sábado, 23 de novembro de 2013

Rainha das verdades

Seus olhos pretos
são da cor das minhas vontades
e o riso rasgado inocente
vive perigosamente rente
a minha sede compulsiva de te amar.

Te comer com os olhos
já é um costume inextirpável do meu ser,
eu te quero tanto, tanto...

Que vivo arrumando encrencas,
eu vivo roubando idéias,
juntando destinos e viagens,
estudando a sério Bonnie & Clyde.

Mas a verdade é que eu não quero fugir,
nem fingir!

Eu queria é entender de pintura
pra te pintar numas aquarelas...

Ou então tocar piano
e inundar a sala com as sonatas
menos discretas que encontrar
pra te pegar desprevenida qualquer hora.

Quero tantas coisas,
mas queria mesmo fazer de você
minha princesa do baixo
ou das terras do alto que você quiser.

A mais linda do sétimo céu,
a vampira do arpoador,
menina do rio, garota dourada,
primeira dama... do rei do nada.

Soberana da minha parte,
imediata do Deus sol,
radiante, imprescindível luz,
a primeira de minha santíssima trindade,
a mais leve cruz...

A rainha de todas as verdades
dos meus desonestos verde-azuis.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

1957

Tem tempo que eu não tenho conseguido
destilar meus pensamentos,
as palavras estão fugindo
e eu me sinto mais inútil a cada dia,
a cada hora que passa...

Eu venho me esforçando,
mas me sinto adoentado vivendo mudo.

Acho que me falta um tiquinho de tristeza,
assim bem no diminuto mesmo,
bem sincera também,
aquela tristeza bem do fundo.

Quase sempre isso passa,
é fase, é só ter calma, aguarda,
relaxa...

Só que a vida é muito ruim assim,
eu preciso jogar no papel,
preciso ver mundo,
cantar, falar do céu, do mel da boca das meninas,
das suas delícias,
dos corpos celestiais despejando charme pelas ruas...

Preciso do dom da palavra
antes de mais nada,
eu só quero poder dizer,
poder jogar no ar qualquer besteira...

Preciso de um megavocabulário,
de um novo cérebro,
um hd com mais espaço.

Eu preciso ler livros,
ter filhos e filhas,
plantar uma árvore,
uma floresta,
comprar um jaguar
mil novecentos e cinquenta e sete.

É...

Quase sempre passa.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Lindeza

Vida, conta de você,
linda, lindeza,
vem me dizer qualquer coisa importante
ou desimportante...
vem falar como é viver.

Diz que crescer,
crescer machuca muito...

Me explica esse muito,
que eu nem quero ver.

Vida minha,
diz pra mim um pouquinho do que você viu,
fala por favor que o mundo é doce,
é bem mais doce do que dizem por aí.

Linda, lindeza,
divina, azul, fortaleza,
meu néctar, meu harém,
minha mais que perfeita...

Não me deixa aqui nesse mundão, só,
assim sem um chão pra enxergar,
sem um céu pra achar lindo,
sabendo que tudo contigo
é que fica bonito sem nem estar.

Vida, conta de você
e diz qualquer bobagem,
qualquer besteira, só pra eu me fazer,
depois deita do meu lado
e presta bem atenção...

Vida, vou escrever o seu nome no ar
que é pro vento levar,
que é pra chuva molhar,
que é pra ele pingar no mar
e vir ver a gente nas pedras.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Das coisas mais lindas

Você, menina,
é das coisas mais lindas
que eu já vi nessa vida
e nas outras...

É de todos os sonhos
o mais belo instante,
é doçura com olhos de desejo,
um sudoeste laçante,
soprando qualquer medo pra longe.

Você é a força
que me faz prensar a tinta nesse papel,
pra cantar todos seus cantos,
passar a limpo os seus encantos...

E rir de novo seu riso,
traçar um plano de vida
cultivando vícios,
desvendar todos os indícios,
da nossa história de amor...

Você, menina,
é das coisas mais lindas
que eu já vi nessa vida
e nas outras.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Eu lírico

Tem dias que eu entro numa
de pensar mal do mundo todo,
e aí me pego de conversa com você...

Reclamando, jogando meus pensamentos amargos
sem pedir licença...
e por fim, tendo um retorno virtuoso,
uma compaixão sincera, compreensão de louco pra louca.

Não é a toa mesmo,
nada é tão despretensioso assim na vida...

E é incrível como tudo se completa,
como o destino e o acaso se odeiam
e nos pregam essas peças.

Cada momento desses com você
é um pouco de mim que muda,
um pouco de mim que pensa que de repente
o mundo não é tão ruim quanto eu pressuponho que seja.

E então eu me equilibro internamente,
me afasto de pensamentos asfixiantes,
da misantropia, da solidão...

E troco tudo pela plenitude do sentimento
de que tudo pode ser melhor uma hora,
num estalo, onde do nada, por nada,
ou por genialidade de algum Deus onipotente,
de repente, todo mundo vai ser lindo assim por dentro.

É, é você que alimenta o lobo bom da minha alma,
é essa ilusão do tempo que te tenho que me salva.

To precisando de uma dose,
faz tempo que me sinto um dependente,
e é isso que me mantem vivo.

São os seus olhos, menina...

Nutrindo as verdades ocultas
e puras dos meus monólogos mais introspectos,
e sugando as sombras, roubando a desilusão,
calando os discursos genocidas do meu eu lírico vilão.

É, é você,
só você.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Frente fria

O nosso amor é uma frente fria
trazendo os ventos da estação
vociferando entre os braços do cristo
tentando somente dizer...

