segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Ela não sabe

Ela tem qualquer coisa
que me dobra desde o começo,
eu nunca entendi direito,
e eu nunca achei ruim mesmo.

Me entreguei, cedi,
me servi de bandeja,
com os olhos brilhantes, deslumbrados,
e palavras bonitas
muito bem escolhidas.

Não pareceu o suficiente,
fui tomado de desespero,
tive medo de desamor,
eu sofri, se sofri;
me calei.

Não parecia certo,
não parecia verdade,
eu tive um pouco dela,
e agora só tenho saudade.

Faz tempo, tem tempo mesmo,
e ainda penso naqueles olhinhos,
eu penso e quando penso me sinto vazio,
tomado dos pés a cabeça por uma falta inomeável,
por uma angústia sem tamanho.

Ah, ela nem sabe do poder que tem,
não sabe que qualquer sorriso,
qualquer aparição daquelas covinhas,
qualquer palavra besta,
qualquer olhar daqueles castanhos indecentes,
me fariam tão bem,
me fariam flutuar por aí,
deslizar pela cidade sem pensar nas tristezas da vida,
nos desgostos profundos,
nas belezas perdidas,
nas consternações insolúveis que trazem a fúria dos dias.

E ela não sabe,
não sabe do poder que tem,
e eu ainda não sei
se ela deve mesmo saber.

Dezembro é ela

Perdi o trem da inspiração de dezembro,
sumi do sol, das tardes, dos dias,
sumi de mim, me perdi dela, dos novos anos dela,
dos novos problemas, das novas amigas absurdas,
da mesma fixação pelos astros, pelos anéis de saturno...

Perdi, perdi dezembro fugindo dela,
fugindo de mim, sumindo de nós, pensando na vida,
na minha em detrimento da dela,
no meu nariz, no meu umbigo,
no oásis de paz dentro de mim mesmo,
perdi dezembro sumindo dela,
tirando ela de dentro de mim...

Perdi igual eu faço todo ano,
tomando cuidado pra não desembrulhar dezembros passados,
pra não destrambelhar os sentimentos,
não rolar com o coração pelas escadas de novo,
não sentir saudade dos dias perdidos,
e do tecido chileno com cheiro de veneno
que ficava no sofá da sala dela,
olhando as luzes pela janela,
passando a mão naquelas pernas...

Perdi pra não sentir saudades dela,
dela perdendo dezembro comigo,
sumindo do mundo comigo,
cheirando algum veneno comigo,
amando, vivendo e morrendo comigo...

É, eu tenho fugido disso,
tenho fugido de dezembro,
tenho fugido porque dezembro é ela.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O chamado

Não tenho recebido o chamado da vida,
faz tempo que eu persigo toda poesia,
que eu caço nas paisagens um pouco de amor,
que eu calço meus sapatos pra sair,
que eu vivo pra fingir que ainda sinto algum sabor.

Eu ando realmente ressentido,
sigo muito seco pelas avenidas,
meus escritos são tristes,
são todos repletos de negativas.

Descrevo todo sofrimento que me arrasa,
lá fora um sol imenso queima,
aqui dentro o frio faz doer minhas articulações,
eu ando realmente perdido,
precisando de cupido doente,
um cupido velhinho, pra errar umas flechadas,
me encontrar novo caminho de sofrer.

Não tenho recebido o chamado da vida,
me falta paixão, me faltam delícias,
eu ando fugindo da poesia etária,
eu ando arriscando o pescoço na lida sofrida das palavras,
e não pretendo desistir,
eu não pretendo esquecer tudo que já fiz.

Mas anda me faltando o chamado,
faltando o estalo da inspiração,
preciso sofrer, eu preciso ver algo que me puxe pelo braço,
que me arraste pelas canelas,
preciso da beleza do mundo
e da tristeza de todas elas,
do amor e da dúvida,
de todo sentimento bom e da culpa.

Ode as loucas

Sempre quis um amor de novela,
eu sempre quis ter aquela,
uma doida varrida,
uma dessas que sobe nas mesas de bar,
que tem ataques e se morde de ciúmes.

Sempre quis ter aquela menina,
aquela que te faz querer família,
que te faz sonhar um bom futuro
até num sábado de tarde.

Ah, eu sempre quis um amor assassino,
um bem selvagem com facas e tiros,
eu sempre quis uma louca pra mim,
uma que tivesse tanto amor quanto eu tenho pra dar.

Sempre quis mulher descontrolada,
daquelas que faz tudo pra me ter dentro de casa,
eu sempre quis uma dessas possessivas
que me fizessem ver loucura no amor,
eu sempre quis uma louca pra mim,
uma que tivesse tanto amor quanto eu tenho pra dar.

Dessas passionais, desequilibradas,
com amor demais, como as almas penadas,
inteligentes, intensas serpentes,
são tão quentes no seu delírio de amor,
disparatadas pela vida,
vivem imunes as próprias feridas,
alucinadas seguem firme a ferro e fogo,
movidas por todo amor do mundo,
lunáticas, intempestivas,
tomadas pelo amor que trazem no peito,
pelo seu desequilibrio astral,
essa obssessão carnal...

São meninas, lindas meninas,
que carregam o peso do amor demais,
e por isso sentem tanta dor pela vida,
são meninas, lindas meninas,
que carregam o peso do amor demais,
muito amor demais pra ter, pra dar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Hoje eu quis

Hoje eu quis você

de novo aqui do meu lado,
pra olhar nos teus olhos
e sentir teu calor,
pra falar nossas besteiras a meia luz.

Hoje eu quis você comigo
pra lembrar daqueles tempos,
celebrar nossas lonjuras
e o nosso amor.

É que eu sinto tanto a falta
das nossas noites em claro,
das suas cismas, e é claro,
dos carinhos e amassos.

Me desfaço de saudades,
tenho guardado as minhas vontades de você,
sinto falta de descobrir novos lugares,
de fazer hora pra te encontrar,
e hoje eu vivo assim, sozinho,
querendo entender esse caminho,
esse jeito que a vida deu de te tirar de mim.

Mas hoje eu acordei e quis você de novo,
eu quis e fiz uma promessa
pra ter você de volta...

Eu prometi que ia ser feliz,
que ia largar essa tristeza,
eu ia deixar minguar,
não ia mais alimentar tanto pesar...

E a vida ia ser mais leve,
os dias iam ser mais lindos,
eu não ia mais fugir do sol,
eu não ia mais mentir pra lua...

Eu prometi que ia ser feliz,
que eu ia largar essa tristeza por aí,
eu ia deixar morrer, deixar minguar,
não ia mais alimentar tanto pesar...

E a vida ia ser mais fácil,
os dias iam ser mais longos,
as noites em claro,
os olhos serenos...

Mas tudo só quando você voltar,
quando resolver trazer alguma paz pra mim,
trazer de volta a felicidade que eu preciso.

Se manda

Dá teu jeito e se manda
que eu nunca quis te ver assim,
de olhos vermelhos toda corada,
derramada na droga
e gritando que é por mim...

Eu não te aguento mais,
me esquece, não vai rolar,
dá teu jeito e se manda,
que eu não aguento mais te ver chorar,
não tem mais jeito ou solução,
você eu já nem sei... se ainda tem coração.

Botei numa forma o teu sangue vermelho
só pra lembrar que você ainda vive,
mesmo que caminhe sem entender nada,
mesmo que ande assim sempre desamparada.

Não vou mais abrir as portas
de casa e nem do coração,
você está perdida pra sempre,
sufocada em suas complicações.

Dá teu jeito e se manda,
se manca que a vida não é assim,
não tenho o que fazer,
não sei mais o que dizer pra você esquecer de mim...

Então dá teu jeito e se manda,
porque eu não te aguento mais,
sai dessa onda e me esquece, garota,
toma o teu rumo, me deixa em paz.

Não vou mais abrir as portas
de casa e nem do coração,
você está perdida pra sempre
nos seus pensamentos de rebelião...

Dá teu jeito e se manda,
que eu não aguento mais te ver cheirar,
não tem mais jeito, eu não vejo solução,
você eu já nem sei...  se ainda tem coração.

Eu não te aguento mais,
me esquece, não vai rolar,
toma uma água e vomita essa onda
que assim isso tudo ainda vai te matar.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Imagem do dia!

O píer de ipanema por Evandro Mesquita

Boa vida

To precisando de você pra essa noite,
to precisando ver chover,
eu tô querendo te guardar pra mim
numa noite como essas,
quero te guardar assim, uma última vez,
com as gotas da chuva escorrendo no rosto,
o cabelo molhado, os cílios manchados,
tô precisando de você só mais essa última vez.

Encostada aqui comigo na beira da piscina,
com os pés na água, me abraçando no vento,
fazendo o tempo passar leve,
passar pela gente lento,
só vendo o que é a gente acontecer,
a gente sendo.

Tô precisando de você comigo,
chorando debruçada no meu ombro,
misturando suas lágrimas com os pingos da chuva,
falando baixo, esperneando do seu jeitinho,
me dizendo de quem é a culpa...

E é minha, eu sei,
eu sei.

Mas tô precisando de você,
precisando te encontrar por acaso pensando na vida,
fazendo cara de menina sofrida,
sentada numa escada na altura do 11,
tô precisando dos seus olhos olhando pros meus,
refletindo o mundo pra mim de novo,
pra eu ver tudo como realmente é,
pra eu lembrar das cores, das coisas bonitas que vimos,
e pular as dores, as tristezas vis que nos partiram.

