segunda-feira, 19 de dezembro de 2022
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
Sádica vontade
Sádica vontade
de fazer tudo que quero,
mesmo sabendo por mim
que o que eu quero dá errado.
Viver vaticínios dói demais,
o que dá na veneta é tão melhor.
Quase nunca é possível ser feliz,
acredite,
o joelho ralado faz parte do processo.
Vá meu coração, sem medo,
e tome o lugar do que me faz humano.
Vá meu coração, sem medo,
pro lugar de paz que é estar parado.
Quase nunca é claro,
quase sempre é tudo errado...
Sádica vontade
é permanecer humano.
Desafogo
Desafogo de minhas mágoas
é pensar no mundo novo
mundo novo muito velho
muito fácil de viver
É ter meus poetas mortos
como vivos muito perto
muito perto de minhas mágoas
meus poetas vivem mais
São os bruxos que eu levo
e que me levam à tira colo
meus assuntos, minhas conversas,
os meus mais sinceros votos
Como quem caminha e morre
como quem pro inferno vai
eu espero a minha hora
abdico à minha paz
Não espero muitos louros
só as pedras do caminho
quase sempre sigo torto
pra onde for eu vou sozinho
Desde que fui desafogo
e pensei em mundo novo
mundo novo muito velho
bem mais fácil de viver
quinta-feira, 8 de setembro de 2022
Refaz
Não vivo mais poesia,
vivo de treva e disrupção,
de agruras bem apanhadas,
de arrasto e coração na mão.
Por falta de bom companheiro,
por falta de abraço e de opinião,
falta de bom conselho,
de mesa farta, fogo e carvão.
Às vezes a tarde me pega,
às vezes me pega a manhã,
mas a noite é que sempre me leva
e é aí que eu preciso lembrar de amanhã.
Que a vida sem poesia,
é mesmo treva, difícil demais,
mas se os mares dos olhos reagem,
seguimos viagem, tudo se desfaz;
E é vivendo as coisas queridas,
as coisas mais lindas,
que o amor se refaz.
Sincero mendigo
Sem caminho percorrido
suspendo meu dom mais querido,
peço, eu, sincero mendigo;
preciso de um pouco disso.
Converso com Deus,
é com ele, acredito;
deve ser diretamente,
criar beleza é coisa dele.
Não que eu faça,
mas eu tento,
e preciso do meu tempo,
de cravar as coisas certas,
com palavras bem precisas,
e guardar mágoas sinceras...
Ler amores que eu não tenho.
Converso com Deus,
só ele sabe ao que me refiro,
tem base de que é grave,
conhece bem seu filho.
Não que eu me mate,
mas talvez eu tente.
É que eu preciso do meu tempo,
de jogar coisas incertas ao vento,
com palavras imprecisas
lavando as mágoas no rio de lágrimas
que dei por ser a nascente.
Sem caminho percorrido,
suspendo.
Espero as ordens das esferas,
e peço, humilde,
eu ainda preciso de um pouco disso.
Ser da cidade
Ela pisa leve,
carrega o descompromisso,
pelos dias claros,
sofro pelo que não sinto...
Atravessa corações,
deságua sempre no mar,
faz calor porque não sente
nada além do que o sabor da vida.
E segue por aí fingindo muito,
liga pra ninguém, porque ela é muito,
zarpa de manhã e aporta à noite,
vive como uma porta-bandeira
sem medo de perder o dez.
Gira pela cidade,
sequestra os corações,
linda, um ser da cidade,
transpira acestralidade,
alma velha, clarão de luz,
alma velha, centelha que produz...
Amor nos corações
que desaguam no mar,
faz calor o que tu causa,
nada além do que o sabor
da vida contigo na paisagem,
da vida dos meninos
que te tem por vaidade.
Amor nos corações,
deságuam no mar,
calor, calor,
e as vestes de verão,
as festas que a verão dançar...
Gira pela cidade,
sequestra os corações,
linda, um ser da cidade,
transpira ancestralidade,
alma velha, clarão de luz,
alma velha, centelha que produz...
