sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Muito a aprender
Tenho muito o que aprender com ela,
muito que me perder naqueles cachos,
naquelas covinhas lascivas,
naqueles olhos que quase sempre me olham de soslaio...
tenho muito o que aprender,
muito a ouvir, a ler e a escutar.
Como quando ela me fala de Cole Porter
e terminamos discutindo Nina Simone e Peggy lee,
ah, muito eu já aprendi "Quizás quizás quizás",
e outras mais que agora guardo só pra mim.
Eu tenho muito a aprender com ela,
a não achar Caetano depois de velho, um chato,
e não ouvir Paulinho Tapajós no carro,
ela implica com Bebeto, não gosta de praia e sol,
mas ainda reclama de tudo quieto,
e até coloca um Fabio Jr. pra tocar,
segue tentando me fazer refletir sobre sex appeal
quando ele canta Enrosca.
Sou muito velho eu acho,
ela diz que sou um playboy dos anos 70,
e ela é uma alma antiga,
uma bem sábia,
muita doçura e uma pitada de pimenta.
Ela zomba de mim porque eu não gosto de Godard,
acha o fim da picada as pornochanchadas que eu adoro gravar,
aceita meu amor pelo Carvana, nisso ela já me deixou em paz,
mas ainda não assina embaixo quando eu compro algum novo cartaz.
Tenho muito a aprender com essa pequena,
devo a ela "Casablanca"
e ela me deve "Eu transo... ela transa".
E veja só, pra quem me apresentou Bogart,
eu bem que me surpreendi
quando ela disse que achava "uó"
o bigode do Errol Flyn.
Mas nós dividimos uma paixão,
Sinatra é mesmo um ponto de conexão,
a não ser quando eu falo de Nancy
e ela diz que é cafonice,
que não aguenta ouvir nem "Something stupid",
mas eu acho que é ciúme.
Tenho muito a aprender com ela,
até sobre Vinicius, sobre Tom,
não porque ela goste mais,
mas porque depois dela tudo fez mais sentido,
cada letra, cada nota,
cada parte de amor e de extravio.
Tenho muito a aprender com essa menina,
Gene Kelly, Fred Astaire,
a paixão pelo teatro,
aceitar tranquilo esse amor de arrasto.
Ah, é muito forte a nossa ligação,
parece que tenho um mundo a aprender com ela,
que tenho muito mais pra ver e ouvir ao lado dela,
e que além dessa, ainda tenho vidas e vidas pra viver por ela.
muito que me perder naqueles cachos,
naquelas covinhas lascivas,
naqueles olhos que quase sempre me olham de soslaio...
tenho muito o que aprender,
muito a ouvir, a ler e a escutar.
Como quando ela me fala de Cole Porter
e terminamos discutindo Nina Simone e Peggy lee,
ah, muito eu já aprendi "Quizás quizás quizás",
e outras mais que agora guardo só pra mim.
Eu tenho muito a aprender com ela,
a não achar Caetano depois de velho, um chato,
e não ouvir Paulinho Tapajós no carro,
ela implica com Bebeto, não gosta de praia e sol,
mas ainda reclama de tudo quieto,
e até coloca um Fabio Jr. pra tocar,
segue tentando me fazer refletir sobre sex appeal
quando ele canta Enrosca.
Sou muito velho eu acho,
ela diz que sou um playboy dos anos 70,
e ela é uma alma antiga,
uma bem sábia,
muita doçura e uma pitada de pimenta.
Ela zomba de mim porque eu não gosto de Godard,
acha o fim da picada as pornochanchadas que eu adoro gravar,
aceita meu amor pelo Carvana, nisso ela já me deixou em paz,
mas ainda não assina embaixo quando eu compro algum novo cartaz.
Tenho muito a aprender com essa pequena,
devo a ela "Casablanca"
e ela me deve "Eu transo... ela transa".
E veja só, pra quem me apresentou Bogart,
eu bem que me surpreendi
quando ela disse que achava "uó"
o bigode do Errol Flyn.