Eu tô precisando estar à toa e te ver andando por aí,
te ver pelas costas, te perseguir,
observar atentamente o seu deslocamento pelos postos,
analisar a composição da foto que daria,
a sua imagem e o dois irmãos,
ou com muita sorte o arpoador,
como eu queria, eu preciso sentir de novo esse amor...

Eu tô precisando de você reclamando,
me perguntando o que eu quero pro futuro,
enquanto eu me seguro pra não dizer que só quero você,
que só penso em você no meu mundo,
eu preciso, preciso das tuas coxas, tua cintura fina,
teus abraços, tuas manias de menina,
eu preciso do teu cheiro pra me despertar pra vida
e passar a mão pelas tuas costas
pra saber que vale a pena viver repetindo essa mentira,
essa coisa tão falida de que é mesmo muito boa a vida.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Todo amor é uma mentira

Quando eu inventei de ser poeta
eu não sabia que devia amar,
e se hoje eu amo tanto,
é triste, mas diria que é quase que por força da ocupação,
quase sempre é pra manter o ganha-pão.

Amar machuca muito,
e quase ninguém sabe como faz pra amar direito,
ainda mais nesses dias,
nesses tempos tão difíceis que vivemos,
amar não é pra qualquer um,
o amor é pra quem sabe dar, se doar.

Por isso amar machuca tanto,
quem ama quase sempre é dos outros,
quem ama faz da vida esse circo desleixado,
faz da vida um picadeiro
e se apresenta o palhaço desastrado.

Mas quando eu inventei de ser poeta
eu não sabia que tinha que amar,
eu não li isso nas letrinhas pequenas,
e todo amor hoje é acidente e obrigação,
é pra girar a roda da vida, continuar o show,
deixar o vento levar,
hoje, todo amor é uma mentira,
porque ninguém mais sabe amar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Imagem do dia!


Vivo e frio

Ando internado com a solidão,
todo o entorno não me diz mais nada,
não tenho paixão pelos astros,
pelas fases, pelas décadas passadas,
não tenho nada de concreto ou abstrato.

Sou falta, vazio,
o oco, a sombra, o frio,
com pausas para luxúria,
breves momentos de extravio,
mas ainda assim continuo sendo aquele Rio mal cantado,
o Rio imerso na bruma incansável
que segue se esvaindo na eterna orla iluminada.

Ah, sou um sofrimento inomeável,
eu sou o não pertencer,
e meus pensamentos que também não sei se me pertencem,
são agruras infindáveis,
sufocadas bajulações
que não me servem de nada.

E como os segredos desta terra,
como os mistérios de tudo o que acontece
entre o céu e as impiedosas forças telúricas,
eu não sei de nada, e sou tomado pelo nada,
o invisível, abstrato, disforme, dissimulado,
eu sou o fruto sem semente da mesma força impiedosa,
o fruto estéreo desse corpo social,
da consciência flutuante do bando,
da ignorância carnal.

Sou falta, vazio,
eu sou a sombra dos prédios,
o frio que não faz sentido,
sou a árvore seca que esconde o inimigo,
sou o serrote, a bala, o dedo do gatilho,
eu sou a dúvida, o tempo, a consternação,
a guerra, a peste, a desolação,
sou eu; o nada, a falta, o vazio,
não sinto, estou vivo e sou frio.

sábado, 28 de novembro de 2015

Camaleão

Posso falar das coisas mais tristes esta noite,
me apegar a uma penúria interminável,
me afogar em amargura e desespero,
posso escrever alegremente sobre os dias cinzentos nessa cidade do sol,
e transformar em bolero, em tango, em fado,
qualquer samba animado que for colocado na vitrola.

Eu posso dizer que os dias estão curtos,
que as noites estão longas,
que as praias estão sujas e lotadas,
que as pessoas estão perdidas,
que são todas existências degeneradas.

Eu posso lavrar um decreto a tristeza,
posso consagrar mil suicídios,
entregar facas amoladas as crianças,
tirar grades das sacadas,
enviar cianureto pelos correios...

Ah, eu posso gritar aos sete ventos todas as mazelas,
sofrer, me angustiar, me desfazer em querelas,
não entender nada do mundo,
não enxergar um palmo a minha frente,
eu posso ser como quiser...

Porque mesmo entre desastres,
mesmo escrevendo e vivendo muito do mal do mundo,
eu posso amanhecer e ser feliz,
eu posso me esquecer de tudo e caminhar pela cidade,
sorrir para os outros, dar bom dia aos mendigos,
andar descalço, estreitar os laços com as pedras portuguesas.

Porque seguindo assim,
sendo esse camaleão de mim mesmo,
é que eu posso falar, posso dizer,
posso escrever, lavrar,
gritar sentenças cheias de certezas aos sete ventos,
sendo assim eu posso, posso ser como eu quiser.

domingo, 22 de novembro de 2015

Vampiro

Tem dias que não durmo,
dias que o mundo não me deixa dormir,
dias que são noites,
noites que me ferem,
tempos que me afogo em mil lamentações.

Já fazem meses que não sinto nada,
nem uma pontada, nem uma vontade,
nenhuma angústia, nenhuma felicidade,
é como se a cidade tivesse derretido,
tomado nova forma,
nova forma que em nada me interessa,
e que nada me recorda.

Ando vazio, cego pro mundo,
ouvindo somente os uivos
da ventania que faz dentro do meu peito,
desse ar frio, da ausência de mim mesmo,
o grito da falta que faz ter uma alma,
esse pedido de socorro que minha carne anda orquestrando,
querendo de volta meu íntimo, meu âmago,
implorando por qualquer convicção,
por algum sentimento,
algum desgosto, alguma afeição...

E isso dá em mim já faz bom tempo,
percebo mesmo que eu não vou nada bem,
e tudo isso acontece desde que ela me disse
que na verdade eu não gostava de ninguém,
que era tudo mentira...

Que eu era só, que eu era triste e desalmado,
que tudo era sempre uma farsa,
que eu não amava,
eu só fingia e então criava,
que no fundo eu era um vampiro
e transformava todo amor
em meia duzia de palavras.

sábado, 21 de novembro de 2015

O que vejo nela

Se ela soubesse me chamaria de louco,
acho que não aceitaria de jeito algum o que eu tenho pra dizer,
se soubesse por alguém então, talvez me matasse,
talvez me alvejasse com um sapato, uma panela,
talvez me queimasse com um cigarro,
e certamente me fitaria com aqueles olhos
como que me embrulhando pra presente,
me amassando lentamente, querendo que eu morresse,
que eu não fosse esse idiota que ela pensa que eu sou.

Ah, se ela soubesse...

Se soubesse, provavelmente ia dar uns passos pra trás,
arregalaria seus dois lindos mundos castanhos,
olharia uma última vez a minha cara
e então me desceria a porrada.

Ah, ah se ela soubesse...

Se passasse pela cabeça dela um instante que fosse,
por um milésimo, um milionésimo de segundo,
se seu subconsciente plantasse essa idéia,
se de repente houvesse um insight,
se ela avaliasse mais atentamente,
se houvesse sensibilidade suficiente...
ela arrumaria um jeito de me escalpelar,
ela provavelmente me faria desejar ter feito tudo diferente.

Ah se ela soubesse...

Se soubesse faria eu mentir melhor pra ela,
e eu já minto bem sabendo que ela nem suspeita de nada,
faria eu mentir porque não ia querer acreditar,
viveria no esquecimento,
mas não aceitaria minha verdade.

Ah, ah se ela soubesse...

Se desconfiasse que eu sinto tanto,
que eu me culpo tanto,
que eu me nego tanto, mas que é porque amo tanto,
tanto que nem sei falar,
não sei fazer ela entender,
não sei de nada.

Ah se ela soubesse que meu peito aberto é um blefe,
que esse não ligar é amor demais e não amor de menos,
se ela soubesse que penso nela todo dia o tempo todo,
se soubesse que amor pra mim não é mais Vinicius, nem Deleuze,
nem Chico e nem Jobim...
Amor pra mim é o que vejo nela.

Ah se ela soubesse,
se soubesse ficaria uma fera.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Imagem do dia!


Odiar você

Eu disse a ela
que nada era mais como foi antes,
que não viveria à sombra desse amor
e que a volta e o braço a torcer não bastariam,
mas não é que eu tenha superado,
é que eu me sinto um rato
cada vez que lembro o quanto ainda a amo.

Eu voltaria no tempo
já que ando esquecendo
das tantas coisas que me fizeram feliz,
as mil noites em claro
e os dias solenemente ignorados,
por amor e vício,
e amor aos vícios,
rebeldias que não voltam nunca mais.

Hoje eu ainda me pego pensando,
distraidamente, sozinho,
pensando se agradeço ou se esqueço tudo de uma vez,
se agradeço como fez o poeta certa vez,
se te faço vilã, se te roubo da vida mais uma noite,
mais uma manhã...

Eu ainda me pego pensando,
cuidadosamente planejando,
maquinando cada passo e palavra,
cada sorriso e cada lágrima,
conjecturando sobre um encontro casual,
o dia em que vou te dizer...

