Não tenho recebido o chamado da vida,
faz tempo que eu persigo toda poesia,
que eu caço nas paisagens um pouco de amor,
que eu calço meus sapatos pra sair,
que eu vivo pra fingir que ainda sinto algum sabor.
Eu ando realmente ressentido,
sigo muito seco pelas avenidas,
meus escritos são tristes,
são todos repletos de negativas.
Descrevo todo sofrimento que me arrasa,
lá fora um sol imenso queima,
aqui dentro o frio faz doer minhas articulações,
eu ando realmente perdido,
precisando de cupido doente,
um cupido velhinho, pra errar umas flechadas,
me encontrar novo caminho de sofrer.
Não tenho recebido o chamado da vida,
me falta paixão, me faltam delícias,
eu ando fugindo da poesia etária,
eu ando arriscando o pescoço na lida sofrida das palavras,
e não pretendo desistir,
eu não pretendo esquecer tudo que já fiz.
Mas anda me faltando o chamado,
faltando o estalo da inspiração,
preciso sofrer, eu preciso ver algo que me puxe pelo braço,
que me arraste pelas canelas,
preciso da beleza do mundo
e da tristeza de todas elas,
do amor e da dúvida,
de todo sentimento bom e da culpa.
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