Sim, ainda estou vivo,
e eu não ligo pra essa lua
que só volta em dois mil e trinta e três,
não sei o dia do mês,
não abro a janela,
não sei mais dela,
sou um copo meio vazio,
meio cheio de negativas.
É, e eu não ligo mesmo pra nada,
não sei muito de história,
não estou lendo nada bom agora,
não ouço algo que goste muito,
e morro um pouco todo dia
sufocado dessa desolação.
E eu não ligo,
não quero saber do dólar,
da fórmula 1, de fórmulas mágicas,
de mágicas, de mar, de sol, de sal,
tenho fugido até da chuva,
eu não me encontro em nenhum clima,
eu não me acho nesse mundo,
nem na claridade mais vívida,
nem no escuro mais absurdo.
Eu realmente não ligo,
sou uma vela apagada,
sou um terráqueo indistinto,
eu sou a vida perfeita
num ser humano impossível.
Mas eu não ligo,
permaneço com as negativas,
me derreto, me refaço,
esqueço das fissuras do meu peito,
às vezes até me sinto um inteiro,
eu tento, esperneio,
eu me entrego pro mundo de seis em seis meses,
mas volto...
E volto porque não ligo,
sou cinza, sou triste,
eu sou a própria renúncia,
sou um ingrato, uma alma estéril,
e não há mistério que me seduza.
Sou um ser prostrado, aflito, tétrico,
dono só dessa vida mansa e melancólica,
afeito a um íntimo profundo e invisível,
sou uma existência perfeita,
num ser humano impossível.
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