Eu existo!

Eu existo por entre as palmeiras,
cambaleante, na contramão.

Eu existo subindo o morro,
lá por cima, no alto leblon.

Eu existo nas pedras portuguesas,
e nas areias,
cantarolando Meditação.

De olho nas luzes do jockey
quando nuvens baixas chegam pela noite
pra me fazer rir de nervoso
e me deixar louco...

Ouvindo vozes,
querendo sumir.

Pular da janela,
só pra voar,
desistir de qualquer coisa.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O mal do século

Tá vendo aquele cara triste ali?
Ele pode não estar tão triste assim,
ele pode ser só alguém igual a mim,
que saiu pra conferir,
pra ver se o mundo ainda tava na mesma.

Tá vendo aquele outro?
Aquele ali tem cara de que vive um tempo ruim,
que talvez nem seja assim tão ruim,
mas pra ele parece,
tem jeito de fim de linha.

Mas sabe... não temo pela vida deles,
tenho mais medo de gente feliz.

Tá vendo aquela ali,
bebendo um dry martini,
jogando conversa fora,
com jeito de que nada pode ser melhor...

Ali que mora o perigo,
a tristeza às vezes está tão longe,
tão fora de questão,
que quando vem, quando aparece,
é ofensiva demais pra que alguém possa deter,
a vergonha de ser triste, por vezes,
é tão maior que qualquer detalhe lindo da vida...

Que não existe mundo zen,
não tem ioga,
nem guru que dê jeito.

Não tem aura que te deixe seguro,
nem estrada de tijolos dourados,
livros de auto ajuda,
místicos, magos, padres,
pastores vendendo serenidade,
lugares no céu, terrenos na lua...

Nada pode contra essa pregação da necessidade
de viver uma felicidade inabalável no mundo.

Essa é a maior doença do século,
uma condição genocida,
câncer indetectável,
asfixiante,
assassino de nações inteiras,
gerações inteiras...

Que vivem amortizadas pelo medo de ser humano.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Trip

Surpreendentemente
ela me apareceu
e disse qualquer coisa engraçada
que me fez rir
e não querer mais nada.

Investi dois mil réis nuns embrulhos,
eu toquei minha vida sem fazer barulho,
injetei uns produtos, esqueci dos orgulhos,
eu fiz o que devia fazer...

E faria tudo de novo, eu faria tudo de novo,
viveria tudo de novo, só pra ver,
os seus olhos como na primeira vez.

Branca de neve me dê o seu cartão,
se espalhe no espelho, não diga que não...

E se ajeite sujeita,
que cê é pura,
mas só me usa que eu sei.

Sei bem que esse deleite,
num fundo nem tão fundo assim,
é só um enfeite pra viver em paz
nesse universo de ingratidão.

Rastejando no mármore
de um mundo sem regras,
se perdendo nas viagens
a bordo de tapetes persas...

E veja, admire toda essa falta de importância,
sinta um pouco desses romances
empoeirados nas estantes...

Deslize seus olhos nas paredes e me encontre lá,
ao lado do lindo e emoldurado impressionismo,
do retrato, do abstrato, dos realismos,
e a natureza morta... quem se importa?

Art nouveau, art déco,
expressionismo, futurismo,
construtivismo russo!

É tudo lindo, é tudo fluxo,
é puro, colorido, doce, revestido de sabor.

É medo e delírio, loucura e desespero,
é só o efeito do meu papel pequeno... no mundo!

É o efeito do meu quarto,
do quarto que frita na língua o escuro do mundo,
do mundo que eu fujo dissolvendo os meus cristais.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Eu vi

Eu vi...

e ela tinha os olhos
de quem poderia
engolir o mundo inteiro.

Eu vi...

e ela em seu todo peculiar jeito de ser
atuava em frequências distintas,
quase nunca espectro visíveis...

Revelando por pouco,
quando não por acidente
alguns detalhes sutis dos cantos sombrios
onde costumava se abrigar...

Cantos esses onde vivia se escondendo das possibilidades
que tinha no seu infinito universo singular.

Eu vi...

e ela só vivia nas margens pra socorrer,
pra estar também nos momentos inconjugáveis,
nutrindo esperanças...

Tendo como representante, mandatário e procurador,
o mantra dos corpos, da vida entre os copos,
dos fogos no céu, o teatro da carne, a sétima arte.

Eu vi...

e ela reverberava esse incansável espetáculo
com uma aura abençoada, em canduras,
cercada da luz de todo papo hype
e anti-high-society que se pode imaginar...

Assinando embaixo do que consta
nos nunca publicados manuais da alta cultura,
nas bíblias milenares,
nas palavras que foram aprisionadas
nos ares dos fins de tarde.

Ó luz divina,
majestosa arte,
representante de toda vida,

Ó graciosa rainha do mundo,
do mar, do ar, do par do céu,
a lua e o sol.

Ó magnífica multiplicadora incalculável
que reina onipotente no azul,
no infinito negro espaço,
no grande mistério do tempo...

Deusa da ilusão, dona do indizível,
dos olhos que devorariam o mundo...

Tende piedade de nós!
E perdoe os homens
que não sabem o que dizem.

Nos proteja em suas lágrimas
ainda que elas sejam derramadas em nosso nome,
por nossa causa...
E nos entregue qualquer das suas grandezas,
queremos ser seu orgulho.

Tende piedade de nós!
E perdoe os homens,
porque eles não sabem o que dizem.

Eles não sabem de nada.