Mas nós dividimos uma paixão,
Sinatra é mesmo um ponto de conexão,
a não ser quando eu falo de Nancy
e ela diz que é cafonice,
que não aguenta ouvir nem "Something stupid",
mas eu acho que é ciúme.
Tenho muito a aprender com ela,
até sobre Vinicius, sobre Tom,
não porque ela goste mais,
mas porque depois dela tudo fez mais sentido,
cada letra, cada nota,
cada parte de amor e de extravio.
Tenho muito a aprender com essa menina,
Gene Kelly, Fred Astaire,
a paixão pelo teatro,
aceitar tranquilo esse amor de arrasto.
Ah, é muito forte a nossa ligação,
parece que tenho um mundo a aprender com ela,
que tenho muito mais pra ver e ouvir ao lado dela,
e que além dessa, ainda tenho vidas e vidas pra viver por ela.
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Imenso nada
Existe aqui agora, o nada,
sinto o vazio, o oco,
o eco de tantas ausências.
Existe aqui agora, a falta,
a solidão como em uma só lágrima,
o insistente uivar de um vento frio.
Mora em mim esse não cessar de lonjuras,
vê-se a marca cinzelada do sofrer nesse imenso nada,
ouve-se apenas o barulho do silêncio estarrecedor que há aqui dentro.
Existe aqui e agora um grande descontentamento,
um não-acreditar constante,
a falta de fé na vida, na arte,
e até na morte.
Existe aqui agora, em mim,
essa coletânea de absurdos,
esse martelar sombrio dos manuais da felicidade.
Mora aqui dentro, materializado em ausência,
em forma de vento, com gosto de água,
falando a língua dos anjos,
olhando com olhos de criança...
Existe aqui agora,
essa melancolia,
esse peso indiscreto da alma,
esse choro interminável,
essa sombra, essa nuvem negra sob a minha cabeça...
Existe aqui agora,
e eu já não me importo mais.
sinto o vazio, o oco,
o eco de tantas ausências.
Existe aqui agora, a falta,
a solidão como em uma só lágrima,
o insistente uivar de um vento frio.
Mora em mim esse não cessar de lonjuras,
vê-se a marca cinzelada do sofrer nesse imenso nada,
ouve-se apenas o barulho do silêncio estarrecedor que há aqui dentro.
Existe aqui e agora um grande descontentamento,
um não-acreditar constante,
a falta de fé na vida, na arte,
e até na morte.
Existe aqui agora, em mim,
essa coletânea de absurdos,
esse martelar sombrio dos manuais da felicidade.
Mora aqui dentro, materializado em ausência,
em forma de vento, com gosto de água,
falando a língua dos anjos,
olhando com olhos de criança...
Existe aqui agora,
essa melancolia,
esse peso indiscreto da alma,
esse choro interminável,
essa sombra, essa nuvem negra sob a minha cabeça...
Existe aqui agora,
e eu já não me importo mais.
sábado, 23 de janeiro de 2016
Velhinha da janela
Hoje eu vi uma velhinha debruçada na janela,
eram umas seis horas da tarde, ali na maria quitéria,
um último prédio antigo de dois andares,
uma janelinha verde, num dia quente daqueles,
e a velhinha via o mundo passando ali pertinho,
os meninos e as meninas de bicicleta,
as crianças indo e vindo das escolas,
os pais, as mães, os trabalhadores tão cansados,
aqueles mais sofridos e os de sorriso fácil.
A velhinha não tinha tempo pra novos projetos,
não tinha vida pra longas caminhadas,
ela não podia uma porção de coisas,
mas ela sabia do mundo ali pela janela,
ela via nas árvores os passarinhos cantarem,
assistia a melancólica demolição do prédio vizinho,
via o progresso e o caos andarem lado a lado,
ela entendia o mundo, mas demorou tanto, tanto,
que já era chegado o fim da vida...
