sexta-feira, 28 de março de 2014

Como deve ser

Eu gosto dela
quando ela me entrega
o amor nos olhos.
quando ela se entrega
e exorciza os meus demônios...

Eu gosto mesmo
quando ela mistura o meu sangue quente,
quando ela faz tipo de garota inconsequente
e esparrama aquele riso indecente
pra conseguir tudo que quer...

E é simples assim
tudo é muito fácil de entender,
o meu santo bate com o dela
e a gente se ama
todo dia até amanhecer...

Até o sol resolver vir cortar o barato,
até as cortinas esquentarem de tarde,
até alguém cantar a pedra
de que já é meio tarde pra resolver começar a viver.

Três em ponto e ponto,
é ponto dela,
é ponto do senhor das esferas...

Na janela, só ela e o céu azul,
um azul de doer os olhos,
mais um dos momentos dilacerantes do ócio...

Lá em baixo o desespero residente do asfalto
e aqui em cima a cama,
a calma suprema
do meu reino de largado.

É, eu gosto mesmo dela,
dela e dessas noites que duram mil sóis,
é, eu já não vivo mais sem ela
embolada nos lençóis...

E é simples assim,
é mesmo muito fácil de entender,
tudo dá certo,
bem como eu vivo dizendo,
como eu digo...

Como não poderia deixar de ser.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Novela do Maneco

Eu e você,
como numa novela do maneco na tv,
só que sem drama, sem vilão,
só amor e o Leblon inteiro na moldura,
na janela do nosso mundinho particular...

Eu, você,
baixo bebê, amor,
uns anos,
dez, vinte, trinta...

Que vida linda,
que prazer imenso
esse de te ver passar,
de ver tempo passar do seu lado...

Saber que você é tão minha
e tão necessária quanto o ar
que agora eu respiro pra viver.

Vida curta, mundo pequeno,
o azul da sul... Eu, você,
umas crias lindas,
um moleque, umas loirinhas
e um retriever pra roer a casa toda.

Uns sustos, arrependimentos,
uns surtos, uns dias cinzentos,
acontece, mas a paz é logo ali na praça...

Está à vista, é a nossa senhora,
é prece, é coisa de quem envelhece,
nosso lugar,
nosso jeitinho tranquilo de levar a vida,
de ver tempo passar,
se render ao mel da burguesia,
é doce, é sim, é vida...

Vida curta, mundo pequeno,
o azul da sul... Seus mantras,
seus problemas todos só pra mim,
seus instintos, seus incensos,
os seus olhos de pidona...

Meus tapetes,
livros bagunçados,
o piano empoeirado amontoando a sala,
minhas histórias, os retratos,
mil retalhos de nós dois...

Vida curta pra estar com você,
mundinho perfeito pra seguir com você,
o azul da sul é seu,
meu tempo, meu canto, meu lugar,
minhas outras vidas,
você...

Onde estiver,
onde for,
estarei...

Eu.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Viver melhor

Eu alucino, desacredito o medo,
os meus olhos secos são mentiras,
duas mentiras verdes...

E então pra molhar,
pra me entregar as verdades de vez,
vertigem!

Eu escrevo um dos meus,
eu recito, repito seus passos no mundo
que antes era só meu...

Tudo isso com a força do vento
que em dias como esse
traz a chuva que molha o meu rosto,
e me lembra seu gosto
e os nossos passos pedra a pedra,
posto a posto...

Vendo, vivendo daqui
desse ponto alto da vida,
num Rio frio e atípico,
imerso em nuvens passageiras,
entregando belezas
feitas só para os olhos atentos...

Olhos que como os meus
ainda brilham pelas velhas luzes do jockey,
o nosso sol noturno,
nosso silêncio intenso...

Outro dos nossos truques
pra viver melhor.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Coração de homem

O coração de um homem
não pode arder pra sempre,
também não pode doer,
não, não pode bater...

E esse é o meu consolo,
é o que me dá alguma esperança
algum conforto pra seguir em paz...

Sei que vai parar de doer,
entendo que não pode continuar assim,
sei que vai parar de bater
e eu terei alguma mansidão enfim...

Esse é o meu consolo,
é o que me traz de volta todo dia,
é o que me levanta da cama
pra cruzar de peito aberto essas tardes vazias,
os carnavais e as quartas feiras de cinzas...

Sei que vai parar,
sei que algum dia isso vai terminar.

Eu sei que vai parar
e a vida então será...

Sereníssima.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Em dia

Meu ódio anda em dia,
querida...

E algumas coisas não mudam,
porque não podem mudar, não devem.

Eu não posso nem olhar de lado,
o mundo todo me dá náuseas,
dá vertigem, sinto raiva,
eu quase me mato
e de fato nem acho que seria ruim...

Há quem diga,
mas também há quem defenda essa vida.

No mais,
sou eu que não aguento mais,
eu não aguento mesmo...

E se alguém ligar,
não estou...

Eu ouço vozes na sala vazia,
tudo em dia,
tudo em dia...

Eu não entendo o amor dessas meninas,
tudo em dia,
tudo em dia...

Eu acordo e volto a dormir,
me jogo na cama, eu não vivo,
eu me esquivo desse desprazer,
eu prefiro sumir,
desaparecer de quando em vez...

