No fundo eu sempre estive ali
perdido entre a decisão e a poesia,
de olhos ressentidos desbravando algum lugar
entre minha alma e o resto de mim.
Acontece que eu sempre estive longe,
eu nunca fui meu mesmo,
havia alguma coisa ali, além,
alguma coisa muito forte, sentimento flutuante,
um ódio, uma tristeza inexaurível.
Algo que existia e só,
que não se sabia bem o que era,
algo que só se sente,
se sente, e dói,
e dói mais ainda esse não saber.
Porque no fundo eu sempre estive ali,
presente nesse não estar,
nesse não saber,
feliz com toda ausência,
satisfeito em sentir falta e em sê-la,
acostumado a todo fim,
ao desabar de novos e velhos castelos,
ao derramar das lágrimas boas e ruins,
ao fundo do poço, ao poço mais fundo,
eu sempre estive ali.
E estive assim, como quem não quer nada,
como quem não quer nada mesmo,
movido a minhas dores,
aos meus bons e maus momentos,
tracionado pelo mundo que não conheci,
regado pelo desgosto,
pela total inexistência desse amor que nunca tive,
amor que nunca recebi,
embrenhado na mata das paixões sem sentido,
cortado pelo arame dos ressentimentos que guardo comigo,
me afogando no mar das lonjuras que sinto.
No fundo, é,
eu sempre estive ali,
no fundo.
Morto,
vivendo de outras vidas,
Regando os mesmos erros,
e as mesmas dores.
Vivendo de novo,
morrendo de novo.
Colhendo sempre as mesmas malditas flores.
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