Ando internado com a solidão,
todo o entorno não me diz mais nada,
não tenho paixão pelos astros,
pelas fases, pelas décadas passadas,
não tenho nada de concreto ou abstrato.
Sou falta, vazio,
o oco, a sombra, o frio,
com pausas para luxúria,
breves momentos de extravio,
mas ainda assim continuo sendo aquele Rio mal cantado,
o Rio imerso na bruma incansável
que segue se esvaindo na eterna orla iluminada.
Ah, sou um sofrimento inomeável,
eu sou o não pertencer,
e meus pensamentos que também não sei se me pertencem,
são agruras infindáveis,
sufocadas bajulações
que não me servem de nada.
E como os segredos desta terra,
como os mistérios de tudo o que acontece
entre o céu e as impiedosas forças telúricas,
eu não sei de nada, e sou tomado pelo nada,
o invisível, abstrato, disforme, dissimulado,
eu sou o fruto sem semente da mesma força impiedosa,
o fruto estéreo desse corpo social,
da consciência flutuante do bando,
da ignorância carnal.
Sou falta, vazio,
eu sou a sombra dos prédios,
o frio que não faz sentido,
sou a árvore seca que esconde o inimigo,
sou o serrote, a bala, o dedo do gatilho,
eu sou a dúvida, o tempo, a consternação,
a guerra, a peste, a desolação,
sou eu; o nada, a falta, o vazio,
não sinto, estou vivo e sou frio.
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