E ela queria agora contar, queria dizer aos outros,
explicar sua vivência, ditar os manuais da boa vida,
mas ninguém a escutava, era só uma velhinha na janela,
que dava bom dia, boa tarde e raramente boa noite,
era uma velhinha simpática,
de cabelos brancos e vestidos sempre floridos,
era uma velhinha que ficava ali debruçada na janela,
no calor, no caos, no fervor da maria quitéria,
era uma velhinha que ficava na janela,
mas que já não aparece há dias.
eram umas seis horas da tarde, ali na maria quitéria,
um último prédio antigo de dois andares,
uma janelinha verde, num dia quente daqueles,
e a velhinha via o mundo passando ali pertinho,
os meninos e as meninas de bicicleta,
as crianças indo e vindo das escolas,
os pais, as mães, os trabalhadores tão cansados,
aqueles mais sofridos e os de sorriso fácil.
A velhinha não tinha tempo pra novos projetos,
não tinha vida pra longas caminhadas,
ela não podia uma porção de coisas,
mas ela sabia do mundo ali pela janela,
ela via nas árvores os passarinhos cantarem,
assistia a melancólica demolição do prédio vizinho,
via o progresso e o caos andarem lado a lado,
ela entendia o mundo, mas demorou tanto, tanto,
que já era chegado o fim da vida...
E ela queria agora contar, queria dizer aos outros,
explicar sua vivência, ditar os manuais da boa vida,
mas ninguém a escutava, era só uma velhinha na janela,
que dava bom dia, boa tarde e raramente boa noite,
era uma velhinha simpática,
de cabelos brancos e vestidos sempre floridos,
era uma velhinha que ficava ali debruçada na janela,
no calor, no caos, no fervor da maria quitéria,
era uma velhinha que ficava na janela,
mas que já não aparece há dias.
Ela já percebeu
Ela sabe que devo trocá-la por outra,
trocá-la por Marias, por Alice, por Joana,
Ela sabe que vou trocá-la,
trocá-la por amor, por paixão, por instinto,
por vontade louca, por tesão,
por qualquer coisa que só Deus explicaria com clareza.
Ela sabe, ela já percebeu,
notou que vou trocá-la por mim,
vou trocá-la pelas noites em claro,
perdê-la por nada, por capricho, por bobagem,
ela sabe, ela já percebeu,
já andou ensaiando uns desarmes,
já tentou me puxar pelas canelas,
já quis me laçar um pouco mais forte...
Porque ela sabe, ela já percebeu
que eu devo trocá-la por outra,
por Marias, Gabrielas, Carolines,
ela sabe, notou que eu não trazia mais as cores pros meus olhos,
que eu andava distante, disperso, desnorteado,
percebeu meus discursos de amor de repente soando diferente,
notou que não era mais ela ali...
Ela sabe, ela já percebeu,
e eu não sei,
se ainda sei bem do mundo sem ela.
trocá-la por Marias, por Alice, por Joana,
Ela sabe que vou trocá-la,
trocá-la por amor, por paixão, por instinto,
por vontade louca, por tesão,
por qualquer coisa que só Deus explicaria com clareza.
Ela sabe, ela já percebeu,
notou que vou trocá-la por mim,
vou trocá-la pelas noites em claro,
perdê-la por nada, por capricho, por bobagem,
ela sabe, ela já percebeu,
já andou ensaiando uns desarmes,
já tentou me puxar pelas canelas,
já quis me laçar um pouco mais forte...
Porque ela sabe, ela já percebeu
que eu devo trocá-la por outra,
por Marias, Gabrielas, Carolines,
ela sabe, notou que eu não trazia mais as cores pros meus olhos,
que eu andava distante, disperso, desnorteado,
percebeu meus discursos de amor de repente soando diferente,
notou que não era mais ela ali...
Ela sabe, ela já percebeu,
e eu não sei,
se ainda sei bem do mundo sem ela.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
sábado, 16 de janeiro de 2016
Pela janela
Eu pertenço ao escuro do mundo,
a esse lado cada vez mais triste,
eu sou tão dela que nem sei mais como faz
pra ser sozinho aqui nessa cidade...
