Chama-se "A entrega", finalmente a nomeei,
e faz muito sentido, sou mesmo esse perdedor,
vivo entregue, estou sempre disposto a desistência,
sempre à fim de um cessar-fogo,
eu sou do lado rendido,
eu sou do canto mais escuro.
E a entrega nada mais é, que eu mesmo,
nada menos que eu, apenas,
um,
só,
ser.
Ser que ao ouvir qualquer divagação cansativa,
qualquer dilema mais intenso,
qualquer vontade que absorva demais... entrega-se;
desiste, pula fora,
vai e diz adeus a todos em saudação de carnaval,
parte, sai com tudo...
Some das vistas dos homens de exatas,
dos intrépidos imodestos,
dos loucos de pedra,
dos existencialistas,
modernistas, dos que falam muito
e dos que ouvem demais,
dos burros e inteligentes,
de todos os insistentes também.
E dá-se a fuga nada sorrateiramente,
dá-se como grande vitória,
como momento de paz e provação,
dá-se como verdadeiro carnaval,
momento de amor ao próximo e a si mesmo;
Dá-se a fuga em grande estilo,
acontece com maestria,
com sorriso de canto de boca e olhos fixos
nas infinitas possibilidades que existem logo a frente.
E a entrega é grande companheira também,
doadora de tristezas e felicidades,
de momentos atordoadores
mas também de grande plenitude.
E dá-se a entrega sempre com essa absoluta certeza,
essa certeza que existe nas coisas mais vívidas,
como há na infalibilidade do dia que nascerá amanhã de manhã.
A entrega é amor e dor,
amore e fiore, l'amour toujours.
A entrega é solitude, multidão,
é perder-se e encontrar-se,
é para o fim, sempre novo começo.
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