segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Tristeza e felicidade

De quando em vez eu preciso de algo leve pra pôr no papel,
preciso de clichês úteis,
dos olhos cheios pelo pôr do sol,
da família perfeita, do amor incondicional,
e eu preciso disso pra tirar o peso da tristeza de mim,
o peso da repetição, dessas lamúrias,
desse fado interminável...

Preciso tirar alguma luz dessa minha existência desacreditada,
eu preciso de quando em vez, dessa intercessão,
da minha paixão pelos postos, pelas areias,
pelas meninas de biquinis amarelos,
pelas pedras grandes e também pelas pequenas portuguesas,
preciso de paixão pelos astros,
de fé, de amor inexplicável,
eu preciso acreditar em qualquer coisa.

E quando isso acontece, ando tão perdido como quando ando triste,
me parece tão insustentável a realidade menos dura,
a vida menos desgastante, o amor por toda parte,
me parece tão infantil, tão desarmonioso,
sinto-me enganado, quase que num transe...

Seria a felicidade feita pra ser só essa coisa passageira?
Esse amontoado de luz imprevisível,
essa sensação de peito aberto e cheio,
de ar mais leve, de olhos luzidos até pro espelho?

Ou poderia ser a felicidade um terreno verde, plano, pleno,
o descanso da própria terra, plaino do repouso de gaia...
ah, será a felicidade um dia como a tristeza?

Poderá ela manter-se todo o tempo em atividade,
ser tão enérgica nas suas obrigações,
tão solícita e eficiente em sua empreitada como é a tristeza,
ou será essa uma possibilidade que não existe?

Seria a felicidade apenas um rapaz franzino apaixonado,
um rapaz franzino adoentado,
desses que traz aquela cara
de que não dura muito pelo mundo?

Ah, poderá a felicidade com a tristeza,
poderá esse rapaz de corpo roto cruzar a planície da tristeza,
enfrentar o plaino das lamentações,
romper a passos firmes tantos desamores que jazem na pradaria,
tanta angústia, tanta desolação, meu Deus?

Ah, a felicidade não tem a plenitude,
a felicidade é só um rapaz amargurado,
desses que não dura muito,
desses que traz no peito uma grande aflição,
um luto, um desconsolo que não tem perdão,
daqueles que consome a gente,
que subtrai todas as forças até o pender inevitável,
os joelhos no chão, os olhos vazios chorosos,
a renúncia diante do inelutável fim...

A felicidade é um rapaz doente,
e a tristeza essa pradaria interminável,
plana, plena e impiedosa.

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