Porque eu não sei viver aqui,
eu não sei viver assim
andando por aí pela metade,
andando meio morto, transpirando verdades,
caminhando e cantando sem ela,
rezando baixinho pelos cantos,
vomitando em banheiros de bar,
tomando surras, fazendo merda,
eu não consigo mais viver sem ela.
Porque sozinho eu pertenço ao escuro do mundo,
a esse lado cada vez mais triste,
me desguiando, cortando os pulsos,
me desfazendo em letras e poemas,
me envenenando, tomando tudo,
me entregando pra qualquer problema.
Eu já não sei viver sem ela,
nunca aguentei mesmo o peso dessa vida,
e o que eu preciso é de um amor,
um como o dela, bem maior que o mundo,
bem maior que o meu.
Só pra não ver mundo sozinho por aí,
não ser extinto, ter uns três filhinhos,
pra ter a vista do sétimo céu,
pra ter amor com gostinho de mel,
e o arpoador nos olhos dela
pra eu não me jogar pela janela.
a esse lado cada vez mais triste,
eu sou tão dela que nem sei mais como faz
pra ser sozinho aqui nessa cidade...
Porque eu não sei viver aqui,
eu não sei viver assim
andando por aí pela metade,
andando meio morto, transpirando verdades,
caminhando e cantando sem ela,
rezando baixinho pelos cantos,
vomitando em banheiros de bar,
tomando surras, fazendo merda,
eu não consigo mais viver sem ela.
Porque sozinho eu pertenço ao escuro do mundo,
a esse lado cada vez mais triste,
me desguiando, cortando os pulsos,
me desfazendo em letras e poemas,
me envenenando, tomando tudo,
me entregando pra qualquer problema.
Eu já não sei viver sem ela,
nunca aguentei mesmo o peso dessa vida,
e o que eu preciso é de um amor,
um como o dela, bem maior que o mundo,
bem maior que o meu.
Só pra não ver mundo sozinho por aí,
não ser extinto, ter uns três filhinhos,
pra ter a vista do sétimo céu,
pra ter amor com gostinho de mel,
e o arpoador nos olhos dela
pra eu não me jogar pela janela.
Homem lamentador
Terça comum; dia quente, noite de chuva, verão,
o asfalto molhado reflete as luzes dos postes,
todo absurdo da cidade parece que descansa pro amanhecer,
eu não devia, eu não tenho motivos simples pro que vou dizer,
mas fui tomado de novo por um sentimento misantropo incontrolável,
de repente me bateu aqui no peito uma razão, um fardo, um peso indelegável,
estou sentindo que morro mesmo a cada dia,
desmonto palmo a palmo como na elegia de Drummond.
Hoje sinto esse desgosto que já não sentia há tempos,
do mundo não tenho alegrias pra contar,
não quero lembrar, não quero pensar em nada feliz,
hoje por mim, que me perdoem os sensíveis demais,
mas o Rio Doce pode nunca mais desaguar,
Paris pode explodir, europas podem afundar,
deuses podem descer de seus pedestais e não me curvarei,
expiarei a fúria desembestada de seus egos intermináveis
e os olharei com os olhos fundos que me pertencem,
esses mesmos que já não sentem nada...
Viverei o resto de meus dias
de sorriso falso estampado no rosto,
cego e lamentador, solitário,
um homem e seu imenso desgosto.
Viverei tranquilo mesmo sabendo
do teor de todos os meus vaticínios,
sei que essa frieza incorrigível
me deu o poder de abstraí-los.
Hoje não sinto nada, e se bem me lembro ontem também,
do mundo eu nunca quis saber,
sempre enxerguei tudo meio errado, torto,
vai entender...
Hoje por mim pode haver novo big bang, não temo,
permaneço insistente átomo,
lamentando toda nova existência.
