sábado, 11 de janeiro de 2014

Não faço a menor idéia

Seu sorriso gostoso
vive desvendando pra mim
os mistérios desse planeta,
dessa história de cometa,
cometa, cometa todos os erros que puder...

Toda hora são três horas da manhã,
três da madrugada, rua, rua e nada,
sua voz encalacrada e os discursos que eu já sei de cór,
sei da boca de outras tantas, todas elas quase iguais,
quase iguais a você.

Curto as loucas, louras, poucas roupas,
muito céu, muito a dizer.

Vivo um mundo paralelo,
um universo inteiramente saturnal,
vivo o tato, o tato leve,
o toque puro,
completamente intenso e corporal.

Sinto sempre que te excito,
sinto muito, sinto mesmo uma vontade de dizer,
vem me ver, mais que ver,
vem viver qualquer coisa aqui,
viver de qualquer coisa aqui comigo...

Jogue os seus sonhos nesse ponto turvo
do mar das nossas vidas,
jogue e grite,
acredite que a alegria vem nos encontrar.

Mas calma, tenha muita calma com esse mundo estranho,
com esse outro universo louco, louco, singular...

Nessa baía de um santo só,
de guanabara, na guanabara de quem vier,
de quem quiser, quiser qualquer coisa.

Não se preocupe, nem se ocupe demais,
pelos teus olhos eu desvendo o mundo, o fundo,
o teto preto, os doces, os sonetos,
o DNA de qualquer um ou uma...

Os mistérios da vida e da morte,
os cortes e as suturas dos nossos corações,
a sorte de nós dois e as nossas provações.

Pelos teus olhos eu desmembro e vendo a arte da humanidade,
os prelúdios de Chopin, valsas de Khachaturiam,
as vozes do mundo, dos anjos,
Sinatra e Pavarotti, Barry White, James Brown,
Domingo, Carreras...

Pelos teus olhos eu me acho nos pensamentos,
nas visões, nas notas de Richard Wagner,
nas mentiras contadas por todas as partes,
por todas as artes...

Pelos teus olhos eu vejo quase tudo,
só não vejo que me perco
e é por isso que me perco cada vez mais.

Quase sempre tenho a ligeira impressão
de que não faço a menor idéia do que faço e do que não faço,
principalmente do que não faço...

Com o seu amor.

Imagem do dia!


Tudo que ela não é

Eu ando fugindo dos dias de sol,
esse azul todo tem me deixado sem chão.

O verde da mata e o calor do verão
não combinam com o frio que faz
dentro de mim...
dentro do vazio que você deixou.

E a noite é minha velha casa,
é o escuro de mim mesmo,
meu ninho, meu silêncio intenso,
meu reflexo mais puro, meu lugar.

A noite é o que mais me traz os seus olhos,
é o que me alimenta e me deixa mais forte
pra não fazer tudo sangrar.

De dia me atormenta o barulho do mar,
a quentura do asfalto,
a calçada pelando,
a areia cheia de loiras movediças...

Eu ando fugindo dos dias de sol
só pra não esbarrar com outro amor
que é pra não te esquecer.

E a noite é onde eu acorrento a tristeza,
é onde eu deixo a saudade que eu quero usar,
é onde eu guardo um pouquinho de amor
pra não me cortar.

Mas não, não precisa voltar,
me deixa aqui com a saudade
que é mais jogo...

Me deixa inventar você de novo,
me apaixonar por tudo que você não é de novo.

Um vício

Não sei como consigo,
como passo tanto tempo sem te ver,
se eu só falo
e só penso em você...

Sinto falta de tantas coisas,
tantas daquelas bobagens que a gente viveu
que virei um estranho no ninho.

No meu próprio ninho
e em qualquer outro lugar.

Você é como um vício,
um artifício, um presente da vida,
e sem dúvida foi feita
pra que eu pudesse transcender
a minha tristeza terrena de vez em quando,
pra que eu não fosse esse ser triste
todo o tempo, o tempo todo...
pra que eu não insistisse em autoflagelo constante,
pra que eu não existisse em completo abatimento,
não vivesse por aí só de penúria e melancolia.

Às vezes me pergunto pra onde foram as nossas vontades,
aquelas mesmas que me salvaram,
me pergunto pra onde fugiu o nosso futuro,
os nossos planos,
as nossas verdades absolutas?

Outro dia eu quase morri de dor,
e acho que você já deve ter visto
e talvez até sofrido também...

Derrubaram os nossos prédios
e ouvi dizer que vão levantar um condomínio no lugar,
daqueles sem amor,
with no charm, no charm.

E aí me passa na cabeça a idéia maluca
de que tudo é culpa minha;
ou quando me convém... culpa sua.

A idéia é como se tudo pudesse ser evitado
se ainda estivéssemos juntos,
se ainda fôssemos qualquer coisa um do outro...

