domingo, 22 de setembro de 2013

Dos céus

To precisando de uma força de Zeus,
pra fazer chover
e trovejar qualquer dia...

Que é pra eu poder te ligar,
é pra eu perguntar
se você está por acaso precisando de mim.

To precisando de uma força dos céus,
que é pro tempo fechar... num domingo qualquer.

Prometo, juro, eu deixo uma oferenda pra Rá,
se ele tirar uns dias de folga
e deixar Tupã trabalhar...

Caciques do Brasil, tupis-guaranis, kaiowás,
to precisando que se faça chuva,
pro sol de um velho amor voltar a raiar.

To querendo mesmo uma interferência divina,
que é pro céu chorar e fazer sorrir minha vida.

E São Pedro por favor, tenha dó,
piedade de minha alma pagã,
mas é que minha fé, o meu catolicismo barato,
não parece bastar pra fazer chover amanhã.

sábado, 21 de setembro de 2013

Maria Joana

Maria Joana,
fez seu altar na cama,
numa sala com cortinas
perfeitas pra esconder o caos.

Ela faz um tipo esquisito de lunática
que pra mim nem é tão difícil de entender.

Maria Joana,
ruiva, uiva, aceita, deita,
veste, despe, ama e usa...

Aplica!

Porque a vida é tão mais linda,
com amor, com metafísica,
com suas curvas cruzando todos os olhos
no leblon.

Maria Joana,
está entre as coisas prediletas da vida,
menina doce, soltinha, perdida...

Ela não quer fama, Maria Joana,
é tímida e cínica,
maldita e romântica.

Ela é a própria contradição,
é certa e errada,
é beijo na boca e mão na mão.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Daqui dez anos

Ela escolheu o lado torto da vida,
quis assim pra contornar suas avenidas,
pela margem, sem medo...

Pra deixar por aí
todo o gostinho do mel que sentiu,
e que viu escorrer entre as mãos
das atitudes mais turvas
e das vantagens mais estúpidas
que se podem desejar.

E eu vou fazer o que?

Prefiro esquecer,
deixar pra dizer qualquer coisa daqui dez anos...

Quando esfriarem os ânimos,
quando estivermos calmos feito o mar no verão.

Ela escolheu o lado torto da vida,
pra esconder suas fraquezas, suas feridas,
pra deixar por aí impressões sexuais...

Vontades de uma juventude corrida
que pertence a vida de quem pensa
que tudo pode realmente acabar amanhã de manhã.

E eu? Prefiro esquecer...

Deixar pra te ver por acaso,
daqui dez anos, quando esfriarem os ânimos,
quando estivermos calmos
feito o mar nas noites de verão.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os dias

A noite me entrega verdades
que o dia jamais pôde me vender,
é nela que eu encontro
os desencontros que me prendem a você.

E os dias quase nunca trazem paz,
quase sempre insistem em me lembrar
que tudo está longe demais
de qualquer final feliz...

Eu não estou longe de casa,
mas a milhas e milhas de você,
e honestamente, eu não sei o que devo fazer.

Volta pras minhas areias,
pras nossas pedras lusitanas,
conta pra mim qualquer coisa engraçada,
olha pra mim, não diz nada,
não precisa dizer.

E eu peço pra noite uma benção,
mais uma daquelas estrelas cadentes
que me concedem desejos,
que me deixam viver pra te ver,
pra te ter...

Volta pros meus falsos trilhos dourados,
me diz qualquer coisa, me prometa feriados,
espere o sinal abrir, a chuva ir embora,
e quando o mundo parar de trovejar,
me esqueça...

Porque os dias quando vem,
levam a noite,
e as coisas doces que ela deixa também.

E os dias vem,
todos os dias,
eles vem.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Cartilha

Pressupondo uma quarta feira de cartilha
não posso jogar meu papo
de que o mundo é mesmo uma maravilha...

Já que nem por aqui na zona azul,
do lado certo, na vida certa,
as coisas andam muito bem...

Chove, faz frio,
o vento é norte,
o mar batido.

Trovoa, eu não vôo,
você voa e eu mal rimo.