Rastejando onde couber essa tristeza,
onde puder estacionar o meu desfecho ressentido,
onde houver sol encoberto pelas nuvens e tragédias inevitáveis,
lá estará essa minha perversa face,
esse eu lírico implacável, sanguinário, inumano,
onde houverem guerras,
assassinatos,
mortes por ciúmes,
o choro das mulheres e crianças;
onde houver devastação,
onde houverem almas cruéis e impiedosas,
onde a dor e o sangue correrem como a água dos rios,
e a fé brotar como nascente,
quando eles precisarem de um outro Deus onipotente,
estarei lá, eu; solitário,
de sorriso debochado estampado no rosto,
um homem lamentador e seu profundo desgosto.
o asfalto molhado reflete as luzes dos postes,
todo absurdo da cidade parece que descansa pro amanhecer,
eu não devia, eu não tenho motivos simples pro que vou dizer,
mas fui tomado de novo por um sentimento misantropo incontrolável,
de repente me bateu aqui no peito uma razão, um fardo, um peso indelegável,
estou sentindo que morro mesmo a cada dia,
desmonto palmo a palmo como na elegia de Drummond.
Hoje sinto esse desgosto que já não sentia há tempos,
do mundo não tenho alegrias pra contar,
não quero lembrar, não quero pensar em nada feliz,
hoje por mim, que me perdoem os sensíveis demais,
mas o Rio Doce pode nunca mais desaguar,
Paris pode explodir, europas podem afundar,
deuses podem descer de seus pedestais e não me curvarei,
expiarei a fúria desembestada de seus egos intermináveis
e os olharei com os olhos fundos que me pertencem,
esses mesmos que já não sentem nada...
Viverei o resto de meus dias
de sorriso falso estampado no rosto,
cego e lamentador, solitário,
um homem e seu imenso desgosto.
Viverei tranquilo mesmo sabendo
do teor de todos os meus vaticínios,
sei que essa frieza incorrigível
me deu o poder de abstraí-los.
Hoje não sinto nada, e se bem me lembro ontem também,
do mundo eu nunca quis saber,
sempre enxerguei tudo meio errado, torto,
vai entender...
Hoje por mim pode haver novo big bang, não temo,
permaneço insistente átomo,
lamentando toda nova existência.
Rastejando onde couber essa tristeza,
onde puder estacionar o meu desfecho ressentido,
onde houver sol encoberto pelas nuvens e tragédias inevitáveis,
lá estará essa minha perversa face,
esse eu lírico implacável, sanguinário, inumano,
onde houverem guerras,
assassinatos,
mortes por ciúmes,
o choro das mulheres e crianças;
onde houver devastação,
onde houverem almas cruéis e impiedosas,
onde a dor e o sangue correrem como a água dos rios,
e a fé brotar como nascente,
quando eles precisarem de um outro Deus onipotente,
estarei lá, eu; solitário,
de sorriso debochado estampado no rosto,
um homem lamentador e seu profundo desgosto.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Tristeza e felicidade
De quando em vez eu preciso de algo leve pra pôr no papel,
preciso de clichês úteis,
dos olhos cheios pelo pôr do sol,
da família perfeita, do amor incondicional,
e eu preciso disso pra tirar o peso da tristeza de mim,
o peso da repetição, dessas lamúrias,
desse fado interminável...
Preciso tirar alguma luz dessa minha existência desacreditada,
eu preciso de quando em vez, dessa intercessão,
da minha paixão pelos postos, pelas areias,
pelas meninas de biquinis amarelos,
pelas pedras grandes e também pelas pequenas portuguesas,
preciso de paixão pelos astros,
de fé, de amor inexplicável,
eu preciso acreditar em qualquer coisa.
E quando isso acontece, ando tão perdido como quando ando triste,
me parece tão insustentável a realidade menos dura,
a vida menos desgastante, o amor por toda parte,
me parece tão infantil, tão desarmonioso,
sinto-me enganado, quase que num transe...