Que nada é mais como foi antes,
que eu não vou viver à sombra desse amor,
e que voltar e dar o braço não te salva,
por mais que ainda não tenha superado,
não quero me sentir como um rato
sempre que esquecer que devo detestar você,
sempre que eu me descuidar
e não lembrar que na verdade eu devo odiar você.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Boa idéia

Não tenho tido muitas boas idéias,
sinto como fosse apneia,
pensar dói, cansa,
rouba de mim fluidos que parecem indispensáveis,
me falta energia, um bom astral,
me falta qualquer coisa que chamariam positividade.

Mas não faço questão,
contanto que volte a pensar,
mesmo que em quase autocomiseração,
mesmo que pela dor, pela ausência,
pelas faltas que sinto.

Eu preciso, preciso mesmo pensar,
pensar e colocar no papel,
dissertar sobre a vacância da vida,
sobre a frivolidade de certos preceitos sociais,

Eu preciso pensar, pensar e escrever,
preciso falar de amor, falar de todas elas,
dos laços que me prendem,
das paisagens que me fazem melhor homem,
das vontades, das verdades e das mentiras.

Eu preciso pensar, porque preciso escrever,
e preciso escrever pra poder falar ao mundo,
preciso tirar daqui do fundo todas essas impressões,
sobre todos esses amores achados,
sobre todas as cores dos olhos dessas meninas,
sobre todas as esquinas
e as fintas sociais que utilizo pra sobreviver...

Ah, como eu preciso...
mas não tenho tido muitas boas idéias,
vivo um momento de apneia,
tudo que eu faço traz uma lombeira,
um cansaço esquisito, não sei o que é isso,
mas espero que passe,
espero que passe porque eu preciso.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Baiana

A vida dessa baiana é uma paquera
e se ela me ouvisse dizer isso
diria que é por isso que a vida é bela.

Ela não liga muito pra nada,
tem mundo o bastante ainda pra ver,
tem gente na vida pra dar e vender.

Esquece dos amores como quem esquece de pagar uma conta,
ela não percebe nada grave até que corte,
até que alguém se corte por ela.

Ah, selvagem,
morena linda, quase chocolate,
não penso numa morte mais doce
e não me arrependeria
nem um minuto que fosse.

Pelas travessas, pela noite,
se tropeçasse numa alma daquelas
eu pediria que a prendessem a mim.

Pediria que ela se derretesse por mim,
só mais um pouquinho,
e fizesse direitinho como já fez uma vez,
fizesse direitinho aquele amor que a gente fez.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Até gerarmos outros

Quero me esconder do mundo em você
e mergulhar nos teus azuis
pra esquecer do escuro,
pra esquecer que há um futuro
todo cheio de incertezas.

Não quero levantar da cama,
nem te dizer já volto,
até amanhã ou já vou,
eu quero mais de você,
e muito menos de todos,
eu quero mais de nós dois,
até gerarmos outros.

Eu quero me esconder do mundo
junto com você,
e ter o teu sorriso puro
como algo seguro pra eu me refazer,
eu quero teu abraço terno,
o teu olhar sincero sempre ao lado meu.

Não quero mais contar invernos,
só viver verões, outonos, primaveras,
e nos dias de sol mais lindos
vamos juntos sorrindo ver o sol se pôr,
quero viver nos teus azuis
pra ter um mundo sem dor.

Não quero levantar da cama,
nem te dizer já volto,
até amanhã ou já vou,
eu quero mais de você,
e muito menos de todos,
eu quero mais de nós dois,
até gerarmos outros.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Espelho

Eu hoje acordei como um café amargo
escuro e desagradável,
desmanchado em tristezas
refeito inteiro em maldades.

Eu hoje acordei como um vilão de um filme do 007,
me encontrando em objetivos absurdos,
em maldades pequenas,
em desejos mesquinhos,
me encontrando no rancor,
numa raiva inexplicável.

Eu acordei e olhei através das janelas de casa,
eu desejei tanto mal,
eu quis que tudo desaparecesse
só pra eu poder gritar,
pra eu poder enfim me entregar,
pra ser sem dor e julgamento
todo esse mal que eu possuo.

Ah, eu preciso de um novo mundo,
preciso pra poder guardar todo esse ódio,
uma terra, umas duas, um sol,
um sol pra queimar todas as feras
que existem dentro de mim...

Eu preciso de um novo mundo
pra queimar os meus inimigos,
pra chorar sangue em velas vermelhas,
e entender que eu não sou mais o mesmo.

Há aqui uma vilania incontrolável,
sentimentos abjetos para com o resto do mundo,
eu devo ser um tirano reencarnado,
devo estar a vidas e vidas sem ser amado,
eu devo muito, muito mesmo,
deve ser isso,
eu quase consigo ver no espelho.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Cana e chuva

Definitivamente, eu dancei,
e ela sabe que eu vou
pro túmulo com essa dor...

Mas se eu me der bem,
viro um louco, um selvagem,
vou viver vagando pelas paisagens,
tomando cana e chuva,
curando ressaca de amor,
tentando esquecer um senhor pé na bunda.

Definitivamente, eu dancei,
eu nunca dei futuro pra ninguém,
mas agora é diferente,
ela detonou o que restava da gente,
veio me dizer tão tranquila,
como fosse uma boa notícia...

"Meu amor, vou casar,
vou sentir saudades de você,
mas eu vou, vou casar,
e a gente não pode nunca mais se ver."

Definitivamente, eu dancei,
e ainda não vejo graça
como disseram que um dia eu ia ver,
só sinto vontades loucas de tirar satisfação,
e cobrar de volta todo amor
que eu larguei naquele coração.

Mas se eu me der bem,
viro um louco, um selvagem,
vou viver vagando pelas paisagens,
tomando cana e chuva,
curando ressaca de amor,
tentando esquecer esse senhor pé na bunda.

domingo, 25 de outubro de 2015

Ela leva a vida muito a sério

Ela leva a vida muito a sério,
mas não como se pensa,
ela gosta mesmo é de Caetano,
mas quando bebe tira um Cole Porter no piano,
ela sorri com aqueles olhos pretos pra mim
e diz que não é bem assim quando eu desato a falar
que ando pensando em me casar.

Porque ela leva a vida a sério,
leva a vida como deve ser,
ela leva tudo muito leve,
tudo como deve ser.

E vai pisando nas pedrinhas portuguesas,
com pés de bailarina,
com os pés leves de menina
e jeito de poesia, de trilha,
como fosse uma música encarnada,
uma que alguém precisa tirar um dia.

Ela gosta mesmo é do furor do carnaval,
mas quando acorda mais parece um bolerinho matinal,
ela tem uma alma leve,
é dessas que suspira todo dia de manhã,
dessas almas velhas, raras, anciãs.

Ela é qualquer coisa inominável,
me traz a pureza do Tom de meditação,
mas se veste toda noite
do atrevimento do Cazuza no Barão,
ela é um vento forte,
é uma pequena ondulação,
ela chove e também faz sol,
é matinada de verão.

E vive por aí, levando a vida a sério,
levando esse viver etéreo às últimas consequências,
absorvendo todo o azul e amarelo do mundo
com seu cântico aos deuses da farra na ponta da língua,
deixando a tristeza morrer a míngua,
deixando pra trás mil amores, mil outras vidas...

Porque ela pertence a algo muito maior,
algo que a nossa vã filosofia não domina,
ela tem alguma coisa que foge de toda explicação,
um poder incrível de persuasão,
e quando sorri com os olhos pretos,
quando joga aquele charme,
quando coloca na mesa a escuridão que traz nas retinas...

Ah, ela acabaria com mundos inteiros,
dizimaria civilizações,
mas ela não sabe disso e se sabe...
talvez por isso leve a vida tão a sério.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Encontro marcado

Acordo raptado pela tristeza,
agora são três e um pouco mais,
eu tenho um encontro marcado
e estou coberto pelo escuro do mundo.

Lá fora há a chuva fina
e um vento frio que me rasgaria a pele,
mas assim eu me sinto em casa,
me sinto muito mais à vontade pra sair.

E saio de peito aberto,
me acho deslizando por nossos espaços,
eu saio de mim,
eu saio assim mentindo pra chuva,
sorrindo por nada
como se estivesse muito feliz.

Eu grito seu nome nas madrugadas,
grito pra ninguém ouvir,
te xingo, te juro de morte,
te jogo mil maldições, e aí...

Volto a pensar no quanto te amo
uns cem metros depois,
eu volto a lembrar dos teus sonhos comigo,
eu penso que ainda somos um só,
penso em tudo que ainda podemos ser...

E me encontro de peito aberto
pronto pra ser alvejado,
fugindo de ti pelos mesmos espaços,
deslizando desacreditado...

Eu saio de mim
que é pra não te encontrar mais,
eu saio assim, mentindo,
sorrindo até pra chuva,
só pra ela não te contar como eu vou,
como eu estou vivendo com essa tristeza.

Acordo raptado pela escuridão,
agora já são três e um pouco mais
e eu estou coberto de incertezas.

Lá fora há a chuva fina
e um vento frio que parece tão terno,
assim eu me sinto em casa,
me sinto muito à vontade pra sair,
sair pra não encontrar ninguém.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Um fantasma

Eu já não me enxergo no espelho,
eu não me vejo,
não sei mesmo do que sou feito,
se ainda existem sonhos,
se ainda existe algo legítimo,
algo que seja relevante como o amor e a dor.

Às vezes me sinto um fantasma,
sou como uma assombração,
a sombra que tampa o sol na roseira
e mata as flores mais lindas
de todo jardim.

Eu já não vejo problema,
também não vejo solução,
sou como uma aparição,
um pedaço do mal que há no caminho,
um bom pedaço de um mal
que rasteja e não deixa vestígios.

