terça-feira, 5 de julho de 2011

Reticências

Um a um vão-se os anos
vão se espelhando no rosto
marcando em rugas a dor e o amor...

Esvanecem pelo caminho os amigos e histórias
esmerilham-se pouco a pouco as memórias
fica tudo pra trás...

E as noite insones tão queridas e vivas
em que as idéias gritavam e se deixavam nuas pra eternizar,
vão ficando raras, vão fazendo a noite se tornar menos amada,
um divórcio longo e sem lágrimas.

Um a um somem os irmãos,
ficam as pedras e o homem só.
As areias em que pisamos jovens
e os velhos hábitos de quem já viveu melhor.

A cidade muda, molda novas visões, intriga outras retinas.
Leva por vezes outras vidas, que inocentes ainda não conheciam seus becos sem volta.

Um a um perdem-se os amores,
faz-se menos necessária a conquista.
E assistimos então o espetáculo do fim da vida!

Onde almas se cruzam, as próximas e as nossas,
ficam por igrejas e outros enclaustros tolos,
onde fabricamos felicidade pra fingir viver sem dor
e trocamos o brilho dos olhos por essa falsa festa,
onde se dança valsa ao som de marcha fúnebre
e comemora-se essa morte lenta a dois que vira um prêmio do acaso.

Um a um dobram-se os joelhos,
vestem-se os ternos de cerimônia.
E se inicía o martírio familiar onde o morto é amado e tão doce,
antes fosse sempre assim...

Mas hoje em passos lentos, sob o sol do fim da tarde
vejo que meus ensinamentos são pouco fundamentais
há anos sou só e coadjuvante sem agonia do meu definhar.

Onde por fim, serei pedra, pó, planície
e uma vida inteira poderá se fazer assim
lapidada num epitáfio curto e com reticências...

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