Ela tem qualquer coisa
que me dobra desde o começo,
eu nunca entendi direito,
e eu nunca achei ruim mesmo.
Me entreguei, cedi,
me servi de bandeja,
com os olhos brilhantes, deslumbrados,
e palavras bonitas
muito bem escolhidas.
Não pareceu o suficiente,
fui tomado de desespero,
tive medo de desamor,
eu sofri, se sofri;
me calei.
Não parecia certo,
não parecia verdade,
eu tive um pouco dela,
e agora só tenho saudade.
Faz tempo, tem tempo mesmo,
e ainda penso naqueles olhinhos,
eu penso e quando penso me sinto vazio,
tomado dos pés a cabeça por uma falta inomeável,
por uma angústia sem tamanho.
Ah, ela nem sabe do poder que tem,
não sabe que qualquer sorriso,
qualquer aparição daquelas covinhas,
qualquer palavra besta,
qualquer olhar daqueles castanhos indecentes,
me fariam tão bem,
me fariam flutuar por aí,
deslizar pela cidade sem pensar nas tristezas da vida,
nos desgostos profundos,
nas belezas perdidas,
nas consternações insolúveis que trazem a fúria dos dias.
E ela não sabe,
não sabe do poder que tem,
e eu ainda não sei
se ela deve mesmo saber.
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