O vento uiva na noite,
discursa a mais alta sabedoria,
fala de cantos do mundo que ninguém conhece,
conta mil histórias,
traz coisas de novos continentes...
Nas suas rajadas
soletra impiedosamente vida e morte,
coleciona tudo que puder arrastar,
gira o catavento, faz a ressaca no mar.
O vento molda as pedras,
os galhos da amendoeira,
derruba as folhas todas,
faz dançarem os pinheiros...
No vento vem areia,
vem perfume, vem poeira,
no vento vem maresia,
vem chuva fina, pedra de gelo...
Mas no vento também vem calmaria,
nos dias que não há um desassossego,
nos dias que o vento repousa e só vem pela tarde,
ventando bem quente, sereno, fagueiro.
No vento é que plana a gaivota,
é o vento que faz o velejador,
o vento faz alegria dos loucos
quando vem a lestada das noites de horror...
E de todas as suas aparições,
carregando telha
ou sustentando a pipa,
o vento me disse que gostava mesmo
de mexer com as saias das meninas.
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