sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vento leste

Um vento leste violento me gritou seu nome,
num fim de tarde solitário,
de cima do mirante, do alto da minha dor,
bem do alto, com a minha dor...

Foi uma lestada que me tirou do prumo,
me arrancou umas lágrimas,
trouxe você de novo com tudo...

E eu desci vagando, desconfiado,
fui de encontro a um desconexo lugar
que em outros tempo me foi tão querido,
eu fui de peito aberto pra reencontrar,
me machucar, aceitar não ver você ali...

Até trocar de quadra,
até dar de pés na areia,
pensar em suicídio,
assumir minha ruína em meio as ondas,
e só desistir ao sentir o frio que faz no mar,
o frio que faz pensar em não te ver nunca mais.

Foi um vento forte
e já não fazia tempo bom,
foi um dia difícil,
dolorido, foi como estar sem ar,
perambular na contra mão...

Porque é assim que eu me encontro
quando me lembro que hoje somos desencontro,
que hoje somos dois novos estranhos,
perdidos pra sempre nos cantos
dos lugares em que nos amamos...

Extraviados do brilho dos nossos olhos unidos,
hoje nós somos outros sonhos,
outros sonhos no mesmo cenário,
só que sem amor,
nos mesmos estreitos quilômetros quadrados
sempre aos pés do redentor...

Nós somos servos, submissos,
vivemos detidos pelo vento leste,
levados, arrastados,
resistindo a um amor
que não há quem conteste.

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