Sou mesmo um acidente,
uma alma até certo ponto firme,
mas numa existência esfarrapada,
meio nas coxas...

Espero o dia em que ainda vão me arrumar uma personalidade patológica grave,
talvez me eternizem no nome de alguma enfermidade,
algo que até então nem me parece ruim de todo...

Seria interessante pra me resgatar
desse estado que não é mais de graça
e que nem tem tanta graça assim...

Deve haver algo latente,
algo da mente que quando acorda
cisma de destruir essas pequenas felicidades de vez em quando...
mas é só de vez em quando.

Principalmente nesses meios do nada assim,
nas quarta feiras frias do meio do ano,
do meio do mês, no terço mais estranho da vida...

Seletos dias da existência
em que a linda manhã agoniza,
a tarde de sol inferniza,
e a noite estrelada
assassina qualquer rastro do que um dia foi amor...

E com a ajuda da tortura impiedosa das horas,
dos infinitos segundos que são só tédio e silêncio,
gritando, discutindo entre os meus ouvidos,
dizendo coisas que eu não posso falar
e que talvez eu nem pudesse ouvir...

Semeia males inéditos
com hemoterapias românticas,
injetando misantropia via intravenosa,
diretamente na corrente mortífera,
tendo por objetivo atingir a infrutífera parte do sistema límbico.

Sensus in absentia!
Parece feitiço, mas não é bem isso...

É o que eu sinto,
ou melhor...

O que eu não sinto mais.

E que pensando bem
nem sinto muito.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Claro no escuro

Não acenda a luz,
é tudo tão mais claro no escuro
dos seus cachos,
dos seus olhos pretos
que só dizem sim...

E não, não me diga nada mais,
essa sua admiração me corta a onda.

Prefiro que cuspa, xingue, chore,
e diga alguma verdade além de: "te acho lindo,
te acho um cara tão legal, que sorte".

Não me repita essas maldades,
eu jogo com o descompromisso,
é disso que eu entendo,
é nisso que eu acredito...

Eu me viro bem assim com o acaso,
me sinto em casa em qualquer lado,
sempre bem acompanhado pela minha sombra
que quando não quero apago.

E aí de novo no escuro me acho, me encontro sozinho,
de olho fechado, tranquilo, pregado...

Eu prefiro um amor incerto,
eu nunca fui tão certo
ao ponto de pensar ser bom assim
pra bastar pra alguém.

Eu sou o copo meio vazio,
a zebra, o azarão,
eu sou o ás que cai da manga,
o vira-lata, um sem razão...

Eu nunca fui tão bom em nada,
eu nunca quis ser.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Bonaparte

Defendo um qualquer no jogo,
eu sou um fruto infeliz,
divido tudo com minha tristeza,
não sei de nada se ela não me diz...

Mas se preciso for...
eu fabrico a felicidade,
ignoro as duras verdades
encontro a fórmula do amor.

Por você, pra te ver
sorrir de vez em quando,

Eu faria tudo,
tudo que nunca pensei em fazer,

Eu faria desse mundo
o seu objeto de prazer...

Me transformaria num conquistador
com meu exército por toda parte,
seria maior que Bonaparte
e seria tudo por você.

Pintaria o mundo de azul
porque azul é cor do céu
e deixaria o mar decidir
se seria verde ou ia refletir
os meus sonhos... com você.

Eu te daria os sete reinos,
remaria sete mares,
mataria, morreria, viveria por você...

Pra te ver
sorrir de vez em quando.

Pra te ver, só pra te ver
sorrir de vez em quando.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sangue latino

Gelado por dentro
é só vento que sinto em mim.

Já não faço valer, não faço ferver
o tal sangue latino.

E as vistas que antes me punham de pé,
hoje faço pouco pra não ter que levantar...

Falo de faltas, de mágoas, passado,
já dizem: moinhos que giram em águas amarguradas
não tornam a adoçar novas águas.

Roubaram de mim o meu bem mais importante,
o brilho dos olhos, a vontade de seguir adiante.

Mas quem sabe um dia,
também não passam e roubam essa dor,
essa dor de ser assim...

Gelado por dentro
é só vento que sinto em mim.

Já não faço valer, não faço ferver
o tal sangue latino.