Com os olhos opacos
de frente a um sol que não perdoava ninguém,
tinha um menino sentado num banquinho,
um menino com uma escuridão tão grande nos olhos
que poderia engolir o mundo...
Era uma tristeza de parar pra olhar,
não me atreveria a perguntar de onde vinha,
ele parecia tão concentrado,
tão íntimo daquela condição,
tão distante da infância,
da alegria de ser ainda jovem.
Eram olhos de uma desilusão
incompatível com a imaturidade daquela existência.
E eu nunca saberei do que se tratava,
qual seria a fonte...
Teria sido a perda de um pai,
um avô,
ou ser sozinho no mundo,
estar perdido,
estar doente,
uma topada, um dia ruim,
uma discussão, cansaço.
O que eu sei
é que a escuridão dos olhos dele
brigava com o sol,
com o reflexo do sol no mar,
e com o reflexo do sol nas areias também,
eu nunca tinha visto tanta treva em duas esferas.
E não tirava da cabeça
a interrogação,
o sofrimento, qual seria?
De onde vinha o véu negro
que cobria aquela jovem presença,
qual seria o luto,
de onde jorrava tanta incompreensão.
Mas passei, passei antes que pudesse
compreender a fundo qualquer coisa,
antes mesmo que ele se mexesse,
que olhasse pro lado ou me visse...
E assim, permanecerá como esfinge pra mim
toda a escuridão que encontrei naquele menino.
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