Nesse teatro de fantoches tudo me incomoda,
nessas velhas repetidas cenas,
todos esses luxos, esses pobres ricos de agora,
contando a prata e limpando o sangue.
Tapetes persas, quadros, filhos,
sociedades dispersas, inverdades, suicídio.
Nesse meio as sacadas
se confundem com trampolins pro mar de gente,
passagem só de ida pro asfalto quente.
E então surgem aqueles risos, aqueles de maldade,
pra guardar e depois lavar o sangue na calçada,
quem se matou já estava morto, semimorto, vivendo numa caçada.
Por isso eu compro silêncio!
Pago caro pra levar,
pra manter a pose, não matar ninguém.
Porque enquanto eles pensam em mais do mesmo,
vendendo a alma em vida sem saber,
perdendo aquele olhar, aquele olhinho que brilha sem querer...
Eu vou escolhendo as ruas pra vadiar
e só vejo opacidade em alma, gente pronta pra sumir,
vejo inocência e legitimidade na jaula,
campos de concentração na sala de aula...
E então os mares revoltos da minha mente
me levam pra outro lugar e clamam, pedem por descanso,
pedem que eu encontre um canto,
que emita algum canto que me acalme,
enquanto parto dessa pra melhor.
E depois disso, fatalmente,
não me sinto nada bem,
continuo meio vira-lata,
meio perdido, sem queijo nem faca...
Esperando que cortem as cordas
desse maldito teatro de vampiros.
Esperando que larguem minha alma
e deixem que essas asas voem livres...
Sem mim, pois não sou anjo,
tomei gosto por ser humano.
Por ser errado, e lindo, e certo,
por ter verdades que só a mim fazem sentido.
Entrando em transe sem poder,
sem ter aonde segurar, nem ter pra onde correr...
Sem pés, nem pás, nem paz... Sem buraco pra esconder.
Toda discórdia que agora escorre,
a inveja, a escória, é morte.
E vejo agora que o mundo é forte
por segurar sozinho meus pensamentos.
Por realizar sem pausas
todos esses meus lamentos.
E então eu sigo, sigo, sigo...
Mas a rotina de um homem
pode ser a sua carta de suicídio...
O tempo pune, não se engane.
Tic, tac, tic, tac... Tic, tac, tic, tac...
Esse é o som do filho pródigo
que se vai pra não mais voltar...
E do vale do silêncio que agora ecoa... Voa! Voa! Voa!
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