Perdi o trem da inspiração de dezembro,
sumi do sol, das tardes, dos dias,
sumi de mim, me perdi dela, dos novos anos dela,
dos novos problemas, das novas amigas absurdas,
da mesma fixação pelos astros, pelos anéis de saturno...
Perdi, perdi dezembro fugindo dela,
fugindo de mim, sumindo de nós, pensando na vida,
na minha em detrimento da dela,
no meu nariz, no meu umbigo,
no oásis de paz dentro de mim mesmo,
perdi dezembro sumindo dela,
tirando ela de dentro de mim...
Perdi igual eu faço todo ano,
tomando cuidado pra não desembrulhar dezembros passados,
pra não destrambelhar os sentimentos,
não rolar com o coração pelas escadas de novo,
não sentir saudade dos dias perdidos,
e do tecido chileno com cheiro de veneno
que ficava no sofá da sala dela,
olhando as luzes pela janela,
passando a mão naquelas pernas...
Perdi pra não sentir saudades dela,
dela perdendo dezembro comigo,
sumindo do mundo comigo,
cheirando algum veneno comigo,
amando, vivendo e morrendo comigo...
É, eu tenho fugido disso,
tenho fugido de dezembro,
tenho fugido porque dezembro é ela.
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