Amor e fundo do poço
Amor e gosto de sangue na boca dos outros
Amor e aquela vontade de salto profundo
Amor e fuga do mundo
Sacada e fuga do mundo
quinta-feira, 30 de junho de 2022
segunda-feira, 20 de junho de 2022
Velho hábito
Desacato, destempero,
velhos hábitos,
reclamo, sofro,
tenho sofrido bastante,
em baixo volume,
por trás das estantes.
Somos falhos,
demasiadamente humanos,
e agora, improfundo,
dono de uma rasura que me arrebatou,
que me segurou e me enfraqueceu,
do alto desse nada,
direto desse lugar nenhum,
maldigo a vida,
como em um velho hábito...
Por destempero, desacato,
e por tê-la comigo,
trazê-la sempre comigo...
A esquecida face da realidade,
dos mundos imperfeitos,
das vidas miseráveis,
dos atos mais horrendos,
as coisas detestáveis.
Por destempero, desacato,
velho hábito de ter comigo,
trazer comigo o inatacável,
fato acurado, o indiscutível...
Nós somos falhos
seres esfíngicos,
de simplórios corpos,
com desertos e labirintos,
com pegadas gélidas
e temíveis calores sísmicos,
forças telúricas e divinais.
Nós somos falhos,
por destempero, desacato,
por sermos simplórios e infinitos,
por sermos odiosos e magníficos,
por absurdos e pequenices,
misantropia, bom velho hábito.
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Sigo acreditando
Sigo acreditando
que toda beleza é um sinal,
vivo por azuis iguais ao céu,
eu vivo por azuis iguais aos seus
E as vestes de mar
e o ver-te sorrir
o verde da mata
tão bom ser daqui
Sigo acreditando
e sendo manso de corrigir
sigo me rebelando
de quando em vez só pra repelir
Os carentes de oração,
os aflitos de antemão,
os sofridos, apegados aos ritos,
e os filhos da cidade movediça e extasiante
Preciso de um tempo
e que ele passe lento,
e passe por mim como o vento,
como o ar que eu respiro
Sigo, eu sigo acreditando,
que as belezas são sinais,
vivo, eu vivo por azuis iguais ao céu,
eu vivo, vivo por azuis iguais aos seus.
sexta-feira, 29 de abril de 2022
Dinamite
Bob me fez Vasco, assim como Romário,
e eu nem vi aquele tão falado time de 74,
não sei o rosto do Luis Carlos,
não sei qual é a perna boa do Zanata...
Mas Bob foi como um personagem de cinema,
um herói de gibi. Meu pai, meu tio,
todo mundo aqui em casa guarda com carinho,
sempre escutei sobre as lendárias narrações
das vozes que eu não ouvi no rádio,
dos gols que eu nunca vi no estádio.
A volta contra o Corinthians,
os balaços infindáveis,
a placa incontestável
do moço que morava em caxias.
Bob Dinamite,
sem capa de super-herói,
mas com faixa e cruz de malta,
com o 10 estampado nas costas,
e o êxtase do gol um super-poder especial.
Poder que me fez também super herói,
mesmo sem vê-lo dentro das linhas,
mesmo sem ter presenciado,
mesmo sendo tudo apenas passado...
Sou Vasco.
Porque a emoção dos olhos de quem amo
quando diz das coisas que amaram,
me basta.
E Bob foi Vasco,
é Vasco ainda e sempre será,
parte inseparável da história
do Vasco.
E da minha, do meu pai,
do meu avô,
dos meus filhos.
quarta-feira, 13 de abril de 2022
Pindorama
Pindorama é o céu Tupi
paraíso de Orixá
saber muito dói demais Atena
Sou como era meu avô
deixo tudo como está
me revolta só o vento leste
quando vira o tempo de cá
De lá eu não ligo não
quase sempre sou assim
me pareço com os passantes,
passo largo, calmaria
Vida simples de levar,
menininhas de vermelho,
serra, mar,
e singeleza...
