Falando de amor
eu me lembro bem de tudo,
dos seus olhos de lince,
os lírios, passos leves e sonetos...
Lembro de tardes longas,
nós dois derretendo no calor do mundo,
do cheiro do incenso de lavanda,
o tapete, o fim de tarde laranja,
a brisa, a maresia na varanda...
Te lembro bem jogada no sofá
com qualquer camisa e nada mais,
me contando dos problemas
que andava tendo com os seus pais,
das suas dificuldades mais mesquinhas,
de toda tristeza que via de cima,
na felicidade dessa nossa vidinha...
Você dizia que meus olhos eram azuis,
só porque todos diziam que eram verdes,
você falava que eram como os do chico,
que eu enganava a todos, mas não a você...
Você vivia com os olhos no céu,
e eu achava muito bom,
porque no céu nunca tem ninguém...
Roubei essa fala de uma outra menina,
você não sabe,
e se agora eu não tivesse escrito,
também nunca saberia.
Nossos predinhos finalmente foram ao chão,
parei lá um dia e pedi um pedaço de azulejo,
me disseram que não,
tudo o que sobrou
iria pra uma loja de peças de demolição...
Cheguei em casa e fingi que estava tudo bem,
de noite chorei, chorei de soluçar,
me amargou um bocado a vida
ver caindo aquele lugar.
Você sabe que eu sou de me importar,
vivi um luto sombrio,
fiquei tempos sem passar por lá,
mas agora tudo bem...
eu já nem te tenho mais.
Há um tempo
não me imaginaria vivendo sem você,
hoje até imagino,
mas não vivo...
Só quando falo de amor,
aí eu me lembro de tudo,
das suas sardas, seus livros,
a sala imensa e vazia, as cortinas,
o teclado, as cadeiras curtidas do terraço...
Lembro de tardes longas
que nunca acabavam,
quentes, tardes quentes,
de dezembro eu acho.
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