E se alguém ligar pra dizer
que me viu por aí,
é mentira, mande dizer que,
melhor, mande matar,
ligue pra alguém,
mande fechar os plantões policiais,
deixe que se matem por aí...

Mande que façam uma festa,
uma dessas... uma daquelas que
ninguém vai lembrar quando acabar,
nada demais... tudo anda em dia.

E elas... bom, você sabe,
tudo anda bem também,
bem como deve ser,
hoje eu já sinto como fosse meu dever...

Choque de ordem, não,
de realidade, eu preciso,
eu prefiro as verdades...

Mentiras sinceras são lindas demais,
não mereço, eu prefiro verdades,
não gosto de metades,
eu as quero inteiras...

Inteiras, durinhas e ágeis,
fáceis, puras,
não tão puras, mas mudas...

Sim, sempre mudas,
sem rugas quase;
e quase sempre nuas.

sábado, 8 de março de 2014

Não juro

Não te faço promessas
pra não quebrar nada que é nosso,
e é óbvio que isso
soa mais canalha do que nunca.

Só que eu vi num filme
e até que funcionava viu...

Não, você não viu,
não funcionou.

Virei um babaca
e minha frase decorada
um mantra pra você jogar na minha cara.

Só que não é legal lutar contra essas verdades,
no fim das contas, eu não te prometo nada mesmo,
não juro um ponto com nó,
mas não dou um ponto sem nó...

Se eu não te faço promessas
é porque eu te amo,
é simples assim,
e no dia que o amor não bastar,
pode ir... vai!

Vai e sai como você já fez,
dizendo que eu sou imaturo,
sai por aí e grita,
jura de pé junto que me odeia,
esperneia que eu não dou futuro...

Isso, me joga uma praga,
me tira do sério,
coloca uma foto minha no congelador,
de cabeça pra baixo, não esquece,
e não lembre de mim nas suas preces...

Só que não é legal lutar contra essas verdades,
você me ama...
ama, eu sei que ama.

O mundo sabe, todo mundo sabe,
e eu sei melhor que ninguém.

Não tem jura no mundo que tire isso de você,
por isso eu não juro,
não acredito nisso tudo...

Eu não desfaço,
não quebro nada do que é nosso.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Uma música

Ela é tão bonita
que dava até uma música...

Ela rima com tudo,
ela é o meu escudo pros males da vida...

Menina, virada nos olhos de cor,
trazendo o sorriso dos postos,
dos metros quadrados mais lindos do mundo.

Menina, delícia,
minha índia,
flutua no ar feito uma bailarina,
um beija-flor,
um dente de leão na maresia...

Vai levando, levando,
planando, pairando, pisando leve,
desfilando com esse corpinho inquieto de carnaval,
com essa ingenuidade
de quem não entende os olhares
dos que só a querem pro mal.

Menina, você é tão bonita
que dava até um samba, ou dois, três,
acho que dava um livro,
um daqueles com final feliz, sabe?

Você rima com tudo
é com você que eu ainda desfruto de alguma paz,
é pro seu corpo que eu fujo
quando não acredito mais no mundo,
quando já não aguento mais...

Garota, não tem solução,
vou te trazer, vou te fazer,
vou te amarrar numa canção,
que é pra não passar,
que é pra não acabar,
que é pra não ficar no carnaval.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Bruxos

Meus bruxos todos são poetas da vida,
são reis e ratos,
roqueiros derrotados, sambistas vira-latas,
pedaços inseparáveis da minha história,
das minhas horas de vôo...

Meus bruxos todos são meninos e meninas,
donos das purezas que o mundo não teve tempo de roubar,
são velhos e eternos jovens,
gente que não perde tempo
e tem tempo de sobra pra jogar.

Todos eles são fortes e frágeis,
tem naturezas obscuras e límpidos olhares,
vivem das mais diversas maneiras,
rastejam e voam, socorrem e matam,
fogem das cartilhas sociais...

Meus bruxos são anjos,
são gênios do mundo,
caídos em terra
e erguidos no céu...

Perversos, depravados,
poetas delinquentes, viciados,
passadores de emoção,
espectadores de toda agonia rasa,
das meninas vivas,
dos corações em brasa...

São eles soldados sem casa,
presos no exercício marcial da desconstrução de tudo,
das descobertas, da beleza,
do encantamento, do sublime
e da rendição tragicômica
aos vaticínios terríveis da vida...

E todos esses me entregam em suas particularidades,
em seus passos leves pela tristeza da carne;
a paz do espírito e o caos dos chakras,
extremos estranhamente imersos num transe quase sexual...

Juntos eles são as minhas diversas polaridades,
termino por ser uma dissolução
de todos eles, de tudo isso...

Palavras repetidas,
páginas roubadas,
linhas sublinhadas nos livros,
partituras amareladas,
tristezas remasterizadas,
regravações; infinitas partições
de corações espiritualmente interligados.

Meus bruxos todos são poetas da vida,
são mestres, são minhas delícias,
minhas lágrimas e riso...

Meus bruxos todos tem o meu coração
e não precisam...

Eles não me pedem nada em troca.