terça-feira, 22 de setembro de 2015

Fiz pra você

Essa eu fiz pra você,
fiz pra você ler sorrindo,
fiz pra cantar quando te ver,
eu fiz,
fiz pra fazer você feliz,
pra tirar do meu peito
meia dúzia de palavras
que não falassem das dores,
que nos lembrassem das flores,
que nos fizessem sorrir.

Essa eu fiz pros teus olhos,
pros teus sinceros castanhos,
eu fiz pra você inteirinha,
tuas marcas, tuas covinhas,
eu fiz, e fiz sorrindo,
fiz porque você pediu,
mas não fiz contrariado,
eu fiz pra tirar do meu peito
um pouco desse amor tão bem guardado.

Eu fiz numa noite qualquer,
fiz e guardei num cantinho,
fiz e deixei esquecido
até você lembrar de mim.

Eu fiz, eu fiz como quem faz um pedido,
como quem queria muito estar contigo,
fiz e escondi direitinho,
pra ninguém estragar o meu pedido.

Essa eu fiz pra você,
fiz pra você ler sorrindo,
fiz pra cantar quando te ver,
eu fiz,
fiz pra você me querer,
pra não me deixar sozinho,
fiz pra você pensar
em me usar nem que fosse só um pouquinho,
pra ter vontade de me decifrar,
eu fiz pra te tirar mais que um sorriso.

domingo, 20 de setembro de 2015

Um olhar

Escrevo-te pela manhã
pra dizer que até amanhã,
se eu não morrer de saudades,
eu vou morrer de você.

Peço para Deus,
pelos céus e o redentor,
um olhar seu de novo,
nem que seja um olhar de lado,
para me trazer de volta a vida,
sem sofrer.

O café faz de toda manhã
algo especialmente teatral,
e eu que nunca fui disso,
tenho sentido um incurável baixo-astral...

Já nem sei direito quem eu sou,
não sei no que eu me tornei,
vivo tão torcido,
eu passo sempre a minha vez de ser feliz.

Peço para Deus,
pelos céus e o redentor,
um olhar seu de novo,
nem que seja um olhar desconfiado,
um olhar assim de lado,
para me trazer de volta a vida,
sem sofrer,
para me trazer de volta a vida,
sem sofrer.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Solar demais

Ela é solar demais pra mim,
não conseguiria me amar daqui,
do meio dessa escuridão,
do meio desse canto tão sombrio da vida...

E eu sempre soube que seria assim,
não conseguiria tê-la pra mim,
do meio desse ponto estranho,
daqui do meio desse temporal...

Não poderia tira-la dos braços do sol,
eu não faria esse mal as areais,
eu não poderia mesmo rouba-la,
não tiraria aquele corpo dos olhos do céu,
dos olhos do céu,
dos olhos do céu azul.

Porque ela é solar demais pra mim,
e não poderia me amar assim,
sendo quem é,
e eu sendo quem sou,
sendo quem é,
e eu sendo quem sou...

Somos um amor inviável,
dois mundos distantes demais
se permanecermos dois,
se permanecermos nós.

Porque ela é solar demais pra mim,
e eu sou tão triste,
ela é solar demais pra mim,
e eu sou o escuro do mundo,
ela é solar demais pra mim,
e eu sou um estúpido...

Por permanecer assim,
permanecer assim.

domingo, 13 de setembro de 2015

Sereníssima

Eu ainda me assusto quando amanhecem os dias,
quando o sol insiste em revelar a escuridão que a noite é,
e me assusto talvez por falta de luz própria,
me bate um certo desespero quando vejo o céu azul,
não quando é aquele azul habitual,
mas quando é aquele azul infinito e perturbador
que pertence ao verão e a alguns poucos dias do outono.

Não tenho luz pra isso,
me encontro muito mais facilmente na aura de desespero das noites,
não sei exatamente o motivo,
mas deve ser pelo ar fingido de tranquilidade,
pelo silêncio,
o abrandamento de toda aquela fúria de viver que trazem os dias.

