quinta-feira, 14 de abril de 2016

Desapaixonado

Desapaixonado, é meu constante estado,
é como eu vivo olhando pra vida,
desapontado, decepcionado, vazio, perdido,
é como eu venho olhando pra vida.

Ah, perdi a conta de quantas vezes já escrevi sobre isso,
sobre esse vácuo que mora dentro de mim,
essa perturbação do nada,
esse infindável nada a sentir.

Nunca entendi como não me entedio com a vida,
então refleti sobre o tédio
e descobri que não sei identifica-lo,
é como o amor e a felicidade em mim,
se sinto, não sei,
se não sinto, também.

Sei que conheço mesmo a saudade,
conheço um pouco de dor,
um pouco dos sentimentos tristes,
descobri nessa reflexão que sou incompleto além de tudo,
que sou incapaz de enxergar plenamente o mundo.

Não sei se esses sentimentos que me faltam
são próprios para absorção depois da maturidade,
se um dia vou tê-los, se é preciso nascer com eles
ou pelo menos propício a eles;
às vezes acho que os perdi no escuro em que vivi,
outras vezes penso que é só medo do que é novo,
talvez um bloqueio freudiano,
um trauma qualquer que arrasto até hoje.

Só o que sei mesmo com certeza,
é que ando sem brilho algum,
perambulo com essa dor cinzelada em mim pela vida,
e não sei o que cura, se há cura, algo que apague;
mas é importante também que saibam, que não sofro de todo,
de desgosto, o que eu sinto,
é só a perplexidade diante do diagnóstico,
sempre me achei tão boa pessoa,
por vezes me indigno assim vivendo sem amor,
sem felicidade e todos os outros bons sentimentos.

Não entendo direito, esse estado é quase um efeito daqueles em preto e branco,
é como um defeito na impressão de um cartaz, algum problema insolúvel,
uma mancha incorrigível, uma deformidade inconsertável,
que sendo em um produto, apenas mandaria trocar, refazer,
se fosse um cachorro, sacrificar e esquecer,
mas sendo eu mesmo, resta apenas pensar no assunto,
avaliar cá com meus botões,
tentar não me entregar a uma eventual depressão,
e aceitar, ainda que muito contrariado,
esse estado sem graça, de homem sem brilho,
de humano sem vida, de poeta sem obra e irremissivelmente desapaixonado.

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