Nutro amor inexplicável por gente que desiste,
sinto forte identificação,
sofro junto, quase choro,
há uma enorme compaixão.
E elas quase sempre desistem primeiro,
principalmente se o assunto sou eu,
elas sempre desistem de mim,
não conseguem entender o que falo
e muito menos tudo aquilo que eu não digo.
E assim, sofro como cão sem dono,
passando por elas, atravessando aquelas vidas,
e sendo deixado para outra hora,
sendo deixado para depois;
é incrível como elas sempre desistem de mim.
E eu, eu só mantenho esse meu amor em silêncio,
faço um ritual na fonte inesgotável que há em mim,
e rezo baixinho, peço novamente por amor táctil,
amor daqueles que temos por coisas pequenas,
por pequenas coisas que às vezes são importantes demais.
Peço, mas peço por pedir,
não me faço de difícil,
qualquer deslize, qualquer dúvida,
e eu desisto.
Sou desses, sou disso,
nada que eu quero eu realmente preciso,
nem de amor,
seja ele incorpóreo ou tangível.
Nutro amor, sim, mas não mais por elas,
é tudo pela capacidade delas de me abandonarem,
pela facilidade com que desistem,
pela falta daquele amor constante
que dura vidas e inspira mortes.
Na verdade,
hoje eu nutro amor é por essa cumplicidade não planejada,
essa forte identificação, essa coisa perversa e doce,
essa compaixão absurda pelos seres que desistem,
seres que abrem mão de qualquer coisa.
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