quarta-feira, 16 de abril de 2014

Perfume das madrugadas

Eu tenho pensado um bocado em você
e isso não é bom sinal,
logo agora que eu já não me sentia tão mal,
que já tinha entendido,
me rendido ao final...

Acho que foi essa noite de dor
e as nuvens baixas no redentor,
a febre queimando o meu corpo
e o jockey no escuro,
esse mundo maduro,
obscuro, duro... adulto.

Eu tenho pensado demais
nos seus olhos...

Eu tenho estado ocupado demais
com toda essa desocupação.

Então,
me perdoe se puder,
mas só se puder,
se por acaso me entender.

Porque no fundo bem sei que não há o que fazer,
só que eu preciso cantar,
eu preciso dizer, falar sozinho,
deixar qualquer coisa no ar...

Pra quando você resolver pensar em mim,
pra quando você se deparar
com o redentor iluminado entre as nuvens
depois de uma daquelas noites turvas,
torcendo o cacho,
se arrastando na volta do baixo...

Resmungando pras palmeiras,
sentindo o frio do parque lage,
se arrepiando, orando, se lamentando baixinho,
deixando escorrer o mel do sofrimento,
o sal do mar que existe aí dentro...

Mar azul de calmarias infindáveis,
de falsas marés e revezes cruéis,
mar que só se entrega sem platéia
e só se revolta pela noite...

Pela solidão,
pelos domingos e distratos,
pela cegueira
e pela treva inseparável
que é o perfume das madrugadas,
das meias noites.

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