Às vezes eu sigo pelas ruas
de encontro a outros mortais,
e me escondo atrás das lentes escuras
que são como minha alma,
o meu mood mais sincero;
porque eu sou como um fatasma,
uma manifestação,
um vulto, spectro que não pulsa mais...

E eu já não vejo problema,
também não vejo solução,
eu sou como uma aparição,
um esquecido pelo astral,
desastre do paranormal,
sou vivo e lindo,
e morto e esquecido,
sou como um fantasma sem memórias,
sem amor, sem dor, sem flor alguma em seu jazigo,
sem nada em seu coração,
sem coração, coragem, dom.

Porque eu sou como um fantasma,
eu sou como uma aparição,
vivendo nas paisagens,
sobrevivendo a solidão do mundo,
vivendo esse escuro,
colhendo as flores mortas do jardim
à sombra dessa parte, desse eu covarde,
e de toda minha minha insensatez,
minhas escolhas tristes,
o meu eu lírico vilão,
sou essa aparição,
eu sou, sou como um fantasma.

Escravo deste amor

Por tudo que for de verdade,
eu juro,
eu juro,
entrego a minha vaidade.

Pisoteio meu ego,
te entrego bons pedaços de mim,
porque eu sou assim,
e é claro, não me sinto mal em ser.

Pra mim não é ruim
fazer um tipo assim
de quem não sente nada,
de quem nem sente muito, e nunca...

Então por tudo que for,
me abduza desse desamor,
me entregue verdades mais doces,
e devore os bons pedaços que eu te dei.

Não mastigue,
só devore esses bons pedaços de mim que eu te dei,
e siga fazendo tipo de quem não sente nada,
de quem nem sente muito,
bem como eu faço...

E ainda faço tudo por você aqui comigo,
eu juro,
juro por tudo que for,
por tudo,
que eu ainda sou um escravo deste amor.

domingo, 18 de outubro de 2015

Imagem do dia!


Eu não ligo

Sim, ainda estou vivo,
e eu não ligo pra essa lua
que só volta em dois mil e trinta e três,
não sei o dia do mês,
não abro a janela,
não sei mais dela,
sou um copo meio vazio,
meio cheio de negativas.

É, e eu não ligo mesmo pra nada,
não sei muito de história,
não estou lendo nada bom agora,
não ouço algo que goste muito,
e morro um pouco todo dia
sufocado dessa desolação.

E eu não ligo,
não quero saber do dólar,
da fórmula 1, de fórmulas mágicas,
de mágicas, de mar, de sol, de sal,
tenho fugido até da chuva,
eu não me encontro em nenhum clima,
eu não me acho nesse mundo,
nem na claridade mais vívida,
nem no escuro mais absurdo.

Eu realmente não ligo,
sou uma vela apagada,
sou um terráqueo indistinto,
eu sou a vida perfeita
num ser humano impossível.

Mas eu não ligo,
permaneço com as negativas,
me derreto, me refaço,
esqueço das fissuras do meu peito,
às vezes até me sinto um inteiro,
eu tento, esperneio,
eu me entrego pro mundo de seis em seis meses,
mas volto...

E volto porque não ligo,
sou cinza, sou triste,
eu sou a própria renúncia,
sou um ingrato, uma alma estéril,
e não há mistério que me seduza.

Sou um ser prostrado, aflito, tétrico,
dono só dessa vida mansa e melancólica,
afeito a um íntimo profundo e invisível,
sou uma existência perfeita,
num ser humano impossível.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Depois de nós

Qualquer lugar
que me faça desistir
do seu olhar
nessas noites daqui

Onde tudo parece estar
fora do lugar
onde tudo parece
flutuar
e é tão distante

Das nossas pedras eu vejo,
o mundo desmoronar,
eu vejo almas dispersas,
eu vejo desertos imensos
e oceanos de dor,
refletindo um céu
onde tudo parece terminar,
onde tudo parece apenas começar.

Como em qualquer lugar
com um vento leste,
com chuva ou sol,
pelas minhas preces
e pela fé no que é só
o que permanecerá...
depois de nós.

Como um vento leste,
como a chuva ou o sol,
e as outras preces,
pela fé no que é só
o que permanecerá
depois de nós.

Em qualquer lugar
que lhe trouxe sorrisos,
que te fez feliz,
e onde tudo era lindo,
e o mundo não teve vez.

Um lugar qualquer,
pra a gente esquecer de tudo,
pra a gente sorrir e esquecer do mundo.

Um lugar qualquer,
desses que permanecerá...
depois de nós.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Imagem do dia!


Até quando

Acordei para ditar isso à minha alma,
fiz para entender melhor tudo o que me faz sofrer,
ando desconfiado de uma crônica depressão,
de uma incurável fissura no coração,
há dias em que me levanto curvado,
atarantado com não sei o que,
me olho no espelho
e então me resguardo do amanhecer.

Acordo pra escrever,
pra me descrever pro escuro,
e enquanto qualquer uma dorme do meu lado,
eu sonho os nossos passos,
eu lembro dos amassos, dos olhares,
dos espaços que eram ternos
e hoje são só o vento leste,
e são árvores tristes se dobrando,
as pedras molhadas, cantos sem cantos,
sem nós para as fotos,
sem amor para as telas dos finais de tarde.

Acordo pra saudade,
não há mesmo um outro motivo,
tenho sido um frasco vazio,
me sinto sem alma,
trazendo somente esse amor tardio
jogado nas costas.

Sim, ainda acordo,
não sei até quando,
não sei por quanto tempo,
mas eu conto os dias
e eles já passam de trezentos,
trezentos diferentes dias,
trezentos diferentes sofrimentos.

Há quem peça pra que eu pare,
há quem diga que é bobagem,
e eu me divirto por eles,
finjo qualquer felicidade,
mas depois volto pros teus braços,
volto para os sonhos,
volto para os nossos passos,
nossos cantos que eram ternos,
nossos velhos fins de tarde,
eu volto, sozinho,
fugindo do vento leste,
fingindo, só não sei até quando.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Quintas

Não restam mais dúvidas, acabou-se o mistério,
definitivamente a culpa é das quintas-feiras,
são, são essas de chuva e pensando bem as de sol também,
são as noites, as tardes, são as manhãs,
todas de quinta-feira.

Não sei o que acontece, se é um santo que desce,
se é meu anjo que folga, se é cansaço,
mal de amor, se é ciúme,
se é fraqueza, má alimentação,
melancolia...

Sei que sofro de um mal maior
e geralmente vem as quintas-feiras,
uma como essa de hoje,
uma exatamente como essa...

Dia como qualquer outro,
mas em que eu me levanto com esse peso nos ombros,
com essa dor de fundo de olho,
e o peito estafado, apertado,
a garganta doendo...

Dia como outro qualquer,
mas que passo engolindo a seco,
que passo aflito, aéreo,
sumido de mim mesmo.

E se bem fiz as contas
não restam mesmo dúvidas,
a culpa é dela,
a culpa é toda da quinta-feira...

Por isso já às sete eu vou pro baixo,
jogo assim, eu jogo baixo,
porque se o mal é de amor,
e se a vida é só tristeza,
que a mim venham os meus.

E se o problema é a languidez,
é esse fastio, essa lombeira,
saiba o meu corpo que a noite é longa
e que amanhã ainda é sexta feira.

É, a culpa é dela mesma, não há o que explicar,
não há mais o que investigar,
e o remédio é um só, sair de casa,
mas pensando bem, toda essa fraqueza, essa tristeza,
já tem tanto tempo que nem lembro como era antes,
antes dessa fuga desenfreada...

E andei pensando nisso pra saber da causa,
talvez esse remédio tenha algum efeito colateral,
mas não convém pensar nisso agora...
já são quase sete, eu preciso ir,
me mandar, estar bem longe antes que pense em desistir.

Imagem do dia!


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Fiz pra você

Essa eu fiz pra você,
fiz pra você ler sorrindo,
fiz pra cantar quando te ver,
eu fiz,
fiz pra fazer você feliz,
pra tirar do meu peito
meia dúzia de palavras
que não falassem das dores,
que nos lembrassem das flores,
que nos fizessem sorrir.

Essa eu fiz pros teus olhos,
pros teus sinceros castanhos,
eu fiz pra você inteirinha,
tuas marcas, tuas covinhas,
eu fiz, e fiz sorrindo,
fiz porque você pediu,
mas não fiz contrariado,
eu fiz pra tirar do meu peito
um pouco desse amor tão bem guardado.

Eu fiz numa noite qualquer,
fiz e guardei num cantinho,
fiz e deixei esquecido
até você lembrar de mim.

Eu fiz, eu fiz como quem faz um pedido,
como quem queria muito estar contigo,
fiz e escondi direitinho,
pra ninguém estragar o meu pedido.

Essa eu fiz pra você,
fiz pra você ler sorrindo,
fiz pra cantar quando te ver,
eu fiz,
fiz pra você me querer,
pra não me deixar sozinho,
fiz pra você pensar
em me usar nem que fosse só um pouquinho,
pra ter vontade de me decifrar,
eu fiz pra te tirar mais que um sorriso.

domingo, 20 de setembro de 2015

Um olhar

Escrevo-te pela manhã
pra dizer que até amanhã,
se eu não morrer de saudades,
eu vou morrer de você.