Seria a felicidade feita pra ser só essa coisa passageira?
Esse amontoado de luz imprevisível,
essa sensação de peito aberto e cheio,
de ar mais leve, de olhos luzidos até pro espelho?
Ou poderia ser a felicidade um terreno verde, plano, pleno,
o descanso da própria terra, plaino do repouso de gaia...
ah, será a felicidade um dia como a tristeza?
Poderá ela manter-se todo o tempo em atividade,
ser tão enérgica nas suas obrigações,
tão solícita e eficiente em sua empreitada como é a tristeza,
ou será essa uma possibilidade que não existe?
Seria a felicidade apenas um rapaz franzino apaixonado,
um rapaz franzino adoentado,
desses que traz aquela cara
de que não dura muito pelo mundo?
Ah, poderá a felicidade com a tristeza,
poderá esse rapaz de corpo roto cruzar a planície da tristeza,
enfrentar o plaino das lamentações,
romper a passos firmes tantos desamores que jazem na pradaria,
tanta angústia, tanta desolação, meu Deus?
Ah, a felicidade não tem a plenitude,
a felicidade é só um rapaz amargurado,
desses que não dura muito,
desses que traz no peito uma grande aflição,
um luto, um desconsolo que não tem perdão,
daqueles que consome a gente,
que subtrai todas as forças até o pender inevitável,
os joelhos no chão, os olhos vazios chorosos,
a renúncia diante do inelutável fim...
A felicidade é um rapaz doente,
e a tristeza essa pradaria interminável,
plana, plena e impiedosa.
preciso de clichês úteis,
dos olhos cheios pelo pôr do sol,
da família perfeita, do amor incondicional,
e eu preciso disso pra tirar o peso da tristeza de mim,
o peso da repetição, dessas lamúrias,
desse fado interminável...
Preciso tirar alguma luz dessa minha existência desacreditada,
eu preciso de quando em vez, dessa intercessão,
da minha paixão pelos postos, pelas areias,
pelas meninas de biquinis amarelos,
pelas pedras grandes e também pelas pequenas portuguesas,
preciso de paixão pelos astros,
de fé, de amor inexplicável,
eu preciso acreditar em qualquer coisa.
E quando isso acontece, ando tão perdido como quando ando triste,
me parece tão insustentável a realidade menos dura,
a vida menos desgastante, o amor por toda parte,
me parece tão infantil, tão desarmonioso,
sinto-me enganado, quase que num transe...
Seria a felicidade feita pra ser só essa coisa passageira?
Esse amontoado de luz imprevisível,
essa sensação de peito aberto e cheio,
de ar mais leve, de olhos luzidos até pro espelho?
Ou poderia ser a felicidade um terreno verde, plano, pleno,
o descanso da própria terra, plaino do repouso de gaia...
ah, será a felicidade um dia como a tristeza?
Poderá ela manter-se todo o tempo em atividade,
ser tão enérgica nas suas obrigações,
tão solícita e eficiente em sua empreitada como é a tristeza,
ou será essa uma possibilidade que não existe?
Seria a felicidade apenas um rapaz franzino apaixonado,
um rapaz franzino adoentado,
desses que traz aquela cara
de que não dura muito pelo mundo?
Ah, poderá a felicidade com a tristeza,
poderá esse rapaz de corpo roto cruzar a planície da tristeza,
enfrentar o plaino das lamentações,
romper a passos firmes tantos desamores que jazem na pradaria,
tanta angústia, tanta desolação, meu Deus?
Ah, a felicidade não tem a plenitude,
a felicidade é só um rapaz amargurado,
desses que não dura muito,
desses que traz no peito uma grande aflição,
um luto, um desconsolo que não tem perdão,
daqueles que consome a gente,
que subtrai todas as forças até o pender inevitável,
os joelhos no chão, os olhos vazios chorosos,
a renúncia diante do inelutável fim...
A felicidade é um rapaz doente,
e a tristeza essa pradaria interminável,
plana, plena e impiedosa.
