quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Cinzeiro

Na casa dela tinha um cinzeiro velho no terraço,
um cinzeirinho de cobre todo azinhavrado.
Era um cinzeiro simpático,
fazia muito bem o seu trabalho...

Lembro que todos acabavam reunidos em volta dele;
eram os tempos do fumo sem culpa,
antes dessa mania do povo de odiar os fumantes.

Ah, quanto drama dessa gente!
Que preguiça desse mundo certinho...
Afinal, que mal faz um câncerzinho de pulmão?
Quem já cultivou uma pneumonia só por teimosia
jamais temerá uma besteira dessas.

De qualquer maneira,
nem sei por que me lembrei do cinzeiro hoje.
Deve ser por conta dos novos anos dela,
da saudade que eu sinto de mim,
saudade de quem eu era quando era dela.

Não sei que fim levou o cinzeirinho de cobre,
mas imagino ele no terraço,
esquentando nesse sol de dezembro,
ou virado de cabeça pra baixo nos dias de chuva,
desconsolado, lembrando dos tempos
em que era mais requisitado.

Tenho pra mim que ele lembra,
mas pode ser que tenha memória
de peixinho dourado... vai saber.

É engraçado, tenho a impressão de que essa
é uma das coisas que reside, desde já,
na estante das coisas que — nunca mais.

Sabe? Aquelas coisas que nunca mais veremos;
coisas que a gente perde do nada,
que esquece, que somem, que a gente dá e não lembra,
que a avó doa pra caridade e não conta...

Eu realmente não sei do fim do cinzeiro;
só sei que nunca mais.

Igualzinho a ela,
também não sei por onde anda...

Só sei que nunca mais.

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