Peço para Deus,
pelos céus e o redentor,
um olhar seu de novo,
nem que seja um olhar de lado,
para me trazer de volta a vida,
sem sofrer.

O café faz de toda manhã
algo especialmente teatral,
e eu que nunca fui disso,
tenho sentido um incurável baixo-astral...

Já nem sei direito quem eu sou,
não sei no que eu me tornei,
vivo tão torcido,
eu passo sempre a minha vez de ser feliz.

Peço para Deus,
pelos céus e o redentor,
um olhar seu de novo,
nem que seja um olhar desconfiado,
um olhar assim de lado,
para me trazer de volta a vida,
sem sofrer,
para me trazer de volta a vida,
sem sofrer.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Solar demais

Ela é solar demais pra mim,
não conseguiria me amar daqui,
do meio dessa escuridão,
do meio desse canto tão sombrio da vida...

E eu sempre soube que seria assim,
não conseguiria tê-la pra mim,
do meio desse ponto estranho,
daqui do meio desse temporal...

Não poderia tira-la dos braços do sol,
eu não faria esse mal as areais,
eu não poderia mesmo rouba-la,
não tiraria aquele corpo dos olhos do céu,
dos olhos do céu,
dos olhos do céu azul.

Porque ela é solar demais pra mim,
e não poderia me amar assim,
sendo quem é,
e eu sendo quem sou,
sendo quem é,
e eu sendo quem sou...

Somos um amor inviável,
dois mundos distantes demais
se permanecermos dois,
se permanecermos nós.

Porque ela é solar demais pra mim,
e eu sou tão triste,
ela é solar demais pra mim,
e eu sou o escuro do mundo,
ela é solar demais pra mim,
e eu sou um estúpido...

Por permanecer assim,
permanecer assim.

domingo, 13 de setembro de 2015

Sereníssima

Eu ainda me assusto quando amanhecem os dias,
quando o sol insiste em revelar a escuridão que a noite é,
e me assusto talvez por falta de luz própria,
me bate um certo desespero quando vejo o céu azul,
não quando é aquele azul habitual,
mas quando é aquele azul infinito e perturbador
que pertence ao verão e a alguns poucos dias do outono.

Não tenho luz pra isso,
me encontro muito mais facilmente na aura de desespero das noites,
não sei exatamente o motivo,
mas deve ser pelo ar fingido de tranquilidade,
pelo silêncio,
o abrandamento de toda aquela fúria de viver que trazem os dias.

Não suporto, não entendo,
eu não tenho esse cacoete,
não deixei crescer dentro de mim,
vivo como um marinheiro embarcado,
gosto de me imaginar um Gene Kelly incompreendido,
passo dias descontinuado e as noites em terra firme.

Não sou do sol, tenho até certa simpatia,
mas não pertenço, não devolvo o amor que ele me dá,
há certa fascinação, sim, certa deferência,
mais até pelos deuses pagãos do que pela função do astro de fato,
e há certo medo também, alguma covardia em mim,
um espanto qualquer, junto de algo como; um magnetismo,
uma coisa que me atrai mas que também me desprende sem nenhum pesar,
sem nenhum sofrimento.

Já as noites tem de mim a versão mais completa,
o sorriso mais sincero,
os olhos mais brilhantes,
porque depois que o sol se põe; devo dizer que sou menos eu,
mas que sou um eu muito mais equilibrado.
Tendo a ter mais vontades, ser tomado de absurdos,
de palavras fortes, de sistemáticas inspirações,
que recheiam com soberba erudição essas longas horas
de meio mundo de costas para o sol,
que dão nome e sabor as felicidades, poesias as meninas,
crônicas aos deuses, odes as cidades, sonetos aos montes,
músicas aos grandes homens.

É da noite a minha versão mais completa,
porque é nela que eu me encontro,
é nela que eu vejo verdade,
é nela que eu encontro liberdade e me desmancho,
é nela que eu me sinto a salvo e me refaço,
é pra ela que eu minto,
pra ela que eu me confesso,
é com ela que eu converso e me explico,
é por ela que quando passo, faço graça,
é dentro dela que eu esqueço qualquer ameaça,
as do futuro, dos dias, dos homens maus,
as das minhas meninas e as da morte de quem eu amo,
as ameaças do tempo, que me tem sido esse inimigo próximo,
um vizinho chato, pouco cordial
e que só faz passar, e passar e passar...

É pela noite, sim,
pelas noites,
enquanto fujo dos dias,
me escondendo de outras vidas,
navegando em solidão,
absorvendo belezas,
desconstruindo paisagens e obras inteiras...
é pelas noites,
só pelas noites,
por elas,
pra elas,
sereníssimas noites.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Te revivo

Repito cenas na minha cabeça,
eu sonho o tempo todo com você,
eu mudo tudo o que eu fiz de errado
e ainda dói tanto saber...

Que fui eu que te deixei partir,
que a culpa foi toda minha
e é só por isso que não te tenho aqui.

Às vezes até acordo chorando,
eu lembro de cada cantinho seu,
e mudo sempre a cor dos teus olhos,
o brilho que era tão especial.

Tenho saudades de te tatear,
de apertar teus ombros,
de te beijar na cama,
e eu morro um pouco disso a cada dia,
eu morro dessa falta que eu sinto, desse frio.

E cada aperto no meu coração,
é um pedaço teu
que dá um suspiro aqui dentro de mim.

Repito cenas na minha cabeça,
eu sonho o tempo todo com você,
eu mudo tudo o que eu fiz de errado,
porque eu já não aguento mais esse viver...

Sem você, o mundo me parece um lugar estranho,
confundo outras meninas da cidade,
eu choro de repente pedalando à noite
e grito que te amo pra ninguém ouvir.

Sem você, eu juro que não tenho intenções,
nem boas nem ruins,
não quero nada com ninguém,
eu sou apenas o vulto do que um dia eu fui,
e quando eu volto a ser alguém... é por você.

É quando eu refaço os passos que nós demos,
recordo as descobertas e até as hesitações,
é quando eu me lembro do teu sorriso,
quando eu me retiro da vida mesquinha,
quando eu te revivo,
quando eu te trago de novo pra mais perto,
mesmo que seja só aqui, dentro de mim.

Teje morta

Meu amor, eu tenho umas verdades para lhe dizer,
e eu tenho tudo em suaves notas
que é pra lhe satisfazer,
eu escrevi de noite, foi numa madrugada,
do dia dois ou três,
já não me lembro bem, só lembro que ninguém
tirava de mim algo que não fosse dor...

E agora eu tenho aqui, tudo para lhe entregar,
a dor na tinta e no papel,
como se eu tivesse feito do amor uma sangria
e tivesse curado a febre que me mataria
amanhã de manhã.

E meu amor, eu espero que haja um contágio,
eu espero que você se mate com a minha dor,
e se não se matar, eu espero que você,
não passe dessa noite,
não passe dessa noite,
não passe dessa noite...

Mas se você passar, eu prometo que faço uma serenata,
eu boto uma gravata pra ir te encontrar,
eu canto pra sua varanda, toco até te cansar,
até te ver sair voando da sacada,
até te ver de cara, de cara na calçada.

Meu amor, eu te odeio,
eu te quero, a sete palmos do chão,

Meu amor, vá pro inferno,
eu te quero, gelada num caixão.

E se você ficar, se no fim não se matar,
eu espero que você não passe dessa noite,
não passe dessa noite,
não passe dessa noite.

Imagem do dia!


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Dia voa

O dia voa lá fora,
o tempo é lento,
é vento que faz barulho na janela,
já é setembro.

Daqui de dentro só noto coisas óbvias,
me foge tudo aquilo que não está bem debaixo do meu nariz,
só percebo mesmo o que me aparece na base da dor,
esse desassossego, esse aperto agudo no peito,
o mal-estar, esse não estar com você.

É um tremendo sofrimento,
sensação sufocante de que te perdendo
eu perdi uma parte importantíssima de mim,
uma grande parte, cheia de sentimentos bons,
de bons olhos para com o mundo,
de boa vida, vida fácil,
do jeito que gostávamos,
dando os jeitos que nós dávamos.

O dia voa lá fora,
o tempo é lento,
é vento que faz barulho na janela,
e ela...

Ela anda por aí dividindo a vida com outro,
perdendo tempo dessa vinda com outro,
sabe-se lá o que eu deveria fazer,
hoje só sei do que eu não fiz,
porque isso é tudo o que eu faço,
desfaço, desando,
desmancho, desato,
eu me despedaço.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Língua nos dentes

Ela deve ter ficado sabendo que eu não presto,
alguém deve ter dito,
alguém deve ter dado com a língua nos dentes.

Não tenho suspeitos,
não ligo,
não penso mais nisso.

Mas é que quando me lembro,
eu fico assim,
me sinto traído.

Ela me trocou por um outro latino,
por um com berço de ouro
e sobrenome bonito.

Ela me trocou por bons motivos,
ficou sabendo que eu não presto,
ficou sabendo que eu sou triste.

E quando eu lembro,
quando são dias assim
que me trazem ela sem aviso...

Eu esperneio por dentro,
sinto raiva e um vazio tremendo,
depois sinto que não presto mesmo...

E que ela fez muito bem
sendo assim tão linda e serena,
tão feita pro amor...
ela merecia um outro alguém,
merecia um salvador.

E quando eu me lembro disso,
sou tomado por um grande alívio,
não faço mais mal nenhum a ela
e posso voltar aos meus vícios.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Imagem do dia!