Aliás, essa coisa de "qualquer coisa"
tem sido algo recorrente também,
como se realmente eu fosse me contentar com qualquer coisa.

E eu até tenho amadurecido um pouco isso,
virou algo como um projeto a médio ou longo prazo...
porque pelo menos agora,
eu ainda acho que prefiro um tiro do que um abraço teu.

Se for um abraço assim "qualquer coisa",
sem "qualquer coisa" de especial.

É, dizem que vícios fazem mal...

Mas antes você que qualquer outra coisa.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Imagem do dia!


So shy

Passarinha dos olhos castanhos,
esfinge, última rainha
dos suspiros desertos dos meus sonhos.

Menina, delícia,
distante, tão distante
das obviedades dos nossos amores...

Salamandra, descoberta,
lisa de carícias,
desinibida,
but so shy, so shy.

Jogada nos caminhos,
com carinho,
ela é tão... indecisa.

Lobo bom,
lobo mau...

Ela é meu anjo,
meu demônio,
paraíso, inferno astral.

Casamento,
separação.

Deusa onipotente,
politeísmo pagão.

Hermética,
metafísica,
linda, linda,
linda e lírica...

Passarinha,
tão menina...

Oásis de tranquilidade e amor,
Cleópatra desavisada,
flertando perigosamente com toda dor.

Passarinha solta, solta,
planadora, harpia,
lisa, lisa, cheia de delícias,
desinibida,
but so shy, so shy...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Tá tudo acertado

Nesse rio que nunca dorme
não me falta nada não,
nesse rio quase sempre doce
é o mar que às vezes salga a visão...

E o verão vem pra dizer,
pra falar com sinceridade,
pra lembrar que tudo isso aqui é de verdade!

Que é realmente tangível,
é sereno o caos dessa cidade,
que o mundo muda pelas ruas
e que as horas não passam
quando o sol vira essa lua.

Sua bandeira são as águas,
pergunte a Neruda...

Sua malícia está no sol,
sua esperteza nos malandros,
sua beleza nas mulatas, nas morenas,
nas curvas da marambaia à joatinga,
no leme e no pontal...

Nas areias, nas pedras portuguesas,
no sufoco avarandado que é o verão dessa parte,
que é o amor dessa cidade,
o amor que tem nesse céu imenso azul,
nesse azul imenso que é o céu daqui.

Delirante concessão,
tá tudo acordado...

Não tem mais do que reclamar
esse aprisionamento é voluntário,
não tiro os meus pés desse enclaustro.

Eu quero é uma caverna de frente pro mar
e pras palmeiras do imperador,
pro verdinho da mata desse mundão
que é o que impede que o que tem lá fora mate
e envenene o meu coração.

Delirante concessão,
tá tudo acordado...

Não tenho do que reclamar,
tá tudo acertado com São Sebastião,
do Rio de janeiro...

Com São Sebastião,
do Rio de janeiro,
do Rio de janeiro,
do Rio de janeiro.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Imagem do dia!

Nascer do sol, Vieira Souto - Foto: Mucio Scorzelli

Fim

Grandessíssimo chato,
ordinário,
prepotente...

Rente,
muito rente,
assim, tão próximo de ser um lixo,
um cara desprezível.

É, eu me sinto hoje
inteiro como poucas vezes me senti,
estou cheio de sinceridades,
pronto pra viver em paz com algumas cruéis autocríticas,
aceitando mais os mistérios da metafísica
e me virando com as minhas desculpas vazias e cínicas.

A culpa não é sua,
o problema não é você.

É que hoje eu busco o som reverberante,
o acorde dissonante,
qualquer coisa extravagante, estonteante,
e que não seja nada fácil de explicar.

Porque se você quer saber,
eu não busco nada,
não sei o que eu procuro
e nem se eu procuro qualquer coisa.

A real, é que é tudo figurado,
não existe, é lorota pra pato,
marreco, pra haole, pra prego,
é conto que não aumenta ponto,
é longa história, é foda...

E é por isso que eu sempre incluo
uma eloquência que não me pertence,
só pra afastar, pra manter uma distância segura...

Eu me espalho em advérbios de modo,
transito entre mesóclises,
não me fixo no "xis" de qualquer questão,
sou prolixo, pró-lixo, um lixo,
me sinto um lixo.

O que me alimenta é o que me cerca,
isso é uma merda...
e aposto que cê não guenta se eu falar,
tenho certeza que não vai aguentar.

Porque se eu desandar a dizer, a falar de coração,
falar com o peito cheio mesmo,
com um montão verdade nos olhos...

Se eu fizer isso tudo só pra te mostrar
que amor às vezes é demais,
que até amor às vezes também é demais...

Você vai se chatear,
vai falar que eu sou um grandessíssimo chato,
um imprestável, triste, incurável,
que não encontraria a felicidade nem se tropeçasse nela.

E quer saber...

