Humaitá

Às vezes falta amor e só...

E é só.

Nunca faltam dias de sol no Rio
Nunca é muito frio
Nunca é feio quando chove
Nunca é tarde pra ir ver o sol se pôr no nove

Às vezes falta amor e só...

E é só.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Desculpa

Desculpa, mãe,
mas o que eu tenho pra dizer não é piada.
Já tem tempo que eu não sou
uma criança que não entende nada.

E se você quer saber,
eu aprendi um bocado com o mundo.

E ainda lembro de você dizer,
menino, cuidado com esses vagabundos.

Mãe, eu não sirvo pra muitas coisas,
mas ando figurando bem como um mau exemplo.

Mãe, eu até poderia ser diferente,
mas sou um ótimo mau elemento.

Rebelde sem causa, boa pinta, de olhos claros,
caçador de novatas, das meninas muito amadas...

Tratante de tudo que não é amor,
dom quixote de mil corações,
um poço de bondade, numa terra de más intenções.

Sempre pela sombra no sol forte,
caminhando nos dias de chuva atrás de sorte.

Um convicto missionário da exatidão do acaso,
um garoto com tato no ato de saber o que dizer,
de jogar as palavras como quer, pra iludir, só pra ter...

Mãe, eu sou um deles,
e nem é ruim assim...

Mãe, hoje tem mães,
que falam tudo isso de mim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Menina mimada

Você anda tão descrente
com essa firmeza no olhar...

E é tão contraditória,
tão maluca, tão cheia de histórias...

Que eu mal consigo sentir pena,
quando te olho só vejo problemas,
eu vejo mil motivos pra ir embora e te esquecer.

Eu já nem sei o que é que resta pra amar em você, mas eu amo.
E o que dizem, não sei...

Vou deixar tua pele de onça por baixo da roupa,
não vou tirar o que lhe resta,
pra não te tornar o resto,
pra manter algum respeito e poder ir...

Emitir o nada consta
mesmo sabendo que esses peitos
estão sempre ao alcance por aí.

Você anda assim, por nada,
tão carente, tão jogada,
menina mimada...

E eu já nem vejo o que é que resta pra amar em você, mas eu amo.
E de tudo que dizem, não sei.