Ela leva a vida muito a sério,
mas não como se pensa,
ela gosta mesmo é de Caetano,
mas quando bebe tira um Cole Porter no piano,
ela sorri com aqueles olhos pretos pra mim
e diz que não é bem assim quando eu desato a falar
que ando pensando em me casar.
Porque ela leva a vida a sério,
leva a vida como deve ser,
ela leva tudo muito leve,
tudo como deve ser.
E vai pisando nas pedrinhas portuguesas,
com pés de bailarina,
com os pés leves de menina
e jeito de poesia, de trilha,
como fosse uma música encarnada,
uma que alguém precisa tirar um dia.
Ela gosta mesmo é do furor do carnaval,
mas quando acorda mais parece um bolerinho matinal,
ela tem uma alma leve,
é dessas que suspira todo dia de manhã,
dessas almas velhas, raras, anciãs.
Ela é qualquer coisa inominável,
me traz a pureza do Tom de meditação,
mas se veste toda noite
do atrevimento do Cazuza no Barão,
ela é um vento forte,
é uma pequena ondulação,
ela chove e também faz sol,
é matinada de verão.
E vive por aí, levando a vida a sério,
levando esse viver etéreo às últimas consequências,
absorvendo todo o azul e amarelo do mundo
com seu cântico aos deuses da farra na ponta da língua,
deixando a tristeza morrer a míngua,
deixando pra trás mil amores, mil outras vidas...
Porque ela pertence a algo muito maior,
algo que a nossa vã filosofia não domina,
ela tem alguma coisa que foge de toda explicação,
um poder incrível de persuasão,
e quando sorri com os olhos pretos,
quando joga aquele charme,
quando coloca na mesa a escuridão que traz nas retinas...
Ah, ela acabaria com mundos inteiros,
dizimaria civilizações,
mas ela não sabe disso e se sabe...
talvez por isso leve a vida tão a sério.
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