Tenho vinte e poucos anos, vivo a idade das desilusões,
há quem diga que não há tempo melhor,
que ser jovem é o que há,
é ser forte, ser bonito,
é não dormir com o amanhã grudado nos seus passos.
Mas acontece que nossas tristezas
começam a nos puxar pelo pé bem aqui,
bem aqui nesse topo do mundo
onde nos encontramos aos vinte e poucos anos.
São as primeiras mulheres sérias que nos maltratam,
as primeiras que enxergávamos com os olhos no futuro,
são os anos se encolhendo,
as novas gerações ocupando as suas ruas,
seus bares, suas boates, suas praças,
são os dias perdendo a graça,
a praia, as pedras, as trilhas, o futebol,
são as dúvidas, a faculdade, o emprego,
a carreira, a tinta da caneta terminando,
a ponta da pena que não vinga como deveria,
o orgulho, a família.
Vivo a idade das desilusões,
nessa geração de desiludidos,
dos perdidos que nasceram quarenta anos depois
ou deveriam nascer daqui a quarenta anos.
Sou da geração que desconstrói, que devora,
que abomina os valores e abraça o valor,
a geração das etiquetas, dos preços, das moedas,
da queda e ascenção de números imaginários,
dos impérios, sim, os do entretenimento.
Geração sem dom, de bobos da corte,
de rebeldes sem causa,
sem sentido algum nas suas arruaças,
sem tato para o trato com o próximo,
sem audição para as sinfonias, para as valsas,
sem olfato para farejar uma nova guerra,
sem visão para contemplar os horizontes límpidos,
sem paladar para sentir o gosto da liberdade conquistada.
Tenho vinte e poucos anos
e vivo sim meus dramas pessoais,
vivo porque ainda não me entreguei.
E hoje eu imagino que no futuro as coisas devem melhorar,
afinal, essa é a idade das desilusões.
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