Pindorama é o céu Tupi
paraíso de Orixá
saber muito dói demais Atena
Quase sempre eu sou assim
como era meu avô
quero vida muito simples de levar
Pindorama é o céu Tupi
paraíso vem de lá
de um lado eu sou a cor
do outro sou macunaíma
Vim de lá, não ligo não,
só se o vento vem pra cá,
me padeço dos passantes,
vida dura...
Pindorama é o céu Tupi
paraíso de Orixá
saber muito dói demais Atena
quinta-feira, 31 de março de 2022
Inatos
Dizem por aí, que agora tudo é uma egotrip,
nessa muito nova era moderna de apliques,
de golpes e espelhos,
de narcisos afogados criando guelras
e permanecendo bem vivos.
E enquanto nada faz sentido
pra esse alguém que sempre foge do destino,
que faz um esforço louco
pra viver sempre perdido...
Se esquivando das pessoas chatas,
dos quase mortos-vivos
que não dão nem duas páginas de um livro.
É como eu vou me controlando
pra não viver de porre do mundo,
das pessoas rasas, dos homens de farda,
dos seres imensamente aguerridos
e quase sempre sem brilho.
Esses que me dão certeza
da existência de um Deus poderoso e vivo.
Pois só a distração de um grande criador
poderia dar vida a tamanho vazio...
Vazio dessas almas desgarradas, e eu digo,
desgraçadas;
dos homens sempre plácidos,
dos mansos residentes do vácuo
de suas mentes parvas...
E dos viveres improfundos,
dos lemas flexíveis e inatos
que são a fina flor desse absurdo.
A prova da ignorância mais plena
que é o grande medo de fazer silêncio
e de assim criar justiça.
Chega de gente!
Não quero que a semana comece
o dia ensolarado não me desce,
o peso do mundo em meus ombros é pouco,
não tenho mais saco pro corpo
nem a alma dos outros...
Pra mim, chega de gente,
eu detesto quem sente,
detesto quem chora e quem ri,
quem diz que é sempre feliz,
quem não lembra que a vida
é curta demais.
O mundo já deve acabar,
por previsões na bíblia
ou guerra nuclear...
Eu não sei nada além disso,
vamos pelo clima ou vaidades dos ricos,
eu não espero mais nada até lá,
só quero ver de cima,
se um disco voador puder vir me buscar.
Pra mim, já chega de gente,
eu detesto quem sente,
quem fala ou se cala demais...
Quem é chato e não sabe,
quem não lembra da gente,
quem só chora ou só ri,
e ainda gosta de mim...
Pra mim, já chega de gente,
eu já não luto essa frente,
me considero um rapaz que vive das inconsequências,
que segue a tragédia dos astros e que nada sente.
Eu sou a noite escura,
a madrugada,
sem medo da barra quebrar,
que o sol não é de nada.
Eu sou a mata escura,
o amor desenganado,
sem medo de anhangá,
meu passo é sempre atirado...
Pra mim, já chega de gente,
eu tô cansado demais,
cansado assim, de quem gosta de mim,
ou quem não vale nada,
cansado demais, de quem amo
ou quem fica pra trás...
Pra mim... chega.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
Calor
Sentiria tantas faltas,
das belezas, e do Rio,
mesmo sem fazer sentido,
tudo isso...
Eu sei que não vou embora,
que isso é um furor banal,
mas os dias quando passam
mudam as coisas de lugar.
Quando as ideias crepitam,
sinto tudo muito mais,
do que quando sinto nada,
que é o tempo mais normal.
Sei da vida muito pouco,
só que o que sei é que não sou,
não sou nada além do que faço,
nada além do que já não sou.
Mas sentiria tanta falta,
dos azuis e do redentor,
do Rio que só eu tenho,
que só eu conheço e tenho amor.
Sentiria tanta falta,
de falar sobre a cidade,
de ter tudo que eu conheço,
e guardar sem vaidade...
Sóis amarelados lindos,
verdes fundos como a dor,
águas sujas e cristalinas,
lugares que são passado de amor.
Eu sei da vida muito pouco,
só o que sei é o que eu não sou,
não sou nada além do que faço,
nada além do que já passou.