Turquesa

Me parecia vir toda em turquesa,
com os cabelos cor de abóboras celestes,
me parecia ter saído de um romance,
não fosse um lance assim tão casual.

Ela tinha um sorriso sereníssimo,
tão absurdo e ao mesmo tempo festivo,
ela era uma dama completa,
era uma peça inteira,
um romance pra ler segunda-feira
e deixar a semana doce doce de viver.

Tinha os olhos muito verdes,
dois faróis imperdoáveis,
eram sentimento em cor,
dois autores de destinos,
dois possíveis cruéis assassinos.

Foi num canto meio escuro,
num lugar bastante ingrato
que me entregaram ela nos olhos,
foi num dia bem furado,
eu quase nem saí de casa,
e aí ela estava lá,
e quantas vezes será que não esteve?

Me parecia sair de um filme do Woody Allen,
não entendi, eu quase morri com aquelas cores,
e por acaso acho que se fosse tudo em preto e branco,
eu certamente me apaixonaria também,
porque os olhos falavam
o que boca não disse,
e o sorriso era um fado,
a voz de Amália Rodrigues.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Ninguém morrerá hoje no Leblon

Ninguém morrerá hoje no Leblon,
não poderia,
e se morresse eu não me importaria.

Ninguém morrerá hoje nesse lado da cidade,
bem poderia,
mas se morresse, eu não me importaria.

Se estourasse uma revolução,
se fuzilassem todos os cristãos,
se Heródes de repente fizesse uma nova aparição,
eu poderia me importar,
eu deveria, sim...

Se reeditassem Hiroshima,
se reprisassem Nagasaki,
se houvesse um novo Hitler,
um novo Napoleão Bonaparte,
eu deveria me importar,
eu deveria, eu acho...

Mas ninguém morrerá hoje no Leblon,
não poderia,
e se morresse eu não me importaria.

Ninguém morrerá hoje desse lado da cidade,
bem poderia,
mas se morresse eu provavelmente não me importaria.

Se houvesse um atentado num cinema,
se explodissem o Cesar Park em Ipanema,
se envenenassem a todos,
se pusessem fogo nos morros,
se destruíssem o Rio,
eu deveria me importar,
eu deveria realmente me preocoupar...

Mas ninguém morrerá hoje no Leblon,
não poderia,
e se morresse eu provavelmente não me importaria.

É que ainda não sei onde deixei o coração,
e dá última vez que procurei
ele ainda estava com ela no Leblon,
por isso eu não ligo pro mundo,
nem pra esse mundo logo aqui ao lado...

Porque ninguém morrerá nem tão cedo no Leblon,
muito menos ela,
e está com ela o meu coração.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sinto mundos

Pelas noites deste povoado,
deste lado azulado do Rio,
eu sinto mundos,
sinto muito, muito mesmo,
tanta coisa que não sei dizer.

Esquento o sangue,
tiro o pó da estante,
limpo os olhos,
os óculos.

Ah, como eu sinto,
e sinto tanto,
sinto tudo,
sei de tudo e quase nada.

Vivo mundos esparsos,
lados da moeda que nunca se viram,
me viro, me corto,
me desfaço, desperto,
eu sinto muito,
eu sinto mundos,
mundos que não sei contar,
me faltariam números,
me faltariam dores pra nomear...

Então eu sinto muito,
e quando o muito me falta,
eu sinto mundos,
mundos e mundos de dor.

domingo, 23 de agosto de 2015

Não sou ninguém

Sim, eu não sou ninguém,
não represento nada,
não trago amor o suficiente pra ter luz própria,
nem sou indecente o suficiente pra ser um vampiro.

Eu vivo numa borda,
caminho numa margem,
mergulho de quando em vez num rio de felicidades,
ah, também tenho umas vaidades,
nada grave, nada grave.

Sim, não sou ninguém,
e morro de medo de um lugar ao sol,
sou muito apegado ao meu lugar ao sul,
especialmente ao meu canto na sombra,
meu canto discreto com banquinho e violão.

Eu vivo um verão todo especial,
eu vivo uma versão da vida inteiramente saturnal,
sou bônus track,
versão do diretor,
sem corte, sem censura,
roteiro feito de amor.

Sim, não sou ninguém,
e sou repleto de fraquezas e de dor,
eu sou defeito,
meu ponto forte é ser quem sou.
E eu não sou ninguém,
só trago comigo um indiscreto brilho,
uma inocência no olhar,
trago cigarro,
arrasto sapatos,
eu bebo um pouco demais.

Sim, não sou ninguém,
e nunca fui, se bem me lembro,
se já quis ser, também não sei,
mas quando estive perto, eu tirei tudo de mim,
e tive ela, até mais de uma,
e enquanto tive, fui bem feliz.

Sim, não sou ninguém,
eu sou um erro, vivo como múltiplo de zero,
já não caminho com quem me ama,
nem como quem ainda ama...

E hoje eu só finjo,
só vivo como quem não se incomoda com nada,
como quem não se importa com o que ela pensa,
ah, eu finjo que não me incomodo com ela tão longe,
e mesmo que a ame, que ainda a ame,
eu já não me aflijo com qualquer dispensa,
eu não derramo, não agito os meus mares por essa sentença.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Diminutivos

Te entreguei aos meus diminutivos,
paixãozinha,
uma coisinha,
uma pontinha de amor demais..

E não te sintas mal por isso,
não é nada ruim se quer saber,
te entrego aos meus diminutivos porque não sei ser grande,
sou poeta, sofro muito, sofro mesmo,
eu me desfaço em tristezas de escritor.

E quando acho alguém que me ame,
que me queira um bem verdadeiro,
um bem merecedor de um aumentativo,
de uma coleção de bons adjetivos,
eu me escondo, eu me esquivo,
eu me faço de desentendido,
e por carinho, os meus inhos,
eu dedico...

Me entrego, com amor,
por amorzinho, paixãozinha,
por palavras bem feitinhas,
por vontades indisfarçáveis,
pelo seu corpinho,
o seu rostinho do meu lado,
meu ladinho,
de mãozinhas dadas pelas ruas,
pelos nossos cantinhos...

Ah, como é bom,
como é bom entregar-se assim,
entregar-se a farra dos diminutivos,
sem medinhos,
sem importar-se com essas besteirinhas da vida,
essas coisinhas que nos importunam,
esses manuaiszinhos de conduta
repletos de mandos e desmandos...

Ah, como é bom,
como é boa essa vidinha,
como são bons esses casinhos que passam,
que ficam, que nos fazem sorrir,
e nos fazem abrir o peito pro mundo,
e dar jeito em tudo,
um jeitinho pra amar mais,
pra que o amor seja mais,
mais que amor...

E traga pra bem pertinho,
todos os carinhos,
todos os nossos inhos.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Vão passando

No outono dessa cidade
rasga o vento frio a minha cara.

E as noites, que são tão parvas,
estão repletas da tua falta,
me faltam palavras,
me faltam os dias...

As horas passaram tão rápido,
e os meses voaram por mim,
eu não senti...

Já é quase fim de ano uma outra vez,
já é quase um outro ano sem te ver.

Se bem que esbarrei com você outro dia,
eu fingi que nem vi,
eu quase me escondi,
vivo muito abatido,
estou branco, magro demais.

Ah, e as horas passaram tão rápido
desde que você não voltou quando saiu,
e os dias, os meses, os anos se rebelaram,
passaram correndo, todos através de mim.

Tão rápidos, tão súbitos,
que agora já não sei de nada,
não lembro nem o que faço da vida aqui.

Eu ando entregue aos ventos frios,
e aos lugares onde já fui feliz,
porque no outono dessa cidade
me parece tão difícil não lembrar de você.

E as horas vão passando,
tudo continua passando,
os dias, os meses, os anos.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Se eu fosse

Ela morre de medo de mim,
penso que tem medo do que eu digo,
ela morre de medo de amar,
e eu só sei falar que amo.

Talvez se eu fosse como o mar
e a tratasse como areia,
talvez se eu fosse como o vento,
e a dobrasse como as palmeiras.

Eu teria como evitar,
teria um jeito de insistir,
eu poderia enfim, enganar.
mas ela não entenderia,
não saberia como me amar.

Prefere estar distante,
nas suas vestes escarlates,
prefere estar bem longe,
flutuando em qualquer outro lugar,
pisando em corações,
abstraindo dilemas,
ignorando um mundo todo
descumprindo qualquer das sentenças.

Ela é do sol, é linda,
e vive um complexo de Ícaro,
eu me sinto vivo e lindo,
encaro meu reflexo feito Narciso.

Talvez se eu fosse como a chuva
e a tratasse como qualquer chão,
talvez se eu não fosse uma criança
e ela o barulho de um trovão.

Eu teria como evitar,
teria um jeito de mentir,
eu poderia enfim amar,
e ela entenderia...
ela me amaria como sempre quis.

Talvez se eu fosse como o mar,
talvez se eu fosse como a chuva,
talvez se eu fosse como o vento,
talvez se eu fosse um pouco mais intenso...

Eu teria como evitar,
teria um jeito de mentir,
eu poderia enfim amar,
e ela entenderia.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Eu não sei

Elas despejam os seus corpos nas areias,
surrupiam o amor mesmo do mais corriqueiro olhar,
elas caçam, se alimentam, se hidratam dessas paixões,
ah, e como são cruéis, elas são medusas,
são vilãs, por estúpida coincidência,
por descuido ou vocação,
elas são...