Alma antiga
Cruzei uma alma antiga essa noite,
senti o peso da sua vida arrastada,
percebi que os olhos dela deviam dizer como sentia a vida,
notei o cansaço das grandes atribulações,
o desespero pelo corpo a qual estava presa.
Era uma menina linda, um lírio esbranquiçado,
com os cabelos pretos encaracolados desajeitados pelo vento,
com morte nos olhos e indiferença pelo tempo,
com covas no rosto e esparsas rugas de desgosto.
Cruzei essa alma antiga por obra divina,
creio que tenha sido porque alguém precisava pintar esse quadro,
alguém que enxergasse direito,
alguém deveria escrever-lhe um ato, um ato de desatino,
alguém precisava chorar por ela e pela angústia que trazia,
orar por ela, pedir por ela, abraça-la,
fazer sentir as batidas do coração de novo,
guia-la ao destino certo das almas antigas,
entrega-la ao amor e a sabedoria.
Era mesmo uma menina linda, mas trazia aquela morte nos olhos,
e pendia pros lados escuros como se outras almas pesassem sobre ela,
transpirava clarividência, flutuava pelas calçadas com seu corpo celeste,
desfilava pela cidade suas delícias incantáveis,
e eu perderia tempo tentando dizê-la melhor,
tentando cantá-la como faço com qualquer outra...
Só sei que trazia o passo das almas antigas,
tinha as pernas fortes das almas antigas,
tinha o sorriso raro e vertiginoso das almas antigas,
vinha com a tristeza e a felicidade das almas antigas...
E eu precisava escrevê-la, dar-lhe nova vida,
eu precisava pinta-la, guarda-la comigo,
pra ter pra mim, pra entregar ao mundo,
libertar verdades sobre almas antigas,
mas falhei, ela passou por mim tão apressada,
tão ligeira no seu passo que me faltou tempo,
e então eu só senti, senti por um segundo o perfume,
e corri, corri pra casa pra escrever com o que tinha.
senti o peso da sua vida arrastada,
percebi que os olhos dela deviam dizer como sentia a vida,
notei o cansaço das grandes atribulações,
o desespero pelo corpo a qual estava presa.
Era uma menina linda, um lírio esbranquiçado,
com os cabelos pretos encaracolados desajeitados pelo vento,
com morte nos olhos e indiferença pelo tempo,
com covas no rosto e esparsas rugas de desgosto.
Cruzei essa alma antiga por obra divina,
creio que tenha sido porque alguém precisava pintar esse quadro,
alguém que enxergasse direito,
alguém deveria escrever-lhe um ato, um ato de desatino,
alguém precisava chorar por ela e pela angústia que trazia,
orar por ela, pedir por ela, abraça-la,
fazer sentir as batidas do coração de novo,
guia-la ao destino certo das almas antigas,
entrega-la ao amor e a sabedoria.
Era mesmo uma menina linda, mas trazia aquela morte nos olhos,
e pendia pros lados escuros como se outras almas pesassem sobre ela,
transpirava clarividência, flutuava pelas calçadas com seu corpo celeste,
desfilava pela cidade suas delícias incantáveis,
e eu perderia tempo tentando dizê-la melhor,
tentando cantá-la como faço com qualquer outra...
Só sei que trazia o passo das almas antigas,
tinha as pernas fortes das almas antigas,
tinha o sorriso raro e vertiginoso das almas antigas,
vinha com a tristeza e a felicidade das almas antigas...
E eu precisava escrevê-la, dar-lhe nova vida,
eu precisava pinta-la, guarda-la comigo,
pra ter pra mim, pra entregar ao mundo,
libertar verdades sobre almas antigas,
mas falhei, ela passou por mim tão apressada,
tão ligeira no seu passo que me faltou tempo,
e então eu só senti, senti por um segundo o perfume,
e corri, corri pra casa pra escrever com o que tinha.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Assinar:
Postagens (Atom)