Não suporto, não entendo,
eu não tenho esse cacoete,
não deixei crescer dentro de mim,
vivo como um marinheiro embarcado,
gosto de me imaginar um Gene Kelly incompreendido,
passo dias descontinuado e as noites em terra firme.

Não sou do sol, tenho até certa simpatia,
mas não pertenço, não devolvo o amor que ele me dá,
há certa fascinação, sim, certa deferência,
mais até pelos deuses pagãos do que pela função do astro de fato,
e há certo medo também, alguma covardia em mim,
um espanto qualquer, junto de algo como; um magnetismo,
uma coisa que me atrai mas que também me desprende sem nenhum pesar,
sem nenhum sofrimento.

Já as noites tem de mim a versão mais completa,
o sorriso mais sincero,
os olhos mais brilhantes,
porque depois que o sol se põe; devo dizer que sou menos eu,
mas que sou um eu muito mais equilibrado.
Tendo a ter mais vontades, ser tomado de absurdos,
de palavras fortes, de sistemáticas inspirações,
que recheiam com soberba erudição essas longas horas
de meio mundo de costas para o sol,
que dão nome e sabor as felicidades, poesias as meninas,
crônicas aos deuses, odes as cidades, sonetos aos montes,
músicas aos grandes homens.

É da noite a minha versão mais completa,
porque é nela que eu me encontro,
é nela que eu vejo verdade,
é nela que eu encontro liberdade e me desmancho,
é nela que eu me sinto a salvo e me refaço,
é pra ela que eu minto,
pra ela que eu me confesso,
é com ela que eu converso e me explico,
é por ela que quando passo, faço graça,
é dentro dela que eu esqueço qualquer ameaça,
as do futuro, dos dias, dos homens maus,
as das minhas meninas e as da morte de quem eu amo,
as ameaças do tempo, que me tem sido esse inimigo próximo,
um vizinho chato, pouco cordial
e que só faz passar, e passar e passar...

É pela noite, sim,
pelas noites,
enquanto fujo dos dias,
me escondendo de outras vidas,
navegando em solidão,
absorvendo belezas,
desconstruindo paisagens e obras inteiras...
é pelas noites,
só pelas noites,
por elas,
pra elas,
sereníssimas noites.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Te revivo

Repito cenas na minha cabeça,
eu sonho o tempo todo com você,
eu mudo tudo o que eu fiz de errado
e ainda dói tanto saber...

Que fui eu que te deixei partir,
que a culpa foi toda minha
e é só por isso que não te tenho aqui.

Às vezes até acordo chorando,
eu lembro de cada cantinho seu,
e mudo sempre a cor dos teus olhos,
o brilho que era tão especial.

Tenho saudades de te tatear,
de apertar teus ombros,
de te beijar na cama,
e eu morro um pouco disso a cada dia,
eu morro dessa falta que eu sinto, desse frio.

E cada aperto no meu coração,
é um pedaço teu
que dá um suspiro aqui dentro de mim.

Repito cenas na minha cabeça,
eu sonho o tempo todo com você,
eu mudo tudo o que eu fiz de errado,
porque eu já não aguento mais esse viver...

Sem você, o mundo me parece um lugar estranho,
confundo outras meninas da cidade,
eu choro de repente pedalando à noite
e grito que te amo pra ninguém ouvir.

Sem você, eu juro que não tenho intenções,
nem boas nem ruins,
não quero nada com ninguém,
eu sou apenas o vulto do que um dia eu fui,
e quando eu volto a ser alguém... é por você.

É quando eu refaço os passos que nós demos,
recordo as descobertas e até as hesitações,
é quando eu me lembro do teu sorriso,
quando eu me retiro da vida mesquinha,
quando eu te revivo,
quando eu te trago de novo pra mais perto,
mesmo que seja só aqui, dentro de mim.

Teje morta

Meu amor, eu tenho umas verdades para lhe dizer,
e eu tenho tudo em suaves notas
que é pra lhe satisfazer,
eu escrevi de noite, foi numa madrugada,
do dia dois ou três,
já não me lembro bem, só lembro que ninguém
tirava de mim algo que não fosse dor...

