segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O piano

Coloquei-me finalmente defronte a um piano,
velho, desafinado, arranhado,
mas incrivelmente elegante,
lindo piano...

Até que me deparei
com uma enorme falta de talento,
senti-me absolutamente desconfortável,
não natural de um jeito que jamais me imaginei ali,
eu queria ser um só naquele momento,
queria estar, ser do piano,
fazer parte, tocar fechando os olhos...

E supliquei dentro de mim: Ó Deus imenso e misericordioso,
porque não me fizestes louco? Louco daqueles de comer sabão,
louco que ouvisse Bach, tocando cai cai balão.

Ó Deus imenso e misericordioso,
perdoai meus lamentos fúteis,
relevai os tantos descalabros da mente...

É que eu queria ter dom,
queria ser som,
ter bons ouvidos de afinar,
ter voz no tom pra poder cantar,
queria ser noite,
ser dela e de mais ninguém...

Só pra topar por aí com os tipos mais cheios de vida,
com gente que tivesse muita coisa pra falar,
com mundos solares nas retinas
e um brilho incontrolável na alma.

Gente da noite, com luz própria,
gente que quando encosta da choque,
que clareia os espaços mais turvos,
gente que não gosta de gente,
mas que reconhece gente que se deve gostar...

Pai, Deus pai,
perdoai meus chamados em vão,
perdoai os desejos que tenho
dessa boêmia,
desses tempos que não são meus.

Relevai, pai,
relevai essa co-autoria que dou a tristeza,
por toda minha vida,
por toda a existência...

Perdoai, porque sei que não deveria ser assim,
bem sei o quanto o senhor me fez pra ser feliz.

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