Eu sou mesmo assim,
te enrolo, me enrolo,
eu sou refém, sou meio perdido,
eu já vivo íntimo desses descalabros...

Vivo desprovido de qualquer sentido aguçado
e de talentos natos,
eu quase sempre ando descuidado
topando por aí sem um pingo de desembaraço...

Sem nenhum lado positivo
que não seja um traço teu,
nenhum lado afinado na canção,
nenhum dom, nenhum som...

Na real, eu sou só fim,
sou término, findo, finito.

Eu sou assim, sincero,
eu sou fim, fim.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Salvação

Gosto de pensar que sou a salvação do mundo
mas não me salvo nem dos seus olhos,
eu não consigo, não me esquivo
nem dos meus grossos modos.

Já não disfarço,
sei que o decoro moral da nossa parte foi quebrado,
a decência do nosso paraíso,
a retidão dos nossos passos...

Não há mais métrica nas nossas estacas,
não há nada que se salve,
nada que se eleja e seja puro de verdade
dentro do que fomos ou do que escolhemos ser...

Não existe nada, nada...
e também de nada importam
as nossas partes separadas.

Não somos nada
sem nós.

Aqui falo por mim
e por ninguém mais,
falo por já ter notado esse fardo,
sem nós não tem eu,
sem nós somos nada.

E não, não disfarço mesmo,
ainda me porto como devo,
como se devesse alguma coisa a você,
eu me importo demais...

Não há segredo, sou um sincero andante,
desportista do pesar,
soldado leal,
resignado a voz
das minhas verdades preferidas...
das suas verdades proferidas.

Eu não sou nada,
sozinho não sou nem eu.

Mas talvez isso não seja grave,
não é verdade?
Jogue com a sorte,
suma, deixe que agrave...

Se manda!

Eu nunca gostei
tanto assim de mim mesmo.

Me deixa morrer
e vê se leva tudo daqui
que é pra quando outro eu renascer
não lembrar nem por acidente
que um dia amou alguém feito você.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Down

Eu quase não posso mais ver
qualquer coisa que seja em cores
sem pensar em você...

E quando alguém vier me falar
que isso é tudo bobagem
que eu sou dramático
e adoro ser trágico
só pra ganhar um consolo de quem vier...

Eu vou poder dizer
que não.

Porque dessa vez
é muito verdade,
é fácil, incontestável,
está claro de se ver...

É isso que me afoga,
é o que me afasta,
é o que me joga do sétimo céu.

Os seus olhos marcaram minha alma,
queimaram, deixaram um rastro de sal,
e eu que tentei ir embora
agora me sinto tão down...

Por aí, me arrastando,
pensando em você,
resmungando com a voz terna
permanentemente encalacrada.

Eu vou perambulando na calada,
esperando uma deixa qualquer
pra deixar de viver pra você.

Pra aprender outras tantas maneiras de dizer,
infinitas maneiras de me lamentar,
de jogar tempo fora,
de rogar pelos tantos lugares
a morte dos nossos momentos.

Eu tenho vivido tão mal,
muito mal...

Eu ando por aí me esquivando,
eu ando, eu ando tão down...

Então mente, por favor,
por pena, vem me ver...
tenha piedade, divirta-se,
brinca comigo um pouquinho...

Me engana, me dê um motivo,
pra querer tudo como deve ser,
pra querer, só querer qualquer coisa...

Me salva disso tudo,
me rouba, me resgata do mundo,
e devolva os meus sonhos,
me devolva aos meus sonhos.

Que é pra eu não dormir mais,
pra eu não dormir mais.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Arpoador

O mar, carente,
vive tentando tocar os pés da gente,
pra ter de volta, pedir respeito...
e sem saber se é por acaso ou por saudade,
a gente finge que nem sentiu.

E aqui de cima as nuvens,
a espuma e o sal,
são melhores que qualquer morfina,
qualquer coisa que supostamente alivia...

Daqui eu não vejo só o mundo,
eu vejo o meu mundo,
ponta a ponta,
posto a posto,
pedra a pedra,
rosto a rosto...

Daqui o sol nasce,
e daqui também se põe,
é daqui que toda gente parte
e também se recompõe.

O indo e vindo desse todo,
é a origem disso tudo...

A vida vai e vem,
e as areias antes da ressaca,
são o nosso único bem
e o mar antes de mais nada, também.

É daqui desse canto,
é sozinho, é em bando,
é de dia, é de noite,
odiando ou amando,
aplaudindo, vaiando,
virando, pulando sete ondas,
jurando sete juras,
vivendo os sete contos...

Perdendo a vergonha
na esquina dos mares do Rio,
flertando com a realeza,
esquecendo o frio...

Tão perto de nada,
tão longe de tudo,
é lua deserta,
é claro e escuro...

Refúgio, refugo do fundo,
cúmplice de toda juventude,
abrigo da solitude,
da plenitude que traz aos olhos
de quem te conhece como Arpoador.