E agora eu tenho aqui, tudo para lhe entregar,
a dor na tinta e no papel,
como se eu tivesse feito do amor uma sangria
e tivesse curado a febre que me mataria
amanhã de manhã.

E meu amor, eu espero que haja um contágio,
eu espero que você se mate com a minha dor,
e se não se matar, eu espero que você,
não passe dessa noite,
não passe dessa noite,
não passe dessa noite...

Mas se você passar, eu prometo que faço uma serenata,
eu boto uma gravata pra ir te encontrar,
eu canto pra sua varanda, toco até te cansar,
até te ver sair voando da sacada,
até te ver de cara, de cara na calçada.

Meu amor, eu te odeio,
eu te quero, a sete palmos do chão,

Meu amor, vá pro inferno,
eu te quero, gelada num caixão.

E se você ficar, se no fim não se matar,
eu espero que você não passe dessa noite,
não passe dessa noite,
não passe dessa noite.

Imagem do dia!


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Dia voa

O dia voa lá fora,
o tempo é lento,
é vento que faz barulho na janela,
já é setembro.

Daqui de dentro só noto coisas óbvias,
me foge tudo aquilo que não está bem debaixo do meu nariz,
só percebo mesmo o que me aparece na base da dor,
esse desassossego, esse aperto agudo no peito,
o mal-estar, esse não estar com você.

É um tremendo sofrimento,
sensação sufocante de que te perdendo
eu perdi uma parte importantíssima de mim,
uma grande parte, cheia de sentimentos bons,
de bons olhos para com o mundo,
de boa vida, vida fácil,
do jeito que gostávamos,
dando os jeitos que nós dávamos.

O dia voa lá fora,
o tempo é lento,
é vento que faz barulho na janela,
e ela...

Ela anda por aí dividindo a vida com outro,
perdendo tempo dessa vinda com outro,
sabe-se lá o que eu deveria fazer,
hoje só sei do que eu não fiz,
porque isso é tudo o que eu faço,
desfaço, desando,
desmancho, desato,
eu me despedaço.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Língua nos dentes

Ela deve ter ficado sabendo que eu não presto,
alguém deve ter dito,
alguém deve ter dado com a língua nos dentes.

Não tenho suspeitos,
não ligo,
não penso mais nisso.

Mas é que quando me lembro,
eu fico assim,
me sinto traído.

Ela me trocou por um outro latino,
por um com berço de ouro
e sobrenome bonito.

Ela me trocou por bons motivos,
ficou sabendo que eu não presto,
ficou sabendo que eu sou triste.

E quando eu lembro,
quando são dias assim
que me trazem ela sem aviso...

Eu esperneio por dentro,
sinto raiva e um vazio tremendo,
depois sinto que não presto mesmo...

E que ela fez muito bem
sendo assim tão linda e serena,
tão feita pro amor...
ela merecia um outro alguém,
merecia um salvador.

E quando eu me lembro disso,
sou tomado por um grande alívio,
não faço mais mal nenhum a ela
e posso voltar aos meus vícios.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Imagem do dia!


Turquesa

Me parecia vir toda em turquesa,
com os cabelos cor de abóboras celestes,
me parecia ter saído de um romance,
não fosse um lance assim tão casual.

Ela tinha um sorriso sereníssimo,
tão absurdo e ao mesmo tempo festivo,
ela era uma dama completa,
era uma peça inteira,
um romance pra ler segunda-feira
e deixar a semana doce doce de viver.

Tinha os olhos muito verdes,
dois faróis imperdoáveis,
eram sentimento em cor,
dois autores de destinos,
dois possíveis cruéis assassinos.

Foi num canto meio escuro,
num lugar bastante ingrato
que me entregaram ela nos olhos,
foi num dia bem furado,
eu quase nem saí de casa,
e aí ela estava lá,
e quantas vezes será que não esteve?

Me parecia sair de um filme do Woody Allen,
não entendi, eu quase morri com aquelas cores,
e por acaso acho que se fosse tudo em preto e branco,
eu certamente me apaixonaria também,
porque os olhos falavam
o que boca não disse,
e o sorriso era um fado,
a voz de Amália Rodrigues.