Por isso eu sinto tanta falta
do Rio que eu pinto com esse amor,
esse amor que não me pertence,
como o que um dia eu tive pelo calor.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
terça-feira, 18 de janeiro de 2022
Esquartejador
Engano o filtro da vida
espalho por aí
pedaços de mim que eu gosto
pra tropeçar e sorrir
Nos bairros e nas ruas
nas casas que vivi
qualquer coisa
qualquer riso
qualquer parte de mim que diz sim
Porque hoje eu só digo não
eu não quero mais saber
eu só quero solidão
por isso não posso esquecer
Eu fui gente muito boa
eu fui livre e fui feliz
tive razão pra sorrir
tive sempre tanta escolha
Mas hoje eu só digo não
eu só digo o que sei dizer
reduzi minhas vontades
criei mil formas de me abster
Enclausurei minha alma
num pedaço de maldizer
que é pra ela esquecer coisas lindas
que é pra ela aprender a morrer... lentamente.
Mas ainda sei de tanta coisa
e preciso demais de vocês,
então eu espalho os meus pedaços
que é pra tropeçar e viver...
Enganando o meu filtro da vida
no momento de só ceder,
pra estender minhas palavras
no mundo que quer me desfazer.
Cansaço
Cansaço de tudo
do mundo,
da turma,
do bairro,
das ruas...
Exausto da gente
da gente efusiva e triste mendigando um olhar,
da vida vazia,
da tarde que não esfria,
do verde indistinto nos cantos do velho lugar.
Cansado dos sóis,
dos improváveis heróis,
das raças,
das farsas,
dos homens de luz.
Me parto, eu sou rato,
me escondo, não trato,
eu sou gente da mais fina flor
aqui deste lugar.
Cada vez mais cansado,
penoso e distante,
não sou mais como antes
e hoje eu não quero ser.
Sou do lado mais farto,
lado negro e tirano,
sou dos deuses severos,
de amores lancinantes...
Sou da mais larga sombra,
parte escura da lua,
da cidade das trevas,
lugar triste e sem fundo.
Sou cansaço demais,
e não ligo de ser,
sou desleixo, descaso,
velha dor, desalmado.
Sou o horror e o maltrato,
a fissura dos males do mundo,
o escape profundo, mais fundo,
e mais fundo...
Sou o ódio sem máscara,
sem disfarce e remorso,
sou o total desamor ao próximo,
eu não rio,
eu não choro.
Eu não sei,
não sou,
não quero mais ser.
Eu só... não.
Quase sempre,
não sei...
Mas é cansaço,
é disso que eu entendo,
é disso que eu falo...
Cansaço de tudo,
de gente,
de quem sente,
das praias,
das marcas,
das folguras da manhã...
E do amanhã é claro,
enquanto ele vem,
enquanto eu ainda o faço de otário,
enquanto eu permito,
enquanto eu espalho os seus pedaços por aí.
Ray-bans
Desencanto repentino,
já é tarde,
eu vou contigo...
Mas não é sobre isso,
é só o ar...
Que de tão leve desmaia,
que como Deus dono das praias,
senhor das esferas... como é bom.
Dá pra mim que eu pego e acudo,
toda gente, todo o mundo,
choro se for pra te ver feliz.
Porque quando nada, quero tudo,
que por nada, eu mergulho,
canto até a fita acabar...
Digo coisas absurdas,
barbarizo teses lindas,
sei que é bobo e eu gosto muito,
o provinciano é que é absurdo,
não tô aqui pra te capturar.
Sou desencanto repentino,
pá e bola, desatino,
rio, choro,
faço como nunca ninguém fez.
Dá pra mim que eu rolo e chuto,
tudo é lindo, tudo é super,
por de trás das lentes
do meus antigos ray-bans.
Desencanto, não quero o mundo,
quero forma e conteúdo,
gente que o olho brilha
sem ter de falar...
Que de tão leve assim me atraia,
como Deus dono das praias,
senhor das esferas... como é bom.
Eu te agradeço,
e dou adeus...
Não entenda mal,
só que já deu...
É que quando passa o efeito
eu sou ateu.
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