sábado, 27 de abril de 2013

Um homem feliz

Tenho pra mim
que quando a fragilidade do ser
virar poesia...

Terei sido homem.

Quando os defeitos se esvaírem
e virarem casos ou mesmo qualidades...

Terei sido homem.

Quando a morte brandir sua sentença
e a bandeira cruzmaltina cobrir o meu terno de cerimônia...

Terei sido homem.

Se em qualquer fim de tarde
minhas palavras ainda forem lembradas...

Terei sido homem.

E se numa família com filhos e filhas
a felicidade eu deixar...

Terei sido homem.

Quando o gosto,
o rosto, o medo,
a mania de frio ou de calor,
virarem um amor maior.

Terei sido homem.

E pra quem tudo isso importar,
se alguma palavra disso tudo importar...

Tenho pra mim
que quando uma lágrima de amor descer,
pela falta, pela saudade e não só lamentação.

Terei sido então um homem feliz.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Costas

Não posso te negar, amor,
que sou feito pra ser frio.
Mas também posso ser quente,
ser intenso ainda que tardio.

Só que meu tempo é do ócio,
e meu amor ainda que não se diga, é sempre fácil,
por você ou qualquer uma que cruzar o meu caminho.

E tendo isso só quero que aceite, não brigue, me ligue
e diga o quanto prefere a mim do que a qualquer um.

Porque é disso que me alimento,
é isso que me move pelas ruas da cidade
de encontro ao sol, sorrindo.

E se eu sirvo pra você,
até segunda ordem de tudo esqueço,
eu vivo pra beijar as tuas costas,
me rendo, bato ponto nas tuas covas,
eu te amo só até não querer mais.

domingo, 21 de abril de 2013

Desmaios

Por mais que você queira
tem algo aqui que não é seu.
E se a curiosidade aperta
essa é a deixa, é a hora certa de sumir.

Tem algo nos seus olhos
que me empurra pra bem longe.

E o que você precisa
certamente não sou eu.

Mas se alguém me perguntar
do que é que eu ando precisando:

Talvez seja de você.

E você... O que você precisa
é só de uma boa noite de sono.

Uma sem muitas drogas,
daquelas que você só se joga nos lençóis
e espera pacientemente a minha deixa, o meu texto.

Levantando devagar,
dizendo que vou sair só pra apagar o sol...

É, você precisa de alguém
que te queira por dentro
e não sempre por fora.

Alguém que regue todo amor dos seus olhos.

Alguém que suporte suas dores, seu medos, seus desmaios.

Alguém que faça qualquer sol chover só pra te manter nos braços.

Você precisa de qualquer coisa
que não seja eu...

Mas precisa de qualquer coisa
que te ame tanto quanto...

Alguém que te ame tanto quanto...

Eu.

sábado, 13 de abril de 2013

Trilhas, tempos e caminhos

Eu, você...
um só caminho, nosso ninho,
um loirinho e outra de ti em meus braços,
mais abraços e preocupações...

Nosso lugar, continua lindo como sempre foi
e tudo que disseram não foi, não foi... Nada além de ilusão.

Não...

Fotos, lembranças, amor demais,
brigas, crianças, beijos e postais.

Não...

Nada se apagou como eu já havia dito há tempos,
como eu tinha previsto em tempos um pouco mais lentos.

E este entardecer o homem não destruiu,
e as nossas pedras, as nossas andanças,
nas outras pedras lusitanas ainda por aí...

Por aí...

Passa o vento cruel
mas não leva de mim tudo que o tempo me deu,
tudo que ressalta... Que o amor valeu.

Por aí...

Nos mirantes e parques, pedaços do nosso amor,
sem jeito de frustrar teus desarmes, meus risos de garoto feliz,
tudo aquilo que vivemos como se houvesse criado raiz...

E não vejo mais meu mundo por um instante sem você,
nesse rio de idas e vindas, de praias, de escaladas e trilhas...

Com o Redentor de braços abertos a ver,
o meu encanto maior a cada dia por você.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

De vez em quando

De vez em quando é bom poder te ligar,
só pra saber como está, como vai tudo por aí
mesmo que longe estejamos só em pensamento.

Duas quadras quase não são mundos muito diferentes.
Mas as suas caras desacreditadas,
furiosa com o acaso por esbarrar comigo nas esquinas.
Me deixam descrente de um acerto,
lembram a mim que é o seu jeito que de repente me corta o barato.

E tudo que foi nosso,
hoje me deixa num ponto turvo da vida.

Lugar onde não me encontro, não me encaixo,
não vago mais cambaleante gritando alto pelos cantos,
e nem creio tão profundamente
que estar sozinho é um prêmio em todo amanhecer.