E despejam os seus corpos pelas noites,
entre as baforadas dos cigarros
e os lugares da cidade com vampiros pelas ruas,
elas passam, se misturam,
elas não pedem desculpa,
ah, como são cruéis, elas são quase putas,
são delícias, são meninas encantadoras,
e por uma súbita vontade, por milagre,
por qualquer coisa que dá no coração,
elas são...

E não ficam muito tempo sem fazer,
elas fazem, como fazem,
como gostam de fazer,
todos gostam,
todos querem,
e elas fazem tão bem,
ah, como fazem.

Elas despejam seus talentos na cidade,
vão distribuindo olhares,
vão abrindo os apetites,
elas são tão firmes,
desfilam seus corpinhos sempre herméticos,
elas são um tapa na cara
dos homens sinceros e dos céticos...

E despejam os seus corpos nas areias,
seminuas e a vontade,
deixando a vontade por onde passam,
largando passos descobertos,
repletos de liberdade.

E quando esquecem dos olhos perdidos que usam pra fazer tipo,
quando olham de fato,
quando fitam o mundo com os faróis esverdeados,
elas são o perigo, a personificação do mal,
perversas, doentes, bandidas,
mas de um amor celestial.

Elas despejam os seus corpinhos pelas areias,
vão colhendo os olhares de sempre,
escravizando, seduzindo,
e fazem rindo,
achando lindo o sol, o sal, o mar,
elas fazem e fazem muito,
fazem bem e nem percebem,
e o que elas são?

Eu não sei.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Medo de morrer

Tenho medo do mar a noite,
tenho medo do mar,
medo da noite,
medo...

Tenho medo de te perder,
tenho medo de você,
de perder você,
medo...

Tenho medo de ter câncer,
tenho medo de ter,
medo de morrer,
medo...

Tenho medo do sol de meio dia,
tenho medo do dia,
do sol,
medo...

Morro de medo de morrer de amores,
tenho medo de morrer,
medo de amores,
medo...

Morro de medo de morrer,
de não morrer de amor,
tenho medo,
medo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Blue monde

Seus olhos azuis me enrascam
de tal maneira
que não há sexta-feira
que me tire desse escuro...

São os seus blues,
e o jeito de me encontrar sozinho,
de me deixar perdido,
largado na sarjeta...

É seu full blue,
seu blue monde,
que me consome cada pingo de liberdade,
cada pingo de amor que eu sonego,
cada parte de mim que te ama,
que te adora, te devassa em mente,
te descobre, te sente...

É tudo culpa do seu blue monde,
desse fronte que eu batalho,
dos azuis que me esmigalham,
são os seus faróis mais que sinceros,
e os meus berros nos dias
em que não aguento,
dias em que eu me desespero
pra ter só um pouco de você...

Você é meu suplício,
é minha pena mais que divina,
meu milagre,
mais que amada, deusa...
traz minha alma entrelaçada,
e a cada despedida,
me leva da vida,
me leva da vida...

E é tudo culpa do seu blue monde,
dos seus olhos,
da mania,
desse vício escancarado de ser feliz.

É tudo culpa do seu full blue,
do seu blue monde,
dos seus blues,
do seu blue.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Valsa do choro

Você devia ver como ela chora,
porque ela chora bem,
bem como dizia o místico,
bem como é importante em todo amor que se dá,
todo amor que se preze,
todo amor que não vai terminar.

E quando ela chora o mundo reage tão bem,
quando ela chora eu me desfaço,
me encontro de repente um outro alguém.

Porque quando ela chora o mundo reage tão bem,
quando ela chora eu me estilhaço
e me refaço inteirinho, me visto todinho de amor.

Que é pra não vê-la sofrer,
embora ela sofra tão bem,
embora ela chore tão bonito assim.

E é aí que mora o amor, o meu,
não é mesmo na satisfação,
passa longe da felicidade,
o amor não dói por vaidade,
o amor é mistério,
é destino, é penar,
o amor que é leve,
também pode pesar.

Mas quando ela chora,
o mundo se confunde todo pra mim,
e eu não sei mais dizer
o que é bom ou ruim.

Porque ela chora tão bem,
bem como um grande amor chora,
ela chora tão bonito,
que nem parece sofrido chorar.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O lugar mais frio

Da janela vê-se o corcovado
e uma lua tua como eu sempre procurei,
dos meus olhos saem mares,
choro porque choras,
porque prefiro pensar que choras também.

Vê-se o Rio muito bem aqui de cima,
e há tanta mágoa junto a mim
que eu mal vejo o sol sair,
mesmo nesses dias de calor, de verão,
mesmo nesses meses que não existem estações.

Meu peito é o lugar mais frio do Rio,
e eu ainda insisto em sofrer por você,
em perdurar esse amor machucado que você tem pra me dar,
pra infligir a minha alma.

Meu peito é o lugar mais frio do Rio,
é o lugar mais frio onde é possível sentir dor,
o lugar mais frio do lado de cá da linha do equador.

Da janela vê-se o corcovado,
vê-se o mar e um horizonte plano,
é fácil sentir a brisa, a maresia,
e há ainda um cinzeirinho de cobre pra compôr a vista...

Vê-se bem a tristeza do mundo aqui de cima,
desse mundo cansado e repleto de desilusão,
mundo estranho, estancado de nós.

Meu peito é o lugar mais frio do Rio,
e eu ainda insisto, eu ainda insisto,
eu ainda sonho com o seu amor mal cuidado,
com o seu olhar esvaziado,
e com o brilho, o brilho,
o brilho...

Do dia que há lá fora,
da vida que há lá fora,
do mundo triste e cansado,
do rio quente ou frio,
do cristo, do corcovado...

E do seu, do seu.

domingo, 26 de julho de 2015

Imagem do dia!


Cafoninha toda vida

Já tem muito tempo
que me pego lembrando você,
aquilo tudo que foi nosso,
o nosso amor de se perder...

De quando o Joá era novidade,
e a gente se encontrava sem querer
de manhã no parque lage.

Já tem tantas voltas nos ponteiros,
já dei fim em vários calendários,
e tudo que tenho aqui comigo
ainda tem muito dos nosso passos...

Tem muito tempo que venho juntando
coragem pra te dar um sinal de vida,
quem sabe mostrar qualquer coisa
das tantas que fiz pra você...

Mas sempre que te vejo por aí
feliz, tão resolvida,
eu morro de vergonha
desses versos que são cafoninhas toda vida.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Não sou ninguém

Já não sou o mesmo
desde que você resolveu ir,
eu não consigo ver beleza
e nem criar do jeito que sempre fiz,
já não aguento mais Vinicius de Moraes,
não consigo parar pra ouvir as canções do amor demais.

Estou apegado ao escuro
que é tão afável a minha falta de luz,
eu já não consigo te ver
quando fecho os meus olhos,
e eu mal acredito que não posso.

As sombras conversam comigo
e agora eu respondo,
eu me lamento aqui, estou entregue,
já não sei o que deve ser daqui pra frente...
esse abandono não me pertence.

Me encontro enterrado em versos sobre a morte,
palavras do Místico,
Baudelaire e de Schmidt,
eu não aguento ouvir canções que não sejam blue's,
eu só consigo ouvir os tangos,
os fados que não possuem luz.

Me encontro agora num baixo sem igual,
fazem dias que vivo rente ao chão,
fazem dias que eu fico aqui, estático,
e sofro feito um cão.

Estou apegado ao escuro
que é o que mais se aproxima do que se tornou o meu coração,
eu já não consigo te ver de jeito nenhum,
e eu mal acredito que não posso,
que não vou mais ter você.

As sombras conversam comigo
e eu não me esquivo mais,
não faz sentido, eu alucino,
não consigo te ver com outro rapaz...

Me encontro enterrado em restos de nós,
nos planos secretos,
nos toques, nos choques,
na vontade de nunca estarmos sós.

E eu já não sou mais o mesmo
desde que você resolveu sumir,
eu não consigo ver beleza
e nem criar como sempre fiz...

Porque eu já não sou o mesmo
e acho que você também,
eu já não sou o mesmo,
sem você, não sou ninguém.

Imagem do dia!


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Canibais

O nosso tempo não nos permite legítimo amor,
não ligamos pras rosas,
não temos a Barra,
já não vivemos sem computador...

Perdemos a inocência nos setenta
e as rédeas nos oitenta,
com charrete e condutor,
estamos tão perdidos nessa história
que eu já nem sei se existe mesmo o amor.

Não há polaróides como antes pra sorrir,
e nem há novos discos de Caymmi e Tom Jobim,
não se carregam livros nas mudanças, isso ficou pra trás,
e eles não voam nos arroubos violentos dos casais,
ninguém liga pra poesia mais.

Já não deixamos a vida nos levar
e não assistimos corrida de submarinos na beira do mar,
não há mesmo esperança, nem o bar,
foi-se o tempo da sarjeta
e até o Carvana já foi descansar.

Talvez por isso eu já não te ame mais,
e eu nem sei mesmo se amo meus amigos,
e os meus pais.

Eu juro por tudo quanto é sagrado,
eu ando perdido, desesperado,
porque não entendo,
eu não sei o que aconteceu,
não sei como não percebi,
mas parece que até o amor morreu.

Nós não somos hippies ou punks,
não temos um bom discurso,
vivemos sufocados,
somos cegos, surdos, mudos.

Nós não temos nenhuma boa desculpa,
não somos filhos da puta,
nós tivemos sempre muito carinho e amor.