Caminhando sem grande alento, sem grande amor pela vida,
sem pressa, com a felicidade escorada nos ombros, caindo,
falsa como os sorrisos da noite,
por quaisquer que fossem os motivos ou os amores que jurei.

De vez em quando, eu nem sei porque,
parece que conseguiria viver sem você.

Mas se ouço na sua voz um tom feliz ante a minha falta,
isso me dói, destrói...

Roem no peito os mil castelos que ergueria pelo seu amor,
e então num surto eu desligo o rádio, a tv, o mundo,
desligo tudo que possa querer desligado...

E fujo dos meus pulsos,
procuro driblar os impulsos
nem sempre tolos de me mandar daqui.

Me enterrando no amor que você tinha nos olhos,
mentalizando que a sua felicidade
é bem mais importante que qualquer vontade...

Qualquer vontade.

Mas de vez em quando é bom pensar,
que bom seria mesmo,
que feliz fosse eu com você...

Como deveria ser,

Eu e você.

domingo, 7 de abril de 2013

Na lagoa

Eu precisava dizer alguma coisa
mas o sono me atormentava...

Eu só tinha negações engatilhadas,
só conseguia listar o que eu detestava,
nada era lindo demais, nada me consolava.

Indo pelos cantos
rezando entre quatro rebocos,
observando seres ocos,
tentando não desencantar.

Vagando, suplicando aos céus o dom de não me repetir.

Pensando, constatando o quanto não é vasto o meu vocabulário.

Olhando pra todos lados,
mentalizando não ser assaltado.

Lançando a alma na madrugada,
chutando as pedras portuguesas e rindo à toa.

Mudando o meu caminho pra que tudo fosse mais bonito,
despejando confiança pelos olhos pra seguir de vento em popa,
pra esquecer novas lembranças na Lagoa.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Viva

Viva as quartas com cara de sábado
e os quartos gelados no domingo.
As segundas que tem a nossa cara
e esse mundo todo que vive sorrindo...

Viva tudo que não se compra
e o que mais vier de graça...

Viva, porque viver
é o melhor jeito de amar.

Está tudo nas pequenas coisas
nas pequenas partes
quase sempre fáceis

Toda a satisfação
os olhos vidrados
a pele corada
o medo do verão.

Viva o sol a pino
e o asfalto fritando o atropelado que nunca existiu.

Viva a sirene, quase sempre atrasada,
poeticamente gritando pra assustar a morte.

Viva como deve ser.

Viva porque viver não é assim tão fácil não.

Viva os acordos de cavalheiro
e a omissão de um jornalismo anêmico

Viva a paixão da massa
por qualquer palhaço
e deixem que as traças
o devorem antes da próxima estação

Viva o carnaval,
e as noites em claro.
Viva quem se deixa levar
e quem sempre escolhe um lado.

Um viva a quem se vai,
a quem escolhe deixar de sofrer,
esses que se abstem da existência, da agonia do ser,
só pra vagar, se descobrir.

Viva as quartas com cara de sábado
e os quartos gelados no domingo.
As segundas que tem a nossa cara
e esse mundo estranho que mesmo depois de tudo...

Eu ainda vejo sorrindo.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Futilidades

Pode parecer futilidade,
mas é que eu preciso te falar...

Eu to precisando de você
pra de vez em quando ir ver o mar.

Nessas segunda-feiras quentes,
esses dias que ninguém vê beleza como nós,
dias que parecem feitos só pra nós...

Eu to precisando de você
pra poder ver o mundo dos seus olhos.

Pra esquecer dos problemas e embaraços,
pra jogar os risos sem mentiras no asfalto,
pra levantar a alta no sinal fechado e te ver sorrir...

Te sentir amar como antes,
te querendo como nunca,
sem te deixar ir.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Nunca mais

Tem uma luz vermelha na janela do vizinho
a noite cobra de mim o medo e eu estou sozinho.

Nunca mais eu vou achar feio ter fé!

Nunca mais eu vou entrar na igreja de boné!

Ta rolando um vento forte assoviando a noite inteira
e um barulho muito estranho que tava vindo da cozinha.

Achei melhor sumir, era uma boa hora pra ir dormir.

Nunca mais eu vou rir de quem chama por Deus!

Nunca mais eu vou achar maior barato ser ateu!

Agora tem um reflexo estranho ou uma sombra eu não sei bem,
o cuco apitou na escada, já são três horas e você sabe bem...

Nunca mais eu vou esquecer como é que faz pra rezar!

Nunca mais eu vou rir de quem pede pro anjo da guarda zelar!

Mas agora ta de dia e o sol acendeu o mundo,
não tenho medo de nada, eu sou valente,
não sou criança, sou adulto.

Nunca mais eu vou ter medo assim à toa.

Nunca mais eu vou acreditar nessas coisas.