Nós não somos a geração dourada,
não sonhamos com o hawaii,
e nem teremos a sorte de viver
como os nossos pais...

Não queremos uma surfshop
que só abre ao meio dia,
não queremos nada,
não pensamos em família.

Nós não vamos a igreja,
não almoçamos à mesa,
somos todos solitários e carentes,
somos gente, gente que quer comer gente,
somos uma geração de canibais.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O trabalho que me dá

Se todos dizem que eu não faço nada,
quem sou eu pra contrariar,
já que eu não tenho carteira assinada
e durmo sempre quando o sol começa a brilhar.

Talvez eles tenham razão,
talvez eles saibam mesmo do que dizem,
sobre eu ser assim desocupado,
sobre eu viver de pernas pro alto,
e não ligar, não me importar,
não estar nem aí pra nada,
não levar uma vida regrada...

Mas é que ninguém sabe
o trabalho que me dá,
só falam tanto porque não sabem
o trabalho que me dá,
amar assim,
gostar tanto assim...

Eles não sabem, eles nunca vão entender,
e aposto que só falam tanto
porque não sabem
o trabalho que me dá
amar tanto assim,
gostar tanto assim de você.

Imagem do dia!


terça-feira, 7 de julho de 2015

Por pouco

Se hoje eu finjo que não ligo,
é porque penso em você
pelo menos todo domingo.

Aliás, quase sempre eu quase te ligo,
só não ligo porque me mataria de frio
ouvir tua voz indiferente,
eu me sentiria um indigente.

E se hoje eu finjo que não ligo,
é porque me saio bem assim,
é meu close, meu plano americano, meu momento,
me saio bem assim, saindo,
meio à francesa, meio doente,
meio sangrando, meio sofrido,
me saio bem assim fingindo que não ligo.

Já é questão de saúde,
envolve o meu bem estar,
porque se eu lembro de você, por distração,
meu mundo cai, quase me corto,
quase me jogo desse quase vigésimo andar...

E se eu lembro que foi por pouco,
se me lembro que foi quase,
ah, quase não fico no quase,
eu quase me mato de verdade.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

4:44

Bem perto de quatro e quarenta e quatro
ela me ligou...

E disse que não era nada,
que era só a chuva e a madrugada,
que precisava falar,
morria de saudades do Esplanada.

Me jurou que estava bem
e que de triste não tinha mais nada,
que sabia que eu ia atender,
porque aquela era a nossa hora marcada.

Às quatro e quarenta e quatro
como se nada tivesse acontecido,
como se do nada eu pudesse a ver dormindo,
como se o mundo soubesse que nada é mais lindo,
e que a gente se merece,
que a gente só não cede por medo de amar demais,
é só o medo de amar demais.

Bem perto de quatro e quarenta e quatro
eu liguei pra ela...

E disse que não era nada,
que era a bebida, era a cachaça,
e que precisava falar,
morria de saudades até das pirraças.

Ainda jurei que estava bem
e que de triste eu só tinha a cara,
que sabia que ela ia entender,
porque essa era a nossa hora marcada.

Às quatro e quarenta e quatro
como se nada fosse mais importante,
como se do nada do meu peito arfante
só saissem verdades...

Como se o mundo soubesse
que nada é mais lindo do que ela,
que nada é mais lindo do que a gente junto,
e que a gente morre de medo
só do que a gente sente muito...

E a gente nega o que a gente sente,
porque a gente sente tanto,
que a gente morre de medo
do que a gente sente,
de tudo que a gente sente assim, tanto.

Imagem do dia!


segunda-feira, 29 de junho de 2015

Não tenho sono e não amo

Assim como não tenho sono a noite,
ainda não tenho amor em mim
pra lhe entregar...

Me sinto tão doente,
dói tanto me sentir assim,
me encontrar assim tão incapaz.

Eu juro, eu tento,
às vezes até penso que amo muito,
mas a verdade é que não amo nada,
quase nada, vivo num escuro estelar.

Ah, você não compreenderia,
não você que vive desfilando
com esses olhos luzidos,
você que me afronta o tempo inteiro
com essa aura radiante,
esse viver e dançar imaculado,
essa beleza sobrenatural.

Não, você não entenderia,
não entenderia essa falta de tudo,
esse peito inabitável,
esse deserto cruel que queima e congela,
a garganta incontrolável quando o desgosto a fecha,
o ódio quando corre ardido pelas veias,
essa dor, essa pontada,
você não entenderia nada,
nada disso.

Às vezes só quero botar fogo em tudo,
só penso em dar o fora do mundo,
dar no pé, sumir do mapa,
desaparecer, me mandar em fuga alucinada,
suicídio, sumicídio...

Pra escapar dessa dor,
pra fugir desse todo sem cor,
do Rio de janeiro,
do eterno fevereiro,
dessa obrigação delirante de ser feliz...

Não sou,
não posso,
e você não entenderia.

Eu não te amo,
nunca te amei,
nem com sol,
nem com chuva,
mas até que tentei...

Só não posso, não sei,
mas eu juro,
eu juro que tentei.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

É você

O reflexo da água na parede,
as manchas de sol na pele,
tudo que é triste,
tudo que é leve,
o todo,
o tudo,
o nada...

Eu sinto falta,
do que me falta,
do que eu tinha e deixei escapar.

O que me faz lembrar que você é o mundo,
é o que tem pra ver,
é o que eu tenho pra tocar,
é o que eu ouço,
o que eu penso,
o que me faz o olho brilhar.

Por isso eu sinto falta,
do que me falta,
porque o que me falta é o mundo,
é o todo,
o tudo,
o nada...

É você.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Imagem do dia!


Vagueando

Seus olhos verdes cheios são um contra-senso,
me indignam, me enchem todo de uma solidão
que eu já não entendo...

Seus olhos quando me tiram alguma coisa,
qualquer coisa, tiram dor,
mas ainda assim, tiram-me do escuro.

Eu vivo mentiras longe de você,
me engano, me entristeço
longe dos seus pequenos desastres,
e se parece que ainda vivo o tempo todo,
é que eu minto sobre viver,
eu quase não vivo,
eu quase sempre minto pra te esquecer.

Ando vagueando, deserto,
meu peito é inabitável,
sou um ser imperdoável,
eu não sou, não sou...

E sigo assim despovoado,
de corpo, de alma,
eu passo chorado,
de amor derramado...

Ando vagueando, fingido,
de peito desfeito,
eu sigo torcido,
um ser tão sofrido,
eu não sou, não sou...

Ninguém.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Mapa do tesouro

Compre meu caradurismo,
vista-se dessas areias,
dance a dança dos coqueiros,
morra nesse mar de amor,
navegue o dissabor,
saboreie o horror dessa viagem
que parece ainda não ter destino...

Voe nesse sudoeste laçante,
cruze o vento leste, distinto,
siga para o sul,
desça até onde der,
embrenhe-se no azul,
dois passos a direita,
um salto, um riso claro,
cruze o Rio raso,
passe por um baixo,
escolha um novo amor sempre aos domingos.

Suma nessas pedras,
viva de verdade nessas terras,
seja o azinhavre que polúi a terra,
seja sua doença,
negue seu poder, seu ódio,
vingue-se quando puder,
chore por qualquer besteira,
escolha uma receita
e colha frutas cítricas no pé pra se curar.

Pule numa perna só,
faça uma careta pra lua,
grite seu amor pedalando no meio da rua,
chore e deixe o vento levar o teu sal,
não enxugue suas lágrimas,
pegue o mapa pra errar o caminho,
não acerte, siga sozinho.

Faça tudo e encontre o X da questão,
cave a dois pés da marcação,
cave até sentir muita dor,
cave até que esteja cansado do amor...

E aproveite que os portões da Hípica afundam,
marque um novo X,
enterre o coração ali.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Vivo fora

Deixo tudo que eu sinto do lado de fora,
não é hora, não é tempo de sofrer,
deixo tudo que eu sinto
porque é mais do que posso carregar agora,
deixo o rancor, a raiva,
o ciúme doentio que me causa essa pausa de nós.

Sinto muito,
muito mesmo.

Eu sinto, você sabe,
sinto o que devo
e o que não devo.

Sinto falta,
mágoa,
angústia,
essa pontada.

Sinto uma tristeza,
uma dor esquisita,
mal estar,
uma coisa ruim
que parece que vive em mim enclausurada.

Por isso deixo passar,
deixo do lado de fora,
onde não possa ver
e nem pense em tomar pra mim de novo.

Deixo pra trás,
não absorvo,
escuto tua voz,
eu procuro você,
mas não abro meu olho.

Eu fujo da tua presença,
me esquivo pra não ver o teu amor
derramado num outro qualquer,
me mato,
me acabo,
me arrasto,
eu me desfaço,
me despedaço pra não ter nada de você em mim.

Por isso eu deixo tudo do lado de fora,
mas o problema é que agora
parece que eu vivo aqui fora.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Nós

Se eu fosse uma nota,
depois de você,
depois de quando você passou...

Eu não seria dó,
eu não seria uma nota...
eu seria nó.

Um não, eu seria nós,
mas não nós de nós dois,
eu seria um conjunto de nós,
ainda que talvez pensasse como nós,
eu não seria nós,
seria nós.

O nó da garganta,
o nó da vida,
o nó da sua falta,
um nó no peito.

Eu seria nós,
ainda que não houvesse mais